Cristo veio para nos libertar
Em sua homilia do terceiro domingo da Páscoa, Pe. Rodrigo Hurtado, LC, nos recorda das consequências que a ressurreição de Jesus trouxe para nossa vida e relembra que Ele veio para libertar o ser humano de suas prisões.
Em sua reflexão, Pe. Rodrigo menciona três tipos de prisões que nos prendem e das quais somos libertados por Cristo.
O cenário apresentado nesse trecho do Evangelho de Lucas é dos apóstolos reunidos em um local fechado; acabavam de chegar os discípulos que tinham ido a Emaús e contaram tudo o que acontecera com eles no caminho e, então, Jesus aparece para todos.
Pe. Rodrigo destaca que, apesar de Jesus ter aparecido, ter mostrado suas mãos, seus pés, as feridas, ter até mesmo se alimentado com eles, comenta o Evangelista Lucas que «eles não podiam acreditar, porque estavam muito alegres e surpresos».
Nós, na tradição católica ocidental, vemos a ressurreição, especialmente na arte, com Jesus saindo do túmulo, com os soldados caídos no chão, focando mais no triunfo material da ressurreição de Cristo, mas na arte ortodoxa, nos ícones que representam a ressurreição, Jesus está derrubando as portas do inferno, pegando pelas mãos Adão e Eva, focando no triunfo espiritual da ressurreição.
«As consequências da ressurreição não são apenas materiais, são, sobretudo, espirituais e os apóstolos, que vemos nesse trecho do Evangelho de hoje, querem assimilar, compreender o que significa isso», explica Pe. Rodrigo.
Essa visão dos ortodoxos, de Jesus libertando Adão e Eva da prisão do inferno, era, em certo sentido o que o próprio Jesus tinha falado quando foi à sinagoga de Nazaré. Padre Rodrigo relembra que Ele dizia que tinha vindo para «pregar a liberdade aos cativos, restaurar a vista aos cegos, por em liberdade os oprimidos e anunciar um ano de graça do Senhor». Ou seja, ele vem para derrubar as portas das prisões.
«Existem muitas prisões em nossa vida», explica o sacerdote. «Nós precisamos muito de ser libertados dessas prisões. Era isso que os discípulos estavam tentando entender».
«Sair da prisão não é fácil. Mas, de que prisão está falando?», pergunta Pe. Rodrigo. «Existem muitas prisões. Por exemplo, às vezes, um relacionamento pode ser uma prisão. Eu não consigo, por falta de humildade, pelo que seja, reconhecer meus erros, restaurar o relacionamento, mas também não consigo sair. Então, o relacionamento se converte em uma prisão». Talvez, a prisão podem ser dívidas. «Eu tinha um grande projeto, pedi alguns créditos e agora estou cheio de dívidas, não consigo fazer nada, me sinto prisioneiro».
Pe. Rodrigo também explica que a prisão pode ser um hábito, um vício, como, por exemplo, as drogas, o álcool, a pornografia, o sexo. «Inclusive as emoções negativas, o rancor, o ressentimento, podem ser grandes prisões».
Contudo, em sua homilia, Pe. Rodrigo quer destacar 3 tipos de prisões em que podemos estar encarcerados e que Jesus veio nos libertar através da ressurreição.
1. A ressurreição de Cristo vem nos libertar das prisões dos preconceitos
«Jesus veio nos libertar da prisão de nossas mentes. Dos preconceitos que nós temos, das crenças arredas que nós assumimos», diz Pe. Rodrigo.
São Lucas comenta no Evangelho que, depois de estar com os discípulos «então, Jesus abriu a inteligência dos discípulos para entender as Escrituras. Aí, eles entenderam que eram prisioneiros de seus pensamentos.
«Quantas vezes, nós também somos presos por sentimentos, por nossos conceitos», relembra Pe. Rodrigo. «Às vezes. não conseguimos ir para frente porque temos um preconceito de uma pessoa e não conseguimos sair disso».
