Em sua homilia do 3º domingo do tempo comum, Pe. Rodrigo Hurtado LC nos ensina que a Palavra de Deus não é para ser somente lida, mas é para ser aplicada pois ela é viva e transforma nossa vida.

Pe. Rodrigo inicia sua homilia comentando o trecho do Evangelho de S. Lucas e comenta que Jesus, hoje, está na moda. Há dois anos lançaram o seriado The Chosen, mas também tivemos a Paixão de Mel Gibson e outras tantas produções sobre a vida de Jesus. Nós também vemos todo tipo de opiniões diferentes sobre Jesus. Uns dizem que era só um sábio, outros dizem que Ele nunca quis fundar uma Igreja, outros dizem que era um revolucionário político… E parece que cada um interpreta Jesus de um jeito diferente.

Então, a pergunta que fazemos é a seguinte: É possível realmente conhecer Jesus?

É possível conhecer suas intenções, aquilo que Ele realmente quis nos ensinar, ou isso chegou até nós de maneira distorcida? A resposta clara, que a Igreja sempre teve ao longo dos séculos é: Sim, podemos conhecer Jesus. Mas, então, como é possível conhecer Jesus?

Lucas faz uma introdução em seu Evangelho e nos diz duas coisas. Primeiro, que os fatos que ele vai narrar lhe foram transmitidos por testemunhas oculares. Lucas era um discípulo de Paulo e enquanto Paulo estava preso, ele se dedicou a viajar e a verificar os dados que, depois, colocaria em seu Evangelho. A segunda coisa que Lucas fala é que ele mesmo verificou tudo.

Contudo, o Evangelho não é um texto histórico, do ponto de vista da crítica e dos textos científicos modernos. Ele tem uma finalidade apologética. Ele quer transmitir os ensinamentos de Jesus e quer converter as pessoas.

Igual aos outros evangelistas e os apóstolos, Lucas tem o interesse de converter as pessoas, portanto, seu Evangelho não é um documento histórico, mas, por outro lado, ele é sim um documento que narra fatos que foram testemunhados. Lucas não é um historiador, no sentido moderno, mas ele faz um estudo completo, conferindo cada fato.

Jesus não é uma história, mas sim um homem, que viveu, que caminhou entre as pessoas, que falou… tanto que na narrativa do nascimento de Jesus e do início de Sua pregação, Lucas nos traz todas as coordenadas políticas, geográficas e temporais, e isso faz com que o Evangelho de Lucas, como os demais Evangelhos, tenham um valor único de nos transmitir o que realmente aconteceu dois mil anos atrás.

Etapas de surgimento do texto dos Evangelhos

Os textos evangélicos foram escritos, portanto, em três etapas. A primeira etapa ocorre quando Jesus começa a pregar, a transmitir seus ensinamentos. Quando Ele faz isso, ele não deixa um texto escrito de próprio punho, ainda que os Evangelhos deixem claro que ele sabia ler e escrever, mas ele utiliza de estratégias para que as pessoas retivessem seu ensinamento, como, por exemplo, as frases de impacto.

Por exemplo, consciente de que os judeus já levavam em seu coração o Salmo 23 que dizia que Deus era o Pastor, Jesus ao referir-se a si, diz que Ele é o Bom Pastor. O Salmo 27 também diz que o Senhor é a luz e a salvação e, então, chega Jesus e diz que Ele é a luz do mundo. Essas frases breves, que definem quem é Jesus, são frases fáceis de se lembrar.

Jesus também usava paralelismos, como quando Ele fala que «o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir». Ele também usava antíteses: «Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por amor de Mim e do Evangelho, salva-la-á». Ele era muito hábil no uso das palavras, mas em outros momentos ele usava imagens, como a rede lançada ao mar, ou o tesouro escondido. Contudo, a maneira mais famosa de Jesus ensinar eram as parábolas. Ele contava histórias.

Logo após a morte e ressurreição de Jesus, começa a segunda etapa da confecção dos Evangelhos. A partir daí, os Apóstolos saem a pregar em todas as partes esses ensinamentos que escutaram de Jesus e vão selecionando de acordo com as necessidades de cada público.

Um terceiro momento ocorre aproximadamente 30 anos depois da ressurreição de Cristo, quando dois apóstolos de Jesus e outros dois, que eram discípulos dos Apóstolos, decidem escrever todos esses ensinamentos para que não se percam, para que fiquem como um corpus organizado para que se possa transmitir mais facilmente. Eles pretendem oferecer uma espécie de ensinamento mais sistemático às primeiras comunidades cristãs que já