Do ateísmo ao neopaganismo
Há alguns meses, um assunto inusitado viralizou em todas as redes sociais e o tema era uma convenção de satanistas que se deu em um hotel de luxo na cidade de Boston, nos EUA, com o nome de Satancon 2023 e que prometia ser a maior convenção de satanistas do mundo.
O evento fez com que a Arquidiocese de Boston emitisse um comunicado pedindo para que os fiéis católicos não fossem diante do hotel protestar diretamente, mas que “inundassem o céu com orações” em desagravo diante de um evento que tinha em sua programação diversos atos considerados blasfêmias diante da fé católica, incluindo um “ato de reversão batismal”, em que o cidadão renunciaria a seu batismo na fé cristã.
Tal evento, promovido por um culto neopagão chamado Templo de Satã não só chama a atenção pela maneira moderna e articulada que foi realizado, mas por nos mostrar algo que estava passando despercebido até então, que é o crescimento, em ritmo acelerado, daquilo que se houve por bem chamar de “neopaganismo”.
O fenômeno neopaganismo nada mais é do que o ressurgimento de antigos cultos pagãos do passado, muitas vezes com uma roupagem modernizada, mas que, no fundo, não deixa de ser o culto a antigas divindades ou aos antepassados, contrários à fé cristã.
A diferença, agora, é que os cultos neopagãos que possuem mais adeptos, acabam por se organizar em comunidades e, em países com liberdade religiosa, acabam por conseguir o status de religião e passam a fazer parte da sociedade, ainda que sua praxis, muitas vezes, seja contrária aos costumes e à moral da sociedade em que estão.
Do ateísmo ao neopaganismo
Segundo uma pesquisa da Eastern Illinois University, pela primeira vez na história, o número daqueles que se declaram “sem religião” encostou no número de cristãos (católicos e evangélicos) nos EUA.
Pelo teor da pesquisa é possível perceber que entre esses “sem religião” não estão considerados somente os ateus e agnósticos, mas aqueles que deixaram uma religião tradicional em busca de uma nova espiritualidade que não seja tradicional, entre eles, os adeptos do neopaganismo.
No Brasil, pelo menos 1,5 milhão de pessoas se declararam adeptas de religiões pagãs no censo do IBGE. Os eventos dos adeptos da assim chamada bruxaria, por exemplo, já acontecem com milhares de pessoas em cidades como Paranapiacaba, SP.
As razões do crescimento do neopaganismo
Em primeiro lugar, uma das razões do crescimento dos cultos pagãos e do ateísmo é o materialismo reinante e difundido por ideologias revolucionárias oriundas do iluminismo e que culminaram no socialismo e comunismo atuais, e que contribuiu de maneira decisiva para que os homens deixassem de buscar a Deus como seu fim último.
O homem volta a colocar-se como centro de tudo e passa a cultuar a si mesmo como seu próprio deus, e os novos cultos pagãos, ou melhor dizendo, a releitura de cultos pagãos antigos, encontra aí o terreno fértil para a aquisição de novos adeptos.
A busca do bem estar pessoal, do prazer acima de tudo, do sucesso imediato, faz com que, cada vez mais pessoas se deixem levar pelas correntes neopagãs, que com diversos nomes e maneiras de cultuar suas divindades, não prometem nada mais do que a antiga serpente prometeu a Adão e Eva no paraíso.
O Catecismo da Igreja Católica é claro ao considerar que:
2113. A idolatria não diz respeito apenas aos falsos cultos do paganismo. Continua a ser uma tentação constante para a fé. Ela consiste em divinizar o que não é Deus. Há idolatria desde o momento em que o homem honra e reverencia uma criatura em lugar de Deus, quer se trate de deuses ou de demônios (por exemplo, o satanismo), do poder, do prazer, da raça, dos antepassados, do Estado, do dinheiro, etc., «Vós não podereis servir a Deus e ao dinheiro», diz Jesus (Mt 6, 24). Muitos mártires foram mortos por não adorarem «a Besta», recusando-se mesmo a simularem-lhe o culto. A idolatria recusa o senhorio único de Deus; é, pois, incompatível com a comunhão divina.
Um desafio que nos é apresentado
O crescimento do ateísmo e especialmente do neopaganismo se apresenta como um desafio. Por um lado, em decorrência de nosso batismo, por sermos cristãos, somos chamados por Deus à grande missão de “pregar o Evangelho a toda criatura” (Mt 16, 15) e, por outro lado, ao nos depararmos com a realidade que nos cerca, percebemos o quanto estamos falhando nessa missão encomendada por Deus.
O mundo de hoje exige que sejamos cristãos autênticos, tão autênticos quanto os primeiros cristãos que deram a vida nas arenas romanas e que germinaram uma Europa que, nos séculos seguintes, era quase que totalmente cristã.
Os tempos atuais também nos impõem, mais do que nunca, sermos totalmente conscientes daquilo que cremos, ou na linguagem de nosso primeiro Papa, Pedro, somos chamados a dar razão à nossa esperança (1Pd 3, 15). Pois, como poderemos ensinar nossos filhos a amarem e seguirem a Cristo – Caminho, Verdade e Vida – se não soubermos responder suas indagações quando seus amigos na escola lhes apresentarem outra coisa para crer?
O outro desafio que nos surge é em decorrência do fato de que o neopaganismo não só se manifesta nos cultos mais explícitos como o satanismo, a bruxaria, ou cultos esotéricos claramente anti-cristãos, mas também se apresenta numa falsa ecologia, num culto à Mãe Terra, à deusa Gaia, ou mesmo no culto ao próprio prazer, ao próprio conforto.
Portanto, cabe a nós, cristãos conscientes de nosso compromisso batismal, sermos testemunhas coerentes de nossa fé e nossa esperança em Cristo. Testemunho esse que requer de nós não um catolicismo passivo, de ir à Missa aos Domingos, mas sim, um catolicismo vivo, transformador, tanto da nossa vida e do nosso lar, como das realidades que nos cercam.