Um olhar sobre o Círio de Nazaré
No Café com Fé dessa quinta-feira, 20 de maio, Adriano Dutra recebe a Fotógrafa e Engenheira Química Soraya Montanheiro para falar sobre seu livro Guarda O Círio de Nazaré.
Soraya, que é formada pelo International Center of Photography, em Nova York, fotografou a maior festa religiosa da Região Norte do Brasil, em honra a Nossa Senhora de Nazaré, conhecida como Círio de Nazaré.
«Eu sempre estudei muito a fotografia documental nas festas religiosas. Sempre tive alguns fotógrafos brasileiros que eu seguia, que me inspiravam e que eu gostava muito. Era um tema que chamava muito a atenção», revela Soraya, que disse ter sido provocada por um fotógrafo amigo a vivenciar essa experiência em Belém do Pará.
Ela conta que foi para Belém, em outubro, quando ocorre a festa, com pouco conhecimento sobre a festa e, na primeira vez, nem conseguiu ver todo o material lá, mas quando voltou a São Paulo, onde reside, e ao submeter as fotos a uma leitura de portfólio percebeu a presença constante, nas imagens, de homens uniformizados, que não eram de nenhuma força policial.
Voltando em dezembro para lá, descobriu a Guarda de Nossa Senhora de Nazaré. «Cheguei e me deparei com uma sala lotada de Guardas de Nazaré e eles me explicaram o que eram», explica Soraya, que ainda ensina que eles não têm só um trabalho durante o Círio, mas é um trabalho permanente, de evangelização, de cuidados com a Basílica. A Guarda também viaja junto à imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré.
Nesse momento, o coordenador dessa que é considerada a maior guarda católica civil do mundo, convidou Soraya para acompanhá-los em suas peregrinações com a imagem de Nossa Senhora.
«Eu tinha a consciência de que o material seria muito grande», confessa Soraya que, ao conversar com uma amiga, produtora cultural em Belo Horizonte, resolve produzir um livro em cinco anos, com a curadoria de Juan Esteves.
Nesses 5 anos, a livro acompanharia 5 mudanças do manto da imagem de Nossa Senhora, que todo ano é trocado, segundo uma tradição da festa.
Soraya diz que não queria fazer um livro só do Círio, mas ela considera que o livro seja especial por ser o olhar de dois paulistas sobre essa grandiosa festa da região norte do Brasil e que está, de certa fora, arraigada na população paraense. «Quem vê o livro é como se nunca tivesse tudo contato com o Círio».
A fotógrafa também conta que a Guarda de Nazaré, surgida em 1974, conta com dois mil homens maiores de 18 anos e, a partir dela, surgiram outras guardas, como a guarda de apoio feminina e a guarda mirim. A pertença à Guarda também é uma tradição que é passada nas famílias e «é uma forma de trazer o homem para dentro da Igreja, para sua oração, para sua devoção, para sua doação ao outro».
«São homens e famílias que, para mim, são grande exemplo. Hoje são minha família também. É um grande exemplo de devoção, de perseverança, de entrega ao outro», exclama Soraya.
Soraya, ao falar sobre a apresentação do manto, que ocorre todo ano em uma Missa especial, revela que o olhar da Guarda de Nazaré para Nossa Senhora «é como se fossa a primeira vez que ela tivesse aparecido para eles».
Segundo Soraya, para fazer parte da Guarda de Nazaré, o homem é convidado por um “padrinho”, que fica responsável por ele e recebe um treinamento, mas ela acredita que trata-se de um chamado divino.
«O Círio de Nazaré é muito complexo», informa Soraya. «As pessoas pensam que é só o domingo do Círio. O Círio de Nazaré é um conjunto de procissões. Nós temos a romaria fluvial, o traslado para Ananindeua… é a maneira deles levarem a Imagem Peregrina à maior quantidade de devotos possível… são 15 dias de festejo».
Soraya também mostra em suas fotografias que «o paraense é intenso em tudo e na demonstração da devoção ele também faz com intensidade, totalmente aberto. «Isso eu aprendi muito com eles. Essa expressão de devoção».
«O Círio é muito lindo e para um fotógrafo, a gente tem tudo na mão», diz Soraya. «Porque ele tem gente, ele tem emoção, ele tem cor. É difícil de fotografar, mas o cenário está pronto».
Soraya também esteve acompanhando o Círio no último ano, quando o mundo foi assolado pela pandemia de corona vírus e as festividades tiveram que seguir rigorosos protocolos sanitários. Ela conta que foi um Círio diferente, silencioso, mais introspectivo. «Nosso trabalho é esse, o cinegrafista, o fotógrafo documental, a gente trabalha para ajudar o tempo a contar a história».
Suas fotografias também ganharam uma exposição no Museu de Arte Sacra de São Paulo e ela revela que não se conformava de seu livro não ter imagens de Nossa Senhora de Nazaré em sua cidade. Contudo, no lançamento da exposição, a Imagem Peregrina veio de Belém, acompanhada de aproximadamente 100 pessoas e foi recebida como Chefe de Estado em São Paulo. Honra que lhe é concedia tradicionalmente em Belém, por reconhecimento da Marinha do Brasil. Porém, na capital paulista, ela, que já havia sido levada de barco e avião, foi levada de Metrô, da Catedral da Sé até o Museu.
Ao comentar fotografias de devotos na festa paraense, Soraya conta que «como fotógrafa documental tenho um grande respeito pelo devoto quando ele está rezando. Eu perco algumas cenas. Eu não quero invadir. A conexão do devoto com o divino, nesses momentos, quando a Imagem Peregrina está presente, parece-me que é muito estreita e a gente não tem o direito de interromper esse momento. São fotos que eu faço com uma teleobjetiva, afastada. Nesses momentos a gente tem que ter muito cuidado e muito respeito».
Esse Café com Fé foi bem visual, com a apresentação de muitas fotos de Soraya e pode ser visto, na íntegra, pelo canal do YouTube do Instituto Católico de Liderança.
«Eu só posso falar que é preciso viver o Círio. O Círio precisa ser vivido», finaliza Soraya, que também recorda que «O Círio não é só na quadra nazarena, temos que trazer para nosso dia a dia, nosso ano inteiro… temos que cuidar, cultivar a devoção Mariana. Temos que estreitar nosso relacionamento com Maria».
O Círio de Nazaré ocorre todos os anos, em Belém do Pará, no segundo domingo do mês de outubro e sua procissão principal reúne mais de 2 milhões de pessoas que acompanham o andor, ou Berlinda, como é conhecida, com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré em um cortejo de barco pelos rios da região amazônica e depois, por toda aquela região, situada no Norte do Brasil.
O Café com Fé é transmitido ao vivo pelo Instagram @liderescatolicos e pelo YouTube do Instituto Católico de Liderança. O podcast também pode ser ouvido no aplicativo Seedtime e está nos melhores aplicativos de Podcast.