No evangelho deste último domingo, vemos Jesus fazer o milagre da cura de um surdo que falava com dificuldade. E esse milagre de Jesus nos mostra o milagre que Ele quer fazer também em nossa vida. Da mesma forma que aquele homem, curado, pode se comunicar melhor, Jesus quer nos ajudar a construir em nossa vida uma comunicação saudável.

É isso que o Pe. Rodrigo Hurtado, LC, nos ajuda a perceber em sua homilia deste domingo, e a primeira coisa que vemos é que esse milagre da cura do surdo-mudo É um milagre um pouco curioso, pois Jesus, ao invés de impor as mãos, como normalmente fazia, toma o surdo-mudo à parte, coloca os dedos em seus ouvidos, coloca saliva em sua boca e pronuncia uma palavra para curá-lo.

A fama de Jesus já corria por aquela região e, como nos conta Marcos em seu Evangelho, “Pediram que Jesus lhe impusesse a mão” (Marcos 7, 32). Mas, nesse caso, Jesus não faz isso.

Para Jesus não é difícil fazer milagres, já o vimos multiplicar o pão ou acalmar a tormenta com uma só palavra… O incrível, dizia um autor, não é que Jesus tenha curado muitas pessoas, o incrível é que Ele tenha curado tão poucas.

Jesus é Deus, bastava uma palavra e todo o sofrimento do mundo teria desaparecido… Mas Jesus não fez isso. Ele não veio para isso. E o próprio Jesus explica o motivo:

“Se não faço as obras de meu Pai (ou seja, os milagres), não acrediteis em mim. Mas se as faço, mesmo que não acrediteis em mim, crede nas obras, para que possais saber e compreender que o Pai está em mim, e Eu estou no Pai.” (João 10, 37)

Isto é, Jesus realiza milagres visíveis para mostrar realidades invisíveis, mas verdadeiras.

Do milagre que escutamos hoje, qual é o ensinamento? Qual é a mensagem? O que Jesus fez no plano físico, ele quer fazer no plano espiritual. O homem curado por Jesus era surdo e mudo, ou seja, não escutava e não conseguia se comunicar com os outros, não conseguia expressar seus sentimentos e necessidades.  

Se pensarmos sobre isso, dar-nos-emos conta que todos somos, em certa medida, surdos e mudos… aquele suspiro de Jesus – que Marcos comenta – é também por nós, que não sabemos nos comunicar, e aquele grito “Éffeta” é também para nós. 

A diferença é que a surdez e a mudez física não são culpa do homem, mas a surdez e mudez moral sim são culpa nossa. O tema que está implícito neste milagre é a comunicação. A comunicação é um dos maiores desafios que temos na vida.

Como superar nossa falta de comunicação?

1. Renuncie às suposições

Muita surdez é consequência de supor que entendemos o significado do que as pessoas nos dizem. A verdade é que tudo que você ouve passa por um filtro e esse filtro é determinado por suas experiências anteriores e pela sua personalidade única.

Isso torna muito difícil escutar o que as pessoas realmente querem dizer. Portanto, a primeira condição para superar a surdez é superar as suposições e tentar escutar o outro com sinceridade.

“Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar e tardio para se irar.” (Tiago 1, 19)

2. Desista das acusações

Para aprender a escutar temos que estar abertos ao outro, não chegar com nossa bateria de acusações. Nunca somos persuasivos quando somos impulsivos. Nunca passamos nosso ponto de vista se o fazemos com raiva. Raiva e sarcasmo só deixam as pessoas na defensiva e a atitude defensiva mata a comunicação.

“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas somente a que seja útil para a edificação, de acordo com a necessidade, a fim de que comunique graça aos que a ouvem.” (Efésios 4, 29)

3. Supere seus medos

O medo impede a comunicação honesta. O medo faz com que escondamos nossos verdadeiros sentimentos e deixemos de enfrentar os verdadeiros problemas. 