Por sua vez, «Deus tem muitas oportunidades. O melhor projeto que você pode realizar em sua vida é projeto que Deus tem para você», exclama o padre. «Deus tem planos maravilhosos para cada um de nós, só que nós muitas vezes não vemos, porque somos prisioneiros de nossos pensamentos, de nossas ideias, de nossos preconceitos».
Pedro, em sua primeira carta (1 Pe 1, 13) nos alerta para estarmos sempre com a mente preparada. Oportunidades existem muitas na vida, o problema é que nós não estamos preparados para aproveitá-las. Pe. Rodrigo continua dizendo que «Deus coloca, muitas vezes, caminhos de saída, quando nós sofremos, por exemplo, uma grande perda, ou talvez, alguma doença, ou alguma decepção muito profunda. Ficamos magoados e ficamos prisioneiros de nossos pensamentos».
Deus está colocando oportunidades diante de nosso caminho e não vemos porque não temos a mente preparada. Jesus vem, muitas vezes, quando nós experimentamos fracassos, derrotas e quer nos levantar pelas mão, como fez com Adão e não estamos vendo, estamos olhando para outro lado. «Sou prisioneiro de meus pensamentos, de meus preconceitos».
«Quando experimentamos realmente a ressurreição de Cisto, ele nos liberta desses preconceitos», afirma Pe. Rodrigo. «Eu imagino os apóstolos olhando para Cristo, piscando os olhos para ver se é verdade aquilo que estão olhando e tentando organizar as ideias dentro de sua mente e seu coração». «É isso! A ressurreição de Cristo não é apenas um conceito, não é só um evento histórico. Ele toca profundamente nossa vida e a transforma. Liberta-nos da prisão dos preconceitos».
2. Cristo ressuscitou e nos libertou da prisão das aparências.
Hoje, vivemos em um mundo das aparências, e «quanta energia, quanto esforço, quanto tempo, quanto dinheiro nós gastamos para manter essas aparências», continua Pe. Rodrigo. «Seria tão fácil poder viver sem todo esse peso em cima».
«Por quê nós queremos guardar as aparências?», questiona Pe. Rodrigo. «Por dois motivos. Primeiro porque queremos contentar alguém». Queremos contentar nosso pai, nossa mãe, nosso esposo, nossa esposa, nosso chefe, a sociedade. Entanto, nos esforçamos para manter as aparências».
«O outro motivo pelo qual mantemos as aparências em nossa vida é pelo perfeccionismo». Há pessoas que, desde criança, aprenderam por coisas que aconteceram em sua família, que precisam ser perfeitos para serem amados. «Perfeito fisicamente, perfeito na minha personalidade, perfeito no meu trabalho, perfeito nos meus estudos, em tudo, mas nós não somos perfeitos. Claro que não!», esclarece Pe. Rodrigo. Então, para sermos amados, guardamos as aparências.
Pe. Rodrigo diz que o lugar preferido das aparências são as redes sociais. «Ou, como eu diria, as Redes de Comparação». «Entramos, muitas vezes, nas redes sociais, para nos comparar com outros».
O caminho para nos libertar de todas essas aparências, como explica o Pe. Rodrigo, é muito simples. «Temos que mudar nosso foco, das pessoas para Deus. Ou seja, ao invés de querer contentar todo mundo e toda sociedade, contentar apenas a Deus». «Quando eu vivo olhando apenas a Deus, querendo contentar apenas ele, eu me liberto dos outros. Aí nos libertamos de muitas prisões. A prisão da aparência é, muitas vezes, terrível».
O Salmo 119 diz: “Andarei em verdadeira liberdade, porquanto tenho buscado os teus preceitos”. Isto é, quando busco apenas os preceitos de Deus, contentar somente a Deus, então, diz o Salmista, andarei em verdadeira liberdade. «Jesus veio nos tirar da prisão da aparência. Não se preocupe pelo que o mundo pensa, nós Somos o que somos diante de Deus, mais nada!», reforça o Pe. Rodrigo.
