No evangelho deste domingo, em que comemoramos a solenidade de São Pedro e São Paulo, Jesus nos deixa muitas lições, mas o centro desta passagem é a tríplice pergunta que Ele faz a Pedro. É uma espécie de reabilitação de Pedro após este ter negado Jesus três vezes durante Sua paixão. Para Jesus, bastava que Pedro lhe desse uma resposta de amor.

Isso que Jesus faz com Pedro, ele também faz conosco, especialmente quando, por causa do pecado, nós achamos que Deus não nos ama mais, que somos fracos, incapazes. Contudo, neste diálogo de Jesus com Pedro, percebemos que Deus não precisa de nossas forças, de nossos talentos, ao contrário, Ele precisa do nosso amor.

É isso que Jesus esperou de Pedro naquele momento, uma resposta de amor.

Porém, uma outra lição que podemos aprender neste evangelho é que, se Deus só precisa de minha resposta de amor, a questão chave não está em se Deus pode, através de mim, fazer ou não a Sua obra, pois isso é claro que Ele pode. A questão chave é como nós reagimos diante de nossas falhas e dos nossos pecados.

Porque, desta reação depende se nós vamos saber colaborar com Jesus na obra dele.

Deus nunca se decepciona

Deus nunca se escandaliza porque nós pecamos. Ele sabe que somos frágeis, mas, mesmo assim, ele conta conosco para realizar a Sua obra. Portanto, não podemos simplesmente ficar nos queixando que não somos santos, que temos falhas, porque não somos nós que fazemos a obra de santificação em nossa vida, mas é o próprio Deus.

O que Pedro fez errado?

Uma das maneiras de aplicar esse trecho do evangelho em nossa vida é aprender aquilo que Pedro fez de maneira errada, sabendo que Cristo o restaurou para Sua obra e lhe deu, talvez, a missão mais importante de todas, de apascentar a Igreja.

1. Pedro superestimou suas forças

A primeira coisa que Pedro fez de errado foi superestimar suas forças. Frequentemente, nós também superestimamos nossas forças, nossos talentos, nossa inteligência e achamos que somos nós que vamos fazer a obra de Deus. 

Existe um diálogo entre Jesus e Pedro na última ceia, que nos ajuda a entender essa postura do príncipe dos Apóstolos:

Disse-lhes então Jesus: “Esta noite serei para todos vós uma ocasião de queda; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho serão dispersadas (Zc 13,7). Mas, depois da minha Ressurreição, eu vos precederei na Galileia. 

Pedro interveio: “Mesmo que sejas para todos uma ocasião de queda, para mim jamais o serás”. Disse-lhe Jesus: “Em verdade te digo: nesta noite mesma, antes que o galo cante, três vezes me negarás”.

Respondeu-lhe Pedro: “Mesmo que seja necessário morrer contigo, jamais te negarei!”. E todos os outros discípulos diziam-lhe o mesmo. (Mt 26, 31-35)

Superestimar nossas forças, como fez Pedro, é uma grande tentação. Muitas batalhas foram perdidas por superestimar as forças diante do inimigo.

Precisamos estar, portanto, conscientes de nossa fragilidade. Porém, os grandes problemas não são nossos pontos fracos que já conhecemos, mas os pontos fortes, que nos fazem achar que somos mais fortes.

2. Pedro teve medo da reprovação dos outros

O que fez Pedro negar a Cristo em sua Paixão, foi o medo da opinião daquele povo de sua época. Esse também é um ponto que nos afeta muito. Quem atua movido pelo pensamento do os outros vão falar, já está plantando a semente do fracasso.

O que é mais importante? O que Deus pensa ou o que a sociedade, os amigos, as pessoas ao meu redor pensam?

“Pedro seguia-o de longe, até o pátio do sumo sacerdote. Entrou e sentou-se junto aos criados para ver como terminaria aquilo.” (Mt 26, 58)

Neste trecho do evangelho vemos que Pedro quer passar despercebido porque tem medo do que as pessoas pensariam sobre ele. Muitas vezes, nós chegamos até mesmo a comungar em estado de pecado porque temos medo do que iria pensar nosso cônjuge, as pessoas da nossa comunidade, se nos vissem deixar de comungar.