Quando enfrentamos nosso medo e corremos o risco de sermos honestos, a comunicação real pode acontecer. A liberdade é o resultado da abertura e Jesus disse: “A verdade vos fará livres!” (João 8:32)

Como construir diálogos verdadeiros?

1. Comece pelo coração

Quando Jesus encontrou o jovem rico que lhe perguntou sobre como alcançar a vida eterna, Marcos comentou. “Então Jesus o olhou com compaixão e lhe disse” (Marcos 10, 21).

Tudo começa pelo coração. Cultivar amor sincero pela outra pessoa. Sempre que vamos começar um diálogo difícil, que envolve muitas emoções, que sabemos que encontraremos diversos pontos de vista, temos que ter duas conversas.

A primeira conversa é com nós mesmos e segunda conversa é com Deus.

2. Faça o primeiro movimento

Solucionar nossos conflitos é o mais importante que temos para fazer, mais importante que orar, adorar a Deus, ajudar os pobres, etc. O único jeito de resolver um conflito é enfrentando-o, não fingindo que não existem. 

Portanto, temos que dar o primeiro passo. Por isso somos “construtores da paz” não “protetores da paz”. Jesus era um construtor de paz, mas nunca fugiu de um legítimo conflito. 

“Se você estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta.” (Mateus 5, 23)

Os conflitos nunca se resolvem sozinhos, acidentalmente. Precisa que alguém dê o primeiro passo.

3. Sintonize os sentimentos que estão por trás das palavras

Em qualquer conflito, sempre escutar primeiro as feridas. Tentar entender as feridas do outro.

As pessoas em paz, transmitem paz, as pessoas cheias de amor, transmitem amor, e assim por diante. As pessoas que precisam de mais amor, são as que menos o merecem. Porque fazem o contrário de atrair o amor dos outros ou de dar motivos para agradecer ou gostar deles.

4. Escute a perspectiva do outro

Não apenas os sentimentos, também a perspectiva, os motivos, as razões. Antes de disparar todos nossos argumentos, antes de falar inclusive, temos que aprender a escutar, compreender sinceramente a perspectiva do outro.

Sempre que começamos uma conversa com nossa agenda, com nossas feridas, com nossas reclamações, ela seguramente dará errado.

“Tende todos vós o mesmo modo de pensar, demonstrai compaixão e amor fraternal, sede misericordiosos e humildes.” (1 Pedro 3, 8)

5. Fale a verdade com amor

Finalmente chega o momento de falar. Jesus dizia que a verdade nos faria livres… mas a verdade deve ser usada com amor. 

“Seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo.” (Efésios 4, 15)

As pessoas podem mudar mais facilmente quando a verdade vem envolvida no amor. A verdade sem amor é resistida. A verdade com amor e recebida.

6. Busque soluções, não culpados

Isto é atacar o problema na raiz. Focar nas soluções, não em buscar culpados.

Tem problemas no matrimônio? Foque na solução. Tem problema na administração do dinheiro? Foque na solução. Tem problema na relação com os parentes ou com a educação dos filhos? Foque na solução, não nos culpados. 

“Abandonem todas estas coisas: ira, indignação, maldade, maledicência e linguagem indecente no falar.” (Colossenses 3, 8)

Conclusão

A comunicação é difícil. É um dos grandes desafios que temos na vida. Não temos aulas de comunicação no colégio, nem na paróquia, e muitas vezes nem nas famílias, mas é uma habilidade fundamental para a vida.

Quando não temos essa capacidade de falar, quando somos surdos ou mudos moralmente falando, sofremos muito e fazemos sofrer também outras pessoas.


Assista à homilia do Pe. Rodrigo Hurtado LC, na íntegra, através de seu canal de YouTube, ou tenha acesso a um conteúdo de Estudo Bíblico da liturgia dominical do ano todo com o curso Conhecer e Viver a Bíblia, que está em nossa loja aqui no site.