A imagem de Deus Pai
Nesse 2º domingo de Páscoa, Pe. Rodrigo Hurtado, LC, medita sobre a imagem que temos de Deus e revela 5 características que descobrimos a partir da ressurreição de Jesus Cristo.
Na semana passada, durante a homilia, Pe. Rodrigo revelou que, uma das consequências da Ressurreição de Jesus é que nossa visão da vida e do mundo fora ampliada. Neste domingo da misericórdia, a liturgia traz a perícope evangélica que narra a profissão de fé de Tomé e aí se percebe que a ressurreição de Cristo muda também a imagem que temos de Deus.
Pe. Rodrigo relata que para alguns, Deus é um pai zangado, que você nunca consegue satisfazer plenamente, que está sempre pronto a castigar. Para outros, Deus é como um «policial cósmico», ou seja, alguém que está acima de todo o universo vigiando, para punir que transgrida alguma norma. A imagem de Deus é a imagem do Papai Noel, isto é, alguém que leva uma lista das crianças boas e das más e revisa duas vezes antes de dar um presente. Para outros, Deus é como um gênio da lâmpada, que está a nosso serviço, sempre pronto, quase que obrigado, a satisfazer qualquer desejo ou qualquer capricho que podemos ter.
«Nesse Evangelho de hoje, nós conseguimos ver um pouquinho como é Deus realmente», ressalta Pe. Rodrigo.
O sacerdote esclarece que «a imagem que você tem de Deus determina sua vida, como você atua, mas sua imagem de Deus não é importante». O importante é como Deus é realmente. «Não é Deus que tem que se adaptar a nossa imagem, somos nós que temos que conhecer a Deus tal como ele é e, portanto, dirigir nossa vida de acordo com esse Deus exigente, amoroso, mas também verdadeiro, justo».
1. Deus é um Deus compreensivo com nossas fraquezas
Os apóstolos tinham abandonado Jesus, tinham feito tudo errado, estavam com medo. Jesus, por sua parte, sofreu muito. Além de ser abandonado, foi levado a um juízo injusto, foi flagelado, perdeu até sua última gota de sangue na cruz. Porém, ao ressuscitar, não busca vingar-se de quem lhe fez mal. O Senhor vem fortalecer a esperança, a fé dos discípulos.
«Deus não se escandaliza com nosso pecado. Ele é um Deus compreensivo com nossa fraqueza», enfatiza Pe. Rodrigo, que celebra a Missa por seu canal do YouTube todo domingo às 18h.
Quando Jesus aparece aos discípulos, a primeira coisa que diz é: « – A paz esteja convosco». E fala duas vezes. «E, por quê ele fez isso?» – pergunta Pe. Rodrigo. «Porque o coração dos discípulos estava cheio de remorso, de culpa. A culpa é um dos sentimentos mais destrutivos que existem e que podem habitar o coração humano».
«O que fazemos com as culpas? A primeira coisa que fazemos é tentar enterrar as culpas. Mas, as culpas são como zumbis que, durante a noite, voltam como espectros que nos perseguem». A segunda coisa que tentamos fazer com a culpa é jogar nos outros. Tentar culpar outros para eximir a nós mesmos, como fez Adão, depois que cometeu o primeiro pecado. A terceira coisa é tentar minimizar, diminuir a importância, mas isso também não funciona.
«A culpa é um sentimento que permanece sempre. A única coisa que podemos realmente fazer com a culpa é apresentá-la humildemente a Jesus. Deus é compreensivo com nossas fraquezas», relembra Pe. Rodrigo.
2. Deus é compreensivo com nossa necessidade prova
Deus é um Deus razoável. Ele não se escandaliza quando os apóstolos não conseguem acreditar nele, por isso precisamos restaurar a imagem que temos de Deus em nossos corações.
Tomé não exige uma prova por ser um incrédulo. Ao contrário, ele quer acreditar. Se Jesus ressuscitou, isso é grande demais. Se Ele realmente ressuscitou, Tomé precisava tocá-lo, precisava vê-lo. «E, Jesus não se escandaliza, ele sabe que nossa razão também exige suas provas», reforça.
A fé que Deus nos pede não é uma fé irracional. Ele criou a razão e, portanto, quer que nossa fé seja racional. «É razoável acreditar em Deus. Temos motivos para acreditar», ensina Pe. Rodrigo.
Não é que tudo o que acreditamos por fé, possamos provar. Isso seria racionalismo. Mas, por outro lado, Deus não quer que acreditemos em coisas completamente irracionais. Isso é fideísmo.
Nisso, a fé católica se diferencia de todas as outras religiões. O Islã não permite questionar o Corão. É a palavra de Alá e você não pode questionar, interpretar. Os judeus, como possuem uma série de contradições no Antigo Testamento, se aferram a uma série de rituais e de normas porque não dá para contextualizar, interpretar. O budismo, por sua vez, pede para fugir da natureza humana, negar a razão, negar os desejos, etc.
Existem muitas coisas na vida que não podemos comprovar e nós acreditamos. A fé e a razão andam juntas. «Por exemplo, eu nunca vi com meus olhos as pirâmides do Egito, mas tenho bons motivos para acreditar que existem. Eu nunca vi um vírus, mas acredito que os vírus existem. Nunca vi o príncipe Philip, também não sei se ele faleceu, mas tenho motivos para acreditar no que falam os jornais», continua Pe. Rodrigo.
Citando João Paulo II, na Encíclica Fides et Ratio (n. 2), Pe. Rodrigo ensina que «nós usamos a fé quando é razoável acreditar em algo. Acreditar em Deus é a coisa mais razoável que existe».
