Refugiados: integrar é preciso
Nesta quinta-feira, o convidado do podcast Café com Fé é o professor e fundador do Instituto Adus, Marcelo Haydu e ele vai refletir com Adriano Dutra sobre os desafios que são enfrentados por aqueles que se veem obrigados a deixar sua casa, sua terra natal, para poderem sobreviver em um país estrangeiro.
Haydu explica que «o refugiado é um imigrante, só que é um imigrante forçado. Ele foi forçado a sair do seu país de origem». «O refugiado tem que migrar porque está sendo perseguido, seja pela sua raça, seja por sua religião, seja pela sua nacionalidade, seja pela sua opinião política ou por pertencer a um determinado grupo social».
«Mais Recentemente» – continua Haydu –, entende-se como refugiado também pessoas que migram por conta de grave e generalizada violação de direitos humanos ou por estarem em países que passam por conflitos armados.
Marcelo também comenta que as pessoas confundem muito o refugiado com o asilado. «O asilo tem a ver com perseguição política, estritamente. Um asilado pode pedir asilo dentro de seu próprio país. Basta ele ir para uma embaixada ou consulado e formalizar seu pedido». Já no caso do refúgio, isso não acontece. É necessário a extra-nacionalidade. A pessoa precisa estar em outro país e ali solicitar o refúgio. Há pessoas que chegam com visto de turismo e há aqueles que entram ilegalmente. «Essas pessoas, muitas vezes, não tiveram tempo hábil nem dinheiro para se prepararem para ir para o outro país», relata Haydu.
Essas pessoas que buscam refúgio são dirigidas à Polícia Federal e recebem um protocolo que funciona como uma espécie de CPF. Assim, eles podem trabalhar e estudar normalmente. Porém, cabe a um órgão do governo julgar cada caso e determinar se tal solicitante de refúgio é realmente um refugiado ou não.
Refugiados no Brasil
Haydu informa que atualmente, a grande maioria das pessoas que chegam ao Brasil, chegam por razões de violação de direitos humanos, como os Venezuelanos; e pessoas que vêm por conta de conflitos armados, como os Congoleses, Sírios e Palestinos. E também há quem chegue por perseguição política, vindos de ditaduras da América Latina ou da África. Por fim, os pertencentes a determinado grupo social, como mulheres e homossexuais.
«A gente está vivendo hoje a pior crise humanitária em termos de deslocamento forçado», constata Haydu. São 82,5 milhões de pessoas que foram obrigadas a sair de seus lares. Desse contigente de 82,5 milhões de pessoas, cerca de 40 milhões são de deslocados internos. Pessoas que foram perseguidas, que sofreram violação de direitos humanos, mas não conseguiram transpor fronteiras. São como se fossem refugiados dentro do próprio país. Essas pessoas dependem quase sempre de ajuda humanitária de organizações internacionais. Cerca de 23,5 milhões de pessoas são refugiados. E cerca de 5 milhões de solicitantes de refúgios. Pessoas cujo processo ainda está tramitação. Mais da metade dos refugiados são menores de 18 anos e se somar mulheres, o número sobe para quase 80% do número total de refugiados.
O fundador do Instituto Adus também ensina que, apesar de se falar muito de refugiados indo para a Europa ou indo para os EUA, contudo a realidade é diferente disso. «O lado mais dramático do refúgio fica dentro da própria região». Marcelo conta que o país hoje que mais recebe refugiados hoje é a Turquia, por conta do conflito Sírio e na lista dos 10 países que mais recebem refugiados em todo mundo, quase todos eles são do Oriente Médio e África. Na Europa, o país que mais recebe refugiados é a Alemanha.
Um fenômeno político-econômico
Quando se fala em imigração, há que se ter em conta também, segundo Haydu, o panorama político-econômico. «Se a França, por exemplo, num determinado momento mantem uma política de portas abertas a imigrantes, pode ser porque haja falta de mão de obra no país e eles precisem dessa força vinda dos imigrantes, mas, se em determinado momento, o país passa por alguma recessão, certamente esses imigrantes serão tratados de outra maneira». «É o que está acontecendo hoje na Alemanha e em outros países e a justificativa de todos é a pandemia de COVID19».
O trabalho do Instituto Adus
«Quando o Adus iniciou esse trabalho em 2010, tinha poucas pessoas no Brasil», recorda Haydu. «Quando eu comecei a estudar esse tema em 2006, a gente tinha entre refugiados e solicitantes de refúgio, menos de 10 mil pessoas, então isso passa desapercebido. O que são 10 mil pessoas para o tamanho do Brasil? Não é nada! Hoje, a gente está falando entre refugiados e solicitantes de refúgio, e pessoas que têm o visto humanitário mais de 300 mil pessoas. Isso começa a incomodar. Movimentos de aversão vem numa crescente, sobretudo depois da vinda dos sírios».
O Instituto Adus vai completar 11 anos de vida em outubro e seu foco é a Integração dos refugiados, auxiliando esse público com capacitação e geração de renda. Nesse sentido, o Adus oferece aulas de português, capacitação para o mercado de trabalho, a inclusão dessas pessoas no mercado de trabalho, fazendo um elo entre os refugiados e as empresas e, especialmente, sensibilizando os setores de RH das empresas. Por fim, «criamos um negócio social com uma escola de idiomas na qual os professores são refugiados e ministram aulas de inglês, francês e espanhol», informa Haydu. «Já beneficiamos quase 10 mil pessoas de 55 nacionalidades diferentes».
O Papel da Igreja
Para Haydu, «a Igreja Católica tem um papel fundamental no processo de acolhimento de solicitantes de refúgio e refugiados no Brasil, historicamente». «As Organizações mais antigas no Brasil são as instituições católicas. Eu poderia citar a Cáritas, que é a organização mais antiga que acolhe refugiados no Brasil». Sobretudo, no abrigamento, nos albergues. «A grande maioria dos albergues historicamente são vinculados à Igreja católica».
Haydu explica também que o atendimento espiritual dos refugiados é um tema complexo, pois há refugiados do mundo tudo, oriundos de diversos credos. Mesmo nos albergues católicos, há um respeito ao credo original das pessoas. «As pessoas enxergam e veem nas Igrejas não só um momento de ampliação ou de uma nova formação de uma rede de relacionamentos, de um conforto espiritual, mas também de um suporte material. Os membros da Igreja tem tido essa responsabilidade de dar esse suporte para essas pessoas que chegam. É muito comum, logo que eles chegam, procurarem informações dos locais do seu culto religioso».
Por fim, Haydu reforça o convite para que as pessoas entrem no site do Instituto Adus e conheçam mais de perto o trabalho e a causa do refugiado. «De alguma forma, somos todos imigrantes… nosso avô ou nosso bisavô vieram de outro país… e é por isso que nós estamos aqui anos e anos depois e, por que não receber bem essas pessoas, e não tratá-las com carinho e com respeito? Antes de nacionalidade ou cor de pele, somos humanos. É isso que Cristo sempre pregou, o amor ao próximo independente de quem seja essa pessoa».
- O podcast Café com Fé é transmitido ao vivo pelo canal do YouTube do Instituto Católico de Liderança e também pode ser encontrado nos melhores aplicativos de podcast e no aplicativo de meditações católicas Seedtime, que está agora em sua versão 2.0. Baixe agora mesmo o Seedtime e conheça os novos conteúdos e facilidades do aplicativo.