Quatro passos para voltar a Deus
Em sua homilia deste quarto domingo da Quaresma, Pe. Rodrigo Hurtado LC medita sobre a famosa parábola do filho pródigo e nos indica os quatro passos que precisamos fazer para voltar a Deus, mesmo que nossa vida já esteja muito distante dele.
No evangelho de hoje escutamos provavelmente uma das parábolas mais famosas de Jesus. Só essa parábola tem tocado mais corações e convertido mais pessoas a Deus que as intermináveis palavras de todos os pregadores do mundo – recorda o Pe. Rodrigo.
Há três grandes temas nesta parábola. Em primeiro lugar, a alegria de Deus é ter-nos na sua casa. A mensagem central da parábola, portanto, é clara: a misericórdia e a alegria de Deus. Em segundo lugar, vemos que nossa felicidade depende de nossa proximidade com Deus. Quanto mais nos aproximamos de Deus, mais experimentamos a alegria e a felicidade em nossa vida. E, em terceiro lugar, a parábola do filho pródigo nos mostra o caminho para voltar a Deus.
Quatro passos para voltar a Deus
Estar em contato com nossas insatisfações
Esse é o primeiro passo. As pessoas que vivem cheias de ocupações, de diversões, distraídas com todo o que o mundo lhes oferece e não têm a capacidade de sentir a caducidade, o vazio dessas coisas, ainda nem chegaram ao ponto de partida. Para estar perto de Deus, temos que estar em contato com nossas insatisfações, temos que reconhecer nossa sede, nossa fome de Deus, nossa necessidade de Deus.
“Após haver gasto tudo o que possuía… ele começou a passar muita necessidade… e chegou a ter vontade de encher o estômago com as vagens de alfarrobeira com as quais os porcos eram alimentados… Foi quando, caindo em si, falou consigo mesmo.”
(Lucas 15, 13)
Destacaria a frase: “Falou consigo mesmo”. Esse é o ponto de partida. Estar em contato com nossas próprias insatisfações, necessidades, descontentamento. Aí é onde a transformação começa. Quando você fala com alguém que não acredita em Deus e não está passando necessidade, tudo está indo bem na sua vida, então não existe nenhum motivo razoável para ele entender a necessidade de Deus.
Quando sofremos, Deus está querendo chamar nossa atenção, está batendo na porta de nosso coração. E se você ignora, Ele não se cansa de bater à porta. Quando você experimenta insatisfação, vazio ou descontentamento na sua vida, é porque Deus está batendo no seu coração – explica o Pe. Rodrigo.
Assumir nosso pecado
“Levantar-me-ei, tomarei o caminho de volta para meu pai, e ao chegar lhe confessarei: Pai, pequei contra o céu e contra ti.”
(Lucas 15, 18)
Quando dizemos, “isso não é pecado”, “isso não tem importância”, “aquilo todo mundo faz, não pode ser tão mau”, então não podemos ser libertados do erro, do pecado e voltar a Deus, porque ainda não assumimos o pecado.
Este segundo passo é indispensável para alcançar o perdão de Deus. Se eu estou muito insatisfeito com minha vida, mas não reconheço meu pecado, então Deus não pode me guiar, libertar, perdoar.
“São as vossas maldades que fazem separação entre vós e o vosso Deus. Os vossos pecados nublaram e esconderam de vós a face do Senhor.”
(Isaías 59, 2)
Se você se sente longe de Deus é você que tem que se mover, não Deus. Isso vemos na parábola do Filho Pródigo. É o filho pródigo quem parte daquele país afastado em volta para casa do Pai. Deus nunca sai de férias, Deus nunca vai de viagem para o estrangeiro. Ele está sempre em casa, esperando.
Quando voltamos a Deus o que Ele faz? Ele nos recrimina? Ele nos castiga? Ele nos acusa? Nada disso! – reforça o Pe. Rodrigo –. Ele nos perdoa.
Para reconhecermos nossos pecados, um hábito essencial que devemos manter é o exame de consciência, esse check up espiritual diário, antes de dormir. Santo Inácio dizia que seus sacerdotes jesuítas podiam deixar todas as práticas religiosas prescritas pelas constituições da Companhia de Jesus, mas se conservassem o exame de consciência, salvariam a obra e sua vida.
Esse exame de consciência é muito importante, especialmente, quando vamos à Missa e vamos comungar. Nunca devemos comungar com algum pecado na consciência, para voltar a encontrar com Deus, temos que reconhecer nosso pecado, pedir perdão e voltar a Deus antes de receber a comunhão.
Oferecer-se a si mesmo
É interessante vermos a mudança de atitude do filho pródigo no início da parábola e no fim. No início ele queria sua parte da herança, no fim, ele queria ser tratado só como um dos servos. Isso é conversão, transformação sincera e profunda. Passar de estar centrado em nós mesmos, para estar centrados em Deus.
Quando nos aproximamos de Deus, Ele nos transforma. Sua presença e sua santidade nos transformam. E não podemos estar perto de Deus sem essa transformação verdadeira.
“Conforme a sua imagem estamos sendo transformados com glória crescente, na mesma imagem que vem do Senhor, que é o Espírito.”
(2 Coríntios 3, 18)
Essa transformação nos embeleza, nos transforma à imagem de Deus. Tira o melhor de cada um de nós. O segredo está nessa entrega, nesse abandono do Filho pródigo para seu Pai… Quando nos entregamos, Ele nos transforma.
Deus está esperando esse momento, Ele sai correndo para encontrar o filho porque o vê de longe e o vê de longe, porque todo dia esperava o seu filho e olhava o caminho pelo qual tinha partido.
Você pode ser transformado por Deus e sua vida se tornar o melhor que Deus tem pensado para você. Talvez você pense: “Mas a minha vida é muito boa” Ela é sim. Mas Deus te criou para muito mais do que isso. Confie em Deus. Deixe Ele te transformar de um jeito que você nunca imaginou.
Por que viver uma “vida boa” se você pode perder uma “vida melhor” que Deus tem para você? «A melhor versão de você mesmo está escondida no coração de Deus», reforça o padre Rodrigo.
Viver com gratidão
Essa é a condição para não perder a graça de Deus, os dons tão grandes que Deus nos deu com a salvação. Quando o filho volta de seu auto exílio, o pai celebra, não o condena, ele faz uma festa e está cheio de alegria.
Deus, desde a ressurreição de Cristo, está celebrando nosso regresso à casa do Pai. Nosso dever é viver com gratidão pelo dom que temos recebido. Não é um direito, não é algo que merecemos, algo que ganhamos, é um dom imerecido e totalmente desproporcionado ao que nós fizemos.
Por fim, Pe. Rodrigo nos lembra que a parábola tem um final que Jesus não contou, mas que pode ser visto em tantas e tantas pessoas. A dificuldade de aceitar o perdão de Deus.
«Eu imagino o filho durante a festa dizendo ao Pai: “Pai, eu não mereço tudo isto” mas o Pai insistindo: “Filho, tem que aceitar a realidade e compreender meu amor. Você nunca deixará de ser meu filho querido.”» – ilustra o padre.
Não aceitar o perdão de Deus, viver com culpas não resolvidas é uma tentação. Deus quer que você seja feliz e aceite seu amor.
Como aceitar o perdão de Deus? Vivendo com gratidão.
- Pe. Rodrigo Hurtado LC transmite a celebração da Santa Missa através de seu canal do YouTube, aos domingos, às 18h. Inscreva-se no canal, deixe seu like e compartilhe com seus amados.