3. Cristo nos libertou da prisão do medo
Pe. Rodrigo continua ensinando que «também o medo muitas vezes nos afasta de Deus». «O que mais nos afasta de Deus é o medo, porque, Deus tem um grande projeto para nós, mas nós temos medo de seguí-lo. E o padre relembra a história do jovem rico que é mencionado nos evangelhos de Lucas, João e Mateus. Esse jovem se encontra com Jesus e pergunta o que deveria fazer para ter a vida eterna. Jesus responde que ele deveria cumprir os mandamentos, ao que o jovem alega ter sempre cumprido. Jesus, então, vê que aquele jovem tinha uma inquietação maior e lhe diz que para ser perfeito precisava vender tudo o que tinha, dar aos pobres e depois seguí-lo. «O que aconteceu com esse jovem? Ele foi embora, porque tinha muitos bens. O que significa isso? Significa que eles estava com medo».
«Temos medos muito profundos. Medo de ficar sozinho, medo de sofrer, medo de não conseguir nos realizar, de não conseguir ser feliz», enumera Pe. Rodrigo. «Jesus estava chamando ele para ser um dos apóstolos, poderia ter sido um outro João, um outro Pedro, um outro Tiago, um outro André, e hoje nem sabemos o nome dele. Só um jovem que apareceu no evangelho, falou com Jesus e o abandonou».
«O medo é uma grande prisão em nossa vida. E, Jesus vem nos pegar pela mão, como fez com Adão». «Do que você tem medo? Do que nós temos medo na vida? Jesus já venceu a morte e está acima de tudo o que você possa imaginar, então, não há motivo para ter medo», adverte o Pe. Rodrigo.
«Olhe para Cristo e siga o caminho que Jesus pede para você», convida o sacerdote. «Você não pode ser qualquer coisa que você imagine, mas, sim, qualquer coisa que Deus queira que você seja».
«Mas – alerta – para isso, nós precisamos não apenas de uma ideia da ressurreição, mas precisamos de uma experiência profunda que toque nossa alma, que reorganize toda nossa estrutura interior. Isso, ninguém pode explicar, temos que fazer através da oração, através da fé».
Por fim, Pe. Rodrigo conta uma história ortodoxa que teria acontecido pouco antes da revolução bolchevique na Rússia. Montaram um grande congresso para falar sobre a ressurreição de Cristo e convidaram primeiro um cientista e filósofo ateu para dar uma conferência contra a ressurreição. Ele subiu e deu uma explicação que parecia ser extraordinária. Segundo seu ponto de vista, acabou com todas essas crenças superficiais da ressurreição. Ele tinha todos seus argumentos para demonstrar que Cristo não podia ter ressuscitado.
Depois dele sobre um sacerdote ortodoxo idoso e, na Rússia existe uma tradição muito antiga que, quando chega a festa da ressurreição de Cristo, as pessoas se saúdam de maneira especial. Uma pessoa exclama: «Cristo Ressuscitou!» E, recebe a resposta: «Verdadeiramente Ressuscitou!». Portanto, tão logo o velho sacerdote sobe ao palanque, exclama: «–Cristo ressuscitou!». Nesse momento, toda a assembléia responde em uníssino: «–Verdadeiramente Ressuscitou!». Pronto, acabou. Com isso, aquele sacerdote havia falado tudo. Ele baixa o olhar e desce as escadas.
«Efetivamente, a ressurreição de Cristo não é algo que nós argumentamos, é algo que nós experimentamos», encerra o Pe. Rodrigo. «É isso o que acontece com os apóstolos hoje. Eles não terminavam de assimilar».
«Tomara que nós também tenhamos essa experiência de Cristo Ressuscitado para que Ele não seja uma crença em nossa vida, mas que Ele nos toque profundamente e nos liberte de toda as prisões que possamos estar. E, ser unicamente o que somos aos olhos de Deus».
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