Por isso, Jesus não se escandaliza, e mostra suas mãos e sua feridas. Quer dar provas, porque esses apóstolos serão suas testemunhas. «Quando você precisar de uma prova, não tenha medo de pedir a Deus. Ele é compreensivo que nos dar motivos para acreditar».
3. Deus é um Deus fiel
É um Deus que não muda seu plano por causa de nossa infidelidade, por causa de nossas fraquezas, por causa de nossa traição. Os apóstolos realmente tinham mostrados que não eram dignos de cristo. Os apóstolos eram covardes. «Mas, apesar de toda essa fraqueza humana, Jesus não desiste dele».
«Não existe nada que você possa fazer que faça com que Deus desista de seu plano de amor para você. Ele nunca desiste de nós», reflete o Pe. Rodrigo. «Não se deixe escravizar por causa de suas culpas e por causa de seus erros. Jesus nunca desiste de nós. Siga sempre para frente, não tenha medo de ir a Deus e pedir perdão a Deus».
4. Deus também é um Deus próximo de nós.
No versículo 22 do Evangelho, vemos que Jesus sopra sobre seus discípulos e lhes envia o Espírito Santo e lhes dá o poder de perdoar os pecados. Jesus é próximo aos apóstolos porque não reserva para si o poder de perdoar, o poder de curar. Ele entrega aos apóstolos e à Igreja os sete Sacramentos. E, «com os sete Sacramentos nós temos a presença real de Cristo no meio da Igreja», relembra Pe. Rodrigo.
«Ele entrega o Batismo, o Crisma, a Unção dos Enfermos, a Eucaristia, o Perdão dos Pecados. Jesus fica conosco», indica o sacerdote. No final do Evangelho de Mateus, Jesus diz que ficaria permanentemente conosco até o fim dos tempos (Mt 28,20) e diz isso porque está conosco por meio dos Sacramentos.
«Sou padre, mas para mim a Igreja não é importante se ela não me pode dar a Cristo realmente através dos sacramentos. A única coisa que me interessa é Cristo», afirma Pe. Rodrigo. «Se a Igreja pode me dar a Cristo, pode me dar o perdão dos pecados, pode me fazer filho de Deus, dar a herança eterna, o Reino dos Céus, então eu acredito, e consagro minha vida e faço tudo para Deus. Mas, se ela não me dá isso, só me dá um ideal bonito de vida, ela não me interessa. Cristo está realmente presente nos sacramentos da Igreja».
Pe. Rodrigo, então, passa a outra reflexão sobre a presença da Igreja no mundo virtual. «Há pessoas que dizem ser uma maravilha, que podem ver tranquilos em sua casa. Outros dizem o contrário», conta. «Jamais a Internet vai substituir a presença real de Cristo. Não se trata de substituição. A internet não vem substituir, ela vem ampliar o alcance da igreja no mundo».
«Não há uma igreja na internet», afirma Pe. Rodrigo. «A presença de Cristo está na Eucaristia, no perdão dos pecados quando o padre te absolve, no batismo quando ele pronuncia as palavras e derrama a água na fronte da criança… isso você não faz pela Internet, aí está Cristo realmente presente». «Mas, a Internet permite alcançar e ter um apostolado, um ministério na Internet que antes não tínhamos e, portanto, se consegue chegar a outras pessoas que não poderiam estar na Igreja».
Pe. Rodrigo lembra que, tempos atrás, os católicos e não católicos se encontravam nas praças da cidade e aí estavam os padres que podiam conhecer outras pessoas e hoje, a arquitetura das cidades não está feita para integrar, mas para dar segurança e privacidade. «Então, como Deus vai chegar a esses prédios e esses condomínios? Através da Internet».
«Penso nas pessoas que, por limitações físicas ou por doença, não podem ir à Missa. Agora, por causa da pandemia, por exemplo. A missa não acabou, ela segue sendo, ao menos pela internet. Não é uma substituição, mas ajuda», continua Pe. Rodrigo.
«A Igreja acontecia só nas Igrejas e apareceu o rádio. O rádio não substituiu a Igreja, mas lhe deu uma nova presença. Depois, veio a televisão e foi a mesma coisa. Agora estamos no momento da Internet… São meios que nos ajudam, que ampliam, não substituem».
Pe. Rodrigo esclarece que «a presença real de Cristo no sacramento nunca poderá ser virtual. Mas, isso não significa que as coisas virtuais não sejam boas».
5. Deus é um Deus poderoso para cumprir suas promessas
Em sua homilia, Pe. Rodrigo ensina que «Deus nunca imaginou que você enfrentaria o mundo inteiro sozinho. Ele nos oferece uma vantagem sobrenatural, seu Espírito Santo».
Paulo experimentou isso, enfrentou o império Romano, a cultura pagã, mil obstáculos. Em sua carta aos Romanos (Rm 8, 11), ele escreve que «o mesmo Espirito que ressuscitou a Cristo, o Espírito Santo, habita em nós e não estamos sozinhos. «Deus é um Deus que escuta, consistente, poderoso, um Pai que jamais vai nos abandonar».
Por fim, Pe. Rodrigo, encerra dizendo que «vemos, portanto, que Deus é um Deus compreensivo, um Deus razoável. Deus é um Deus fiel, que não desiste de nós. Está próximo, através dos Sacramentos e espiritualmente. Que Ele é um Deus poderoso e, portanto, nunca ficaremos sozinhos e podemos vencer qualquer obstáculo e qualquer dificuldade».
* Pe Rodrigo Hurtado, LC celebra a Missa todo domingo em seu canal de YouTube. Inscreva-se, ative as notificações, deixe seu like e compartilhe.