Os tempos pós-modernos em que estamos vivendo nos desafiam, mais do que nunca, a exercer a liderança não só em nosso ambiente de trabalho, mas também em nossas casas, sob pena de entregarmos nossas famílias ao mundo.

O mundo de hoje carece de liderança em todos os lugares. Parece que não existe mais um adulto na sala, que seja capaz de controlar a bagunça que passa dos limites e fazer a poeira baixar, colocando todas as crianças mais exageradas a pensarem na vida, sentadinhas no degrau da escada. Esse é o retrato do mundo.

Mas, daí você pode me perguntar: como exercer a liderança em casa?

E essa pergunta é essencialmente mais desafiadora quando já perdemos as rédeas de nossos filhos para a adolescência e seu turbilhão de hormônios, inflamados pelo excesso de informações que chegam a eles pelas telas dos smartphones.

Já se foi o tempo (há décadas) em que os desenhos que passavam na televisão eram suficientemente seguros, a ponto de não serem capazes de transformar o imaginário das crianças, colocando em suas cabecinhas ideias capazes de destruir suas próprias vidas.

Por onde começar?

Eu gosto muito quando o Pe. Rodrigo Hurtado, LC, em suas homilias ou cursos, nos recorda que Deus não pode ser nosso último recurso, mas deve ser nosso primeiro movimento quando as coisas estão fora dos eixos.

Deus está disposto a nos ouvir a todo momento e Ele tem a resposta para tudo o que nos incomoda desde o primeiro instante. Ele sabe tudo e pode tudo. Mas nós insistimos em recorrer a Deus depois de termos batido a cabeça como um besouro em torno de uma lâmpada acesa.

Portanto, por mais óbvio que seja, a liderança na família se dá justamente na oração.

A liderança espiritual não é fácil

Por mais que ao longo dos séculos tenhamos escutado que o pai é o líder espiritual de sua casa, as queixas mais comuns que escuto entre meus amigos é que exercer, na prática, essa liderança, é bem mais difícil do que se imagina. São muitos os obstáculos que nos impedem de assumir o púlpito de nossa casa, principalmente aquele respeito humano, aquela vergonha que advém, talvez, de um pensamento errôneo de que a religiosidade é coisa da mulher.

Certa vez, um sacerdote, com uma lucidez digna dos santos, aos seus mais de 95 anos de idade, me ensinou que a espiritualidade na família é transmitida pelos pais da seguinte forma: é com a mãe que a criança aprende a postura de piedade, de oração, mas é com o pai que ela recebe o conhecimento das verdades da fé. Portanto, podemos perceber que a presença de ambos os pais é fundamental para um crescimento espiritual sadio da criança.

A liderança em casa requer vulnerabilidade

Aqui eu me volto aos pais, aos homens da casa, especialmente. Muitas vezes, nós somos aqueles que cuidamos de todos os aspectos práticos da vida de fé da casa, como o transporte até à Missa, ajudamos em tarefas de caridade ou apostolados da Paróquia ou do nosso Movimento, enquanto deixamos a missão de colocar os filhos para rezar para as mulheres.

No entanto, a oração é para aqueles que dependem de Deus. E quando nos colocamos a rezar diante de nossos filhos, mostramos a eles essa dependência, nossa vulnerabilidade diante das circunstâncias da vida que fogem ao nosso controle.

Nesse ponto, posso trazer um testemunho muito feliz. Talvez eu tenha conseguido sobreviver às tentações da juventude e tenha chegado à vida adulta, como marido e pai de família, porque eu via meu saudoso pai, todas as manhãs, em franco diálogo com Deus, com a Bíblia na mão, meditando. E todas as noites, era ela quem nos colocava para rezar o terço. Minha mãe, por sua vez, era quem dava o coração a todos esses momentos.

Meu pai era um homem forte e liderava uma equipe imensa de pessoas em seu trabalho como funcionário público, mas pelas manhãs, eu percebia intuitivamente que havia Alguém mais forte que ele, com quem ele dialogava e que era certamente seu amigo. E, nos terços, eu o via pedir por nós, como se as forças dele fossem infinitamente menores que as de Deus. Essa foi minha escola.

Conduzir a família à oração: liderança fundamental

Mais do que um ato de liderança fundamental, eu diria que é uma responsabilidade inerente à paternidade a liderança espiritual da família. E uma das primeiras coisas que um bom líder faz é criar uma agenda, estabelecer uma estratégia, passo a passo.

Portanto, uma dica muito prática para os pais é estabelecer um horário para a oração em família, se possível, todos os dias. Para nós, aqui em casa, funciona melhor no amanhecer, nos preparativos para levar nossas filhas para a escola.

Outra dica prática – e essa vale para aqueles, como eu, que ainda têm uma certa vergonha em conduzir a oração – é utilizar orações prontas, no início. Existem muitos breviários e manuais de orações que trazem oferecimentos do dia, orações para antes das refeições e orações da noite.

Estabeleça seus horários e escolha quais orações cabem nesse momento. Na loja do Instituto Católico de Liderança, por exemplo, tem um Manual de Orações pequenino mas bem prático para nos ajudar com essa tarefa. Deixo aqui o link para a loja.

Para colher é preciso plantar

Por fim, se ao olhar para sua família hoje você perceber que o que escrevi acima parece quase impossível de acontecer, lembre-se: só colhemos aquilo que plantamos. Essa é uma lei da natureza e também é uma lei no mundo espiritual.

Experimente semear a presença de Deus em sua casa para, pouco a pouco, colher os frutos que Ele mesmo se encarregará de fazer brotar em sua família.

Se você for fiel ao plano que traçou, sua família, dia após dia, começará a mudar e seu lugar no lar se tornará mais claro, não por estar fazendo algo certo, mas porque Deus é o principal responsável por ordenar as coisas em nossa vida.