Como é o amor de Deus? Pe. Rodrigo responde
Nesse quarto domingo da Quaresma, a Liturgia coloca o trecho do terceiro capítulo do Evangelho de João que mostra uma conversa de Jesus com um dos membros do Sinédrio, o fariseu Nicodemos, em que Cristo fala sobre o amor de Deus, que é capaz de dar seu Filho Unigênito, «para que todo aquele que nele crer, não pereça, mas tenha a vida eterna».
«Se a Bíblia fosse uma cordilheira, ela teria muitos picos interessantes», mas, sem dúvida, essa passagem evangélica «seria o Monte Everest», ensina o Pe. Rodrigo Hurtado, LC no início de sua homília.
Essa passagem é tão importante pois «sintetiza em uma frase a causa e o propósito da vida, morte e ressurreição de Cristo» – esclarece Pe. Rodrigo nesse Quarto Domingo da Quaresma. «É como uma janela para entender a verdadeira motivação de Deus, é como um relâmpago que ilumina a noite e, por um instante, você contempla toda a paisagem e as montanhas».
Nós conhecemos diversos tipos de amor, como o amor esponsal, o amor de um pai e de uma mãe, o amor filial, o amor de uma amizade, mas Deus pode nos amar com todos eles ao mesmo tempo.
Em sua homilia, Pe. Rodrigo ensina as cinco maneiras como Deus nos ama, «cinco dimensões do amor de Deus». Em primeiro lugar, Deus nos ama com amor de Pai, exigente, «que estimula e impulsiona o filho a crescer, amadurecer e a dar o melhor de si». O amor paterno corrige e chama a atenção do filho quando precisa, mas lhe garante liberdade e independência, enquanto lhe dá segurança e proteção. Também, Deus nos ama com um amor de mãe, que é, por sua vez, «acolhedor, compaixão e ternura». Uma mãe, frequentemente, se alia com o filho para defendê-lo ou interceder por eles diante do pai.
Uma terceira dimensão do amor de Deus é o amor esponsal, conjugal. «Deus fala de ciúmes pelo seu povo, Israel; de sedução; entrega total; paixão» – esclarece Pe. Rodrigo. Essa dimensão do amor de Deus pode ser vista na Carta de S. Paulo aos Efésios e no livro do Cântico dos Cânticos, no Antigo Testamento.
Uma quarta dimensão do amor de Deus é o amor que existe entre os amigos. A amizade é um amor que não depende de laços de sangue, mas pode chegar a ser tão forte ou mais que o amor aos parentes. A amizade é feita de confiança, partilha dos gostos, dos interesses, dos ideais. “Jesus nos fez participar dos segredos de sua família, da intimidade da Santíssima Trindade» — disse Hurtado.
A quinta e última dimensão do amor de Deus é o amor sacrificial, que é uma dimensão ainda mais profunda e maior no amor de Deus. «Uma que, em certo sentido, leva todas as outras formas a sua máxima expressão». É o amor que se vê nessa passagem do Evangelho: «Deus amou tanto o mundo que entregou seu Filho».
O amor de Cristo na Cruz é um amor disposto ao Sacrifício. A natureza de Deus que é amor, «é um amor entranhável, profundo». «O amor de Deus não é um amor superficial, mas é um amor sacrificial, capaz de nos dar tudo» – diz o celebrante em sua homilia.
São João Paulo II, em sua obra ‘Cruzando o Limiar da Esperança’ diz que «Se Jesus não tivesse morrido na cruz, ainda estaria por demonstrar o amor de Deus», relembra Pe. Rodrigo.
O Significado da Cruz de Cristo
O diálogo de Jesus com Nicodemos relembra também a história que está no Antigo Testamento, no livro de Números (cap. 21), sobre o episódio em que serpentes atacaram o povo de Israel que havia se afastado de Deus. O povo se arrependeu e acudiu a Moisés, que recebeu do Senhor a instrução para levantar uma serpente feita de bronze sobre um mastro e, todo aquele que ao ser picado, olhasse para aquela serpente, não sofreria os efeitos do veneno.
Jesus compara sua própria crucificação com a serpente, mesmo sendo a serpente um símbolo normalmente relacionado com o mal na Bíblia porque, na cruz, Ele está revestido de nosso pecados, esclarece Pe. Rodrigo. A partir daí, o celebrante relaciona os três motivos pelos quais Jesus morreu na cruz.
O primeiro motivo pelo qual Jesus morreu na cruz foi para mostrar o amor de Deus, que não precisava entregar seu próprio Filho e poderia simplesmente nos perdoar, mas Ele escolhe o sofrimento da Cruz porque, como relembra S. Agostinho, «desse jeito, nunca teríamos compreendido, nem conhecido o amor Deus».
A seguir, Pe. Rodrigo reflete sobre como o pecado é odioso. “Na cultura na qual vivemos hoje, nós não achamos que o pecado seja odioso». Muitas obras de arte e espetáculos usam o pecado para entreter e não olhamos suas consequências. E, o pecado sempre tem consequências – relembra Pe. Hurtado. Quando assistimos um filme de James Bond e vemos as “Bond Girls”, nunca vemos os corações partidos que James deixou para trás, nem o vazio e solidão que esse homem vive quando volta à sua vida normal.
«O pecado não é divertido. O pecado é odioso. Ele sempre tem consequências muito piores que o prazer momentâneo que nos proporciona. Se você quer saber quanto são odiosas as consequências do pecado», basta olha a Cristo na cruz.
A terceira coisa que descobrimos em Cristo na cruz é que a salvação é gratuita, mas não é barata. Deus nos oferece a Salvação sem custo nenhum, mas para Ele teve um custo infinito. Para criar o mundo, Deus precisou apenas pronunciar uma palavra, mas para nos salvar do pecado, «teve que morrer numa cruz e derramar até a última gota de seu sangue».
Diante disso, a nossa resposta a esse amor de Deus, na prática, passa pela rejeição do pecado, que não é inofensivo nem divertido, mas é odioso e destrutivo; viver em atitude constante de gratidão a Deus; lembrar o preço de nosso pecado, o peso que o pecado teve; e, levar essa mensagem do amor de Deus ao mundo inteiro, vivendo com autenticidade, mostrando com nosso próprios méritos, com nossa própria vida, como vivemos esse amor de Jesus.
Ao encerrar sua homilia, Pe. Rodrigo fez uma menção ao filme «Resgate do Soldado Ryan», protagonizado por Tom Hanks e Matt Damon. Após todo o sofrimento vivido por um capitão (Tom Hanks) para encontrar o solado, cuja mãe havia perdido todos os outros filhos na guerra, e trazê-lo de volta à casa, ferido de morte, esse capitão interpela o soldado para que «faça por merecer» todo aquele sofrimento. O filme termina com o soldado, já idoso, visitando o túmulo daquele capitão e perguntando se havia merecido aquilo.
Da mesma forma, o Padre Rodrigo nos relembra que devemos viver de maneira a merecer a morte do próprio Filho de Deus por nós. “Podemos colocar essas palavras de Jesus a Nicodemos em primeira pessoa: «Tanto te amou Deus, que te Deus seu Filho unigênito», encerrou Pe. Rodrigo
* Pe Rodrigo Hurtado, LC celebra a Missa todo domingo em seu canal de YouTube. Inscreva-se, ative as notificações e compartilhe.
Redação do Instituto Católico de Liderança