No evangelho deste domingo, Jesus nos deixa uma grande lição. No evangelho anterior, vimos que um dos grandes desafios do cristão é aprender a pensar como Jesus. Mas, no texto deste domingo, Jesus nos lança outro de seus paradoxos preciosos: aquele que quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos (Mc 9, 35). E termina do evangelho nos chamando a ser como criança.

Como entender essa frase de Jesus, portanto? É isso que o Pe. Rodrigo Hurtado, LC nos ajuda a compreender em sua homilia deste domingo.

Jesus não é contra o crescimento e podemos perceber isso justamente em sua frase: “aquele que quiser ser o primeiro”, a diferença é que os critérios do céu são diferentes dos critérios do mundo.

Se você quiser ser o primeiro no Reino dos Céus, portanto, deve agir ao contrário da maneira de pensar do mundo. E ele usa como modelo uma criança.

Na época de Jesus, as crianças não eram levadas em consideração pela sociedade, diferentemente de hoje, em que parece que os filhos até mandam nos pais. Mas é no meio daquele pensamento que Jesus coloca a criança como o modelo para quem quiser ser o primeiro entre os homens.

Esse episódio em que Jesus usa a criança como modelo foi algo tão marcante para os discípulos que ele consta nos três evangelhos sinóticos. Podemos ver, por exemplo, no evangelho de Mateus, que diz o seguinte:

“Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mt 18, 3).

Portanto, a pergunta que se segue ao nos depararmos com esses versículos é justamente a seguinte: o que significa ser como crianças?

Obviamente Jesus não está nos mandando imitar as crianças em sua imaturidade, em suas birras, no desconhecimento e na ignorância de uma criança, mas existem coisas boas de criança que quando nos tornamos adultos, nós perdemos. 

Característica que perdemos quando nos tornamos adultos

1. Começamos a nos dar crédito pelas coisas que Deus fez por nós

Nós atribuímos a nós mesmos os frutos e os méritos das coisas que Deus faz por nós, através de nós. Esquecemos que Deus está atuando através de nós. Nesse sentido, a criança não tem muitas pretensões e sabe que muitas vezes precisa dos adultos para lhe ajudar.

Muitas vezes dizemos que construímos as coisas com nossas mãos, mas quem nos deu as mãos, senão Deus.

O que tens que não tenhas recebido? E, se o recebeste, então qual o motivo do teu orgulho, como se não o tivesses ganho?” (1 Coríntios 4, 7)

A ingratidão, que surge daí, é um pecado terrível. Essa foi a razão pela qual o demônio se perdeu. A ingratidão também é a raiz do ateísmo. O universo é testemunho do desenho divino, da perfeição e da beleza de Deus.

2. Deixamos de pedir ajuda a Deus

Nós acreditamos que dependemos unicamente de nossas forças e de nossa inteligência. 

Pedi, e vos será concedido; buscai, e encontrareis; batei, e a porta será aberta para vós.” (Mateus 7, 7) 

Nesse sentido, algumas pessoas acreditam que não podem pedir coisas pequenas a Deus, mas para Deus tudo é pequeno, até aquilo que para nós é imenso. Mas Deus nos ama e isso torna cada pedido especial para Ele. 

Se vós, apesar de serdes maus, sabeis dar o que é bom aos vossos filhos, quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem!” (Lucas 11, 13)

3. Deixamos de confiar em Deus nos momentos de necessidade

Quando nós, adultos, temos um problema, tentamos solucionar por nós mesmos. As crianças, por sua vez, correm e pedem ajuda a seus pais. 

Deus deve ser nossa primeira reação e não nosso último refúgio. Não podemos deixar Deus por último, mas temos que aprender a contar com Ele desde o primeiro momento.

Gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança, e a perseverança […] produz a esperança” (Romanos 5, 3)

Deus transforma todas as coisas, inclusive as ruins, em oportunidades de crescer.

4. Tornamo-nos mais pessimistas em relação ao futuro

Nós, adultos, já chegamos a pensar que Murphy era um otimista em relação à nossa realidade. A verdade é que nós, cristãos, não trabalhamos com “pensamento positivo”, nós temos “esperança”, é diferente.

Uma criança é cheia de esperança e confiança no futuro. Vejamos uma criança esperando seu presente de Natal. Sua expectativa é como ele será surpreendido. Deus que nos permite confiar e olhar o futuro com esperança.

Eles (os inimigos) me fariam desesperar, não fora minha fé perseverante de que viverei para ver a bondade do Senhor.” (Salmo 27, 13)

O motivo de olhar o futuro com otimismo e esperança é a bondade de Deus.

Conclusão

Ser o primeiro no ranking do céu significa depender totalmente de Deus. Como diz o Salmo 131: “Senhor, o meu coração não é soberbo, nem os meus olhos são altivos;  […] tenho feito acalmar e sossegar a minha alma; qual criança desmamada sobre o seio de sua mãe […] Espera, ó Israel, no Senhor, desde agora e para sempre.


Assista à homilia do Pe. Rodrigo Hurtado LC, na íntegra, através de seu canal de YouTube, ou tenha acesso a um conteúdo de Estudo Bíblico da liturgia dominical do ano todo com o curso Conhecer e Viver a Bíblia, que está em nossa loja aqui no site.