3. Pedro falou sem pensar

Nós também, muitas vezes, fazemos como Pedro e nossa boca se movimenta muito mais rapidamente que nossa mente. Isso acontece porque falamos emocionalmente e não racionalmente.

Claramente nós vemos isso no diálogo de Pedro com aqueles que o acusavam de ser um dos apóstolos:

“Pedro, então, começou a fazer imprecações, jurando que nem sequer conhecia tal homem. E, neste momento, cantou o galo”. (Mt 26, 71)

Imaginemos Pedro, assustadíssimo, negando conhecer Jesus, tendo em conta tudo aquilo que já estava acontecendo a seu Mestre. O que faz Pedro se colocar desse modo e negar Jesus tão fortemente são suas emoções, especialmente o medo. 

Isso acontece muitas vezes, conosco. Nós falamos simplesmente o que sentimos. Às vezes até damos a desculpa de que somos autênticos e, por isso, falamos aquilo que estamos sentindo. Na verdade, nós não temos filtro. Nossos sentimentos, geralmente, nos enganam. 

“Assim também a língua é um pequeno membro, mas pode gloriar-se de grandes coisas. Consi­derai como uma pequena chama pode incendiar uma grande floresta!” (Tg 3, 5)

O que Pedro fez de certo?

Pedro é um grande santo e, obviamente, apesar de seus erros, o Espírito Santo foi fazendo a obra da santificação deste homem que, por fim, entregou sua vida por amor a Cristo, morrendo como mártir, em Roma.

1. Pedro lutou

Apesar de ter errado, Pedro não desiste, ao contrário, ele persiste e luta. 

Pedro recordou-se do que Jesus lhe dissera: “Antes que o galo cante, tu me negarás três vezes”. E saindo, chorou amargamente. (Mt. 26, 75)

A diferença de Pedro para Judas, é que Pedro não desiste. Ambos abandonaram Jesus, mas Judas se enforcou porque não confiava na misericórdia de Jesus. Pedro, pelo contrário, se arrepende de seu pecado e confia na misericórdia de Deus.

Pedro viveu uma espécie de luto. Quando pecamos, não adianta fingir que não aconteceu. Temos que olhar para eles de frente e sofrer a perda da salvação. Pedro chorou amargamente porque estava decepcionado com ele mesmo, mas essa dor foi importante.

Pedro tinha que perceber que era fraco, que não podia tudo. Quando nós enfrentamos o fracasso, também precisamos passar por essa dor, porque é aí que nós nos transformamos. Basta vermos a diferença entre Pedro antes e depois da ressurreição de Cristo.

2. Pedro busca ajuda

Mesmo após ter pecado e reconhecido seu erro, Pedro não fica sozinho.

Quando cometemos erros, a tendência é que nos isolemos. Mas, no próprio Evangelho nós já vemos que Pedro não ficou sozinho, mas foi buscar a comunidade. 

Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-se no meio deles. Disse-lhes ele: “A paz esteja convosco!”. (Jo 20, 19)

Da mesma forma, quando cometemos um erro, não podemos ficar sozinhos. Ao contrário, precisamos buscar ajuda, buscar um sacerdote para nos confessar, buscar nossos irmãos da comunidade.

3. Pedro se abandona na misericórdia de Deus

Essa é a terceira coisa que Pedro fez certo, abandonar-se na misericórdia de Deus. Pedro nunca desconfia do amor de Jesus. Pedro não se deixa tomar pelo desânimo, que é uma das maiores armas do demônio.

O demônio quer que desanimemos, que acreditemos que após o pecado, não temos mais perdão. Assim nós perdemos a oportunidade de perdão e de consolo que só vem de Deus.

Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, amas-me mais do que estes?”. Respondeu ele: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta os meus cordeiros”. (Jo 21, 15)

Ao ser questionado por Jesus, Pedro se abandona no poder e na misericórdia de Jesus. Que, por sua vez, imediatamente reconduz Pedro à missão de ser o príncipe dos Apóstolos, o primeiro Papa da Igreja.


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