
A Bíblia como bússola de discernimento para líderes católicos
Setembro é tradicionalmente celebrado pela Igreja no Brasil como o Mês da Bíblia, uma oportunidade privilegiada para redescobrir a centralidade da Palavra de Deus na vida dos cristãos. Em um mundo cada vez mais acelerado, cheio de pressões, dilemas éticos e decisões complexas, a Sagrada Escritura se apresenta como luz para o caminho, como nos recorda o Salmo: “Vossa palavra é lâmpada para meus pés, e luz para o meu caminho” (Sl 119,105).
Mais do que uma coletânea de livros antigos, a Bíblia é viva e atual. Ela não apenas inspira, mas orienta a vida concreta, ajudando homens e mulheres a discernirem os passos a seguir. Isso é ainda mais urgente para quem exerce papéis de liderança: pais de família, profissionais, empreendedores, religiosos e sacerdotes que precisam tomar decisões que afetam outras pessoas.
O que é discernimento cristão?
No vocabulário cristão, discernir não significa simplesmente escolher entre opções, mas buscar e reconhecer a vontade de Deus em cada circunstância da vida. É um exercício espiritual que exige oração, escuta atenta e liberdade interior.
O discernimento nasce do encontro com a Palavra. Como lembra São Paulo, “a fé vem da pregação, e a pregação se faz pela palavra de Cristo” (Rm 10,17). É na Bíblia que encontramos os critérios seguros que não passam, porque revelam quem é Deus, como Ele age na história e o que espera de nós.
A Bíblia como escola de discernimento
A Sagrada Escritura está repleta de episódios que mostram homens e mulheres discernindo a partir da escuta da voz divina.
- Moisés (Ex 3) descobriu sua missão diante da sarça ardente, não apoiado em sua autossuficiência, mas na confiança de que Deus o conduziria.
- Salomão (1Rs 3) pediu não riqueza nem poder, mas “um coração que saiba discernir entre o bem e o mal” — mostrando que o verdadeiro discernimento é dom do Espírito Santo.
- Os Apóstolos, ao escolher Matias para ocupar o lugar de Judas (At 1,15-26), recorreram à oração e à escuta da Palavra, revelando que as grandes decisões da Igreja nascem do diálogo com Deus.
Esses exemplos mostram que a Bíblia não é apenas memória, mas escola viva de discernimento.
A Palavra ilumina as decisões concretas
Muitas vezes buscamos na Bíblia uma resposta direta para problemas específicos. Mas a Sagrada Escritura não funciona como um manual de instruções: ela oferece princípios e critérios que moldam nosso olhar diante da vida.
- Sobre justiça: “Praticar a justiça é mais aceitável ao Senhor que o sacrifício” (Pr 21,3).
- Sobre liderança: “Quem quiser ser o primeiro, seja o servo de todos” (Mc 9,35).
- Diante do medo e das crises: “Não temas, pois estou contigo; não te assombres, pois eu sou o teu Deus” (Is 41,10).
Esses princípios não oferecem atalhos, mas ajudam o líder cristão a tomar decisões que estão em sintonia com a vontade de Deus, mesmo em situações complexas.
O líder que escuta a Palavra
A liderança cristã não se sustenta apenas em carisma, técnicas de gestão ou estratégias humanas. O verdadeiro líder é aquele que escuta a voz de Deus e se deixa moldar pela Palavra.
É a Bíblia que forma o coração paciente, prudente, corajoso e humilde, qualidades essenciais para liderar. Sem esse alicerce, a liderança corre o risco de se tornar puramente pragmática, guiada apenas por interesses ou pela pressão das circunstâncias.
Um líder que se nutre diariamente da Palavra aprende a olhar o mundo com os olhos de Cristo e a servir como Ele serviu.
Conclusão
O discernimento autêntico não nasce do improviso, mas da fidelidade ao diálogo com Deus por meio da Escritura. A Bíblia é bússola segura porque aponta sempre para Cristo, o verdadeiro Pastor e modelo de todo líder.
Neste próximo Mês da Bíblia, fica o convite: dedicar tempo à Leitura Orante da Palavra (Lectio Divina). Ao abrir espaço para que Deus fale, cada decisão se torna mais clara, mais justa e mais iluminada. Afinal, só quem caminha à luz da Palavra é capaz de conduzir outros com segurança no caminho da vida.
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