O que diz a Igreja sobre o Mercado Financeiro?
Nesta última quinta-feira, no Café com Fé conduzido por Adriano Dutra, o economista Rodolfo Barreto e o Pe. Rodrigo Hurtado, LC, esclareceram o que é o Mercado Financeiro e o que a Igreja diz a seu respeito.
Rodolfo Barreto, sócio e gestor na área de fundos macro da Ibiuna Investimentos, mestrado em Matemática pelo IMPA, no Rio de Janeiro e graduado em economia pela Stanford University, falou sobre a origem do mercado financeiro de ações e trouxe um panorama sobre esse mercado no Brasil, atualmente, que corresponde a 70% do PIB nacional.
Barreto ainda fez uma comparação com o mercado financeiro americano em que 50% das famílias investem na Bolsa de alguma forma. No Brasil, somente 4 milhões de pessoas investem em ações, o que mostra ainda um grande espaço para crescimento.
O mercado financeiro, como um todo, possui, tanto para as empresas como para os governos, instrumentos éticos que beneficiam os comportamentos positivos e penalizam os comportamentos negativos.
Outro aspecto importante é a poupança, que tem um lado macro. Quanto mais se poupa, maior a capacidade de investimento de uma sociedade e maior a renda da população e, portanto, maior geração e circulação de riquezas.
Contudo, no aspecto micro econômico, principalmente entre as famílias de baixa renda, não há ainda a percepção da necessidade de poupar e essa noção precisa ser desenvolvida com o tempo.
O Pe. Rodrigo Hurtado LC, criador do aplicativo Seedtime, fundador e diretor do Instituto Católico de Liderança, esclareceu também que a função social da Bolsa de Valores é a realocação ou distribuição dos capitais de um país onde eles possam servir melhor e isso faz uma sociedade se desenvolver. No entanto, como tudo na vida, pode ser usado para o bem ou para o mal.
«Não vou entrar no tema da corrupção ou da atividade delitiva, mas a Igreja sempre teve uma visão de que o dinheiro serve para nosso próprio bem», continua Pe. Rodrigo. «O pecado é guardar o dinheiro só para mim». Há uma função social do dinheiro e o mercado financeiro é um meio para o crescimento da economia e o dinheiro deve ser usado de maneira consciente, investindo-se em empresas que deem segurança, cuja conduta esteja atrelada a valores, que tenham propósito. «A moral e a ética estão chegando à Bolsa de Valores».
Barreto complementa que, «no final das contas, a função principal da Bolsa para as empresas é a captação de recursos» e elas «têm o propósito de gerar lucro para seus acionistas, mas, o mais bonito é que as empresas que dão muito certo, geram um bom número de empregos».
O tema do Café com Fé também chegou nas criptomoedas que, para Rodolfo Barreto, têm dois aspectos. Um muito positivo, pois elas se tornaram uma referência de poupança também, mas, por outro lado, como elas não possuem um lastro, se torna difícil determinar qual é o valor certo para essas criptomoedas, o que pode gerar um componente de especulação, que pode ser perigoso.
Para Barreto, «gerar poupança numa moeda que tenha lastro pode dar mais conforto e menos risco». O gestor também se preocupa com o fato de que as criptomoedas, ao escaparem de todas as amarras legais e todas regulações, possam comportar componentes ilegais passando por esse mercado.
Logo após, os participantes também conversaram sobre as «bolhas» que acontecem no mercado financeiro, como elas podem ocorrer e o que se pode aprender com elas.
Barreto esclarece, por sua vez, que tentar controlar preços e investidores, que não seja por questões éticas, não é benéfico. «Quando se dá liberdade para que se exista novos investidores e novas empresas, descobre-se que é por aí que se consegue aumentar a produtividade de uma sociedade».
Pe. Rodrigo reforça que, na Doutrina Social da Igreja, a liberdade do mercado é vista com bons olhos, mas existem princípios que devem ser seguidos, como a busca do bem comum, o desenvolvimento integral do homem, a opção preferencial pelos mais pobres e o princípio da subsidiariedade.
Porém, quando a Igreja fala sobre mercado financeiro, «a Igreja está falando sobre algo que não é o forte dela. Jesus não falou da economia, mas falou de como se ir ao céu». Os Papas não falam como é o caminho que o mercado deve seguir, mas dá os princípios, recomendações.
Os participantes também discutiram sobre como deve ser, do ponto de vista da ética e da moral, a relação do investidor com o gestor ou consultor de investimentos e sobre a educação financeira dos jovens e como popularizar essa educação financeira especialmente entre a população de baixa renda.
Apesar do problema educacional que existe no Brasil, Barreto vê positivamente as possibilidades e a quantidade de informação que existe na Internet hoje, em relação ao que se tinha no passado. Todos podem ter acesso à informações sobre o mercado financeiro e o desafio é ensinar quais informações são corretas para o aprendizado, além de incentivar sobre a importância desse aprendizado.
Pe. Rodrigo também relembra que as empresas devem exercer sua própria função social, pagar os funcionários de maneira justa, pagar devidamente os impostos. «As empresas percebem que não basta lucrar, mas também precisam de um propósito», afirma.
Ao abraçar um propósito, os funcionários estarão mais engajados, a empresa demonstra para o mercado uma maior credibilidade e dá à vida de seu CEO um sentido: «ser um líder que transforma a sociedade». Ainda que, para se fazer isso, tenha que se inovar, que ir contra o status quo, muitas vezes.
Por fim, Barreto lembra que esse processo de pandemia que estamos vivendo tem um lado muito triste, das pessoas que estão sofrendo com o vírus, mas tem um lado que força uma reflexão de todos sobre «o que é mais importante na vida». E, por sua vez, Pe. Rodrigo reforça que «temos que ter em conta os princípios que a Igreja nos propõe» e que o mercado financeiro sirva para se fazer o maior bem possível.
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Redação do Instituto Católico de Liderança