O texto do evangelho deste último domingo, encerra uma caminhada de quatro domingos meditando sobre o capítulo 6 do Evangelho de São João, em que Jesus fala sobre o Pão da Vida e neste domingo, a liturgia nos convida a compreender como a fé nos ajuda nas provações.

Essa jornada de quatro domingos começa com a multiplicação dos pães, passando pela repreensão que Jesus faz à multidão que buscava somente o pão material e termina com Jesus revelando ser Ele o verdadeiro Pão do Céu. No domingo seguinte, Jesus revela que daria sua carne e seu sangue como verdadeira comida e verdadeira bebida. No Evangelho de hoje, vemos que, a partir daquele dia, muitos abandonaram Jesus.

Esse momento foi tão importante que Jesus interpela até mesmo seus discípulos, mas Pedro responde: “Senhor, para quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna. Sendo assim, nós temos crido e sabemos que Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo.” (João 6, 68)

O Pe. Rodrigo Hurtado, LC, nos ajuda a compreender porque aquelas pessoas não mais suportaram ouvir a mensagem de Jesus e, o mais importante, vamos entender porque Jesus não quis explicar sobre o milagre da Eucaristia, aliviando o coração daquelas pessoas que ainda não compreenderam o que Ele dizia.

Na verdade, Jesus queria purificar a fé de seus discípulos. Ele buscava que a fé de seus discípulos fosse uma fé autêntica, porque a verdade é que a vida é dura, cheia de sofrimentos e a única coisa que nos manterá em pé diante das provações é a fé viva e verdadeira em Deus.

Paulo, depois das provações que sofreu na Ásia, chega dizer que “desesperamos da vida”: “Mas nossa esperança é firme, porque sabemos que, como somos participantes das aflições, o seremos também da consolação.” (2 Coríntios 1, 6)

Certezas de Fé para os momentos de provação

1. A vida carece de sentido, mas podemos encontrar paz porque sabemos que Deus está conosco e nos ama.

A vida é confusa, cheia de perguntas sem resposta, especialmente nos momentos de grandes provações, e esses momentos de provação têm fases.

Primeiro, entramos em choque, uma paralisia que pode durar dias ou meses. Depois, vem o sofrimento propriamente dito. A tristeza é um sofrimento humano, mas também é algo divino. Jesus chorou na morte de Lázaro. Deus compartilha conosco a nossa dor.

O estágio seguinte é a luta, quando vem a tentação de negar a realidade. Então vem a fase da rendição, quando finalmente começamos a confiar em Deus, seja pelo cansaço ou pela fé. Podemos confiar em Deus.

Ao confiar em Deus, começa a etapa da santificação. Deus começa a atuar a partir de nosso interior, faz crescer a nossa fé, nossa maturidade, paciência, mansidão, o amor. Por fim, vem a fase do serviço, pois quando a obra estiver completa, Deus pode nos usar para ajudar os outros. Nosso maior sofrimento pode ser nosso maior apostolado.

Em nenhum desses estágios devemos viver sem a presença de Deus, mas precisamos confiar nas promessas de Deus:

Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador.” (Isaías 43, 2)

2. Tudo neste mundo está bagunçado, mas estamos em paz porque sabemos que Deus é bom e tem um plano maravilhoso para nós. 

Deus não queria o sofrimento, mas desde que o demônio entrou no mundo trouxe a dor e tudo está desajustado, ferido pelo pecado original. Até mesmo o clima está desajustado por causa do pecado.

O pecado feriu também as relações humanas, a economia, a política, a pobreza e os sofrimentos. Nossos próprios planos acabam por não ocorrerem por causa do pecado.

Nosso corpo está desajustado, nossa saúde, nossos relacionamentos…

Mas Paulo nos mostra uma certeza que pode nos resgatar: “Sabemos que todas as coisas colaboram para o bem daqueles que amam a Deus” (Romanos 8, 28)

Deus não é autor das coisas ruins, mas Ele não fica indiferente.

3. A vida é uma batalha, mas sempre podemos escolher a alegria e manter firme nossa esperança.

A alegria e a esperança são sempre uma opção para o cristão. Mesmo estando em meio a uma grande luta, uma grande confusão.

“Gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança, e a perseverança o caráter, o caráter a esperança; e a esperança não engana, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.” (Romanos 5, 3)

Paulo fala “nas” tribulações, e não “das” tribulações. Enquanto sofremos podemos fazer uma escolha, a escolha da alegria e da esperança.

E ele fala disso por dois motivos. O primeiro é porque a vida é como os trilhos de um trem. As coisas boas e as coisas ruins acontecem ao mesmo tempo. O segundo motivo é porque podemos olhar para o que Deus está fazendo com as coisas ruins. A tribulação é produtiva, não é inútil, sem sentido ou absurda.

Conclusão

A vida é difícil, mas Deus é bom. Não peça provas, explicações para fortalecer sua fé… aprenda a confiar em Deus, mesmo sem entender, como Pedro.


Assista à homilia do Pe. Rodrigo Hurtado LC, na íntegra, através de seu canal de YouTube, ou tenha acesso a um conteúdo de Estudo Bíblico da liturgia dominical do ano todo com o curso Conhecer e Viver a Bíblia, que está em nossa loja aqui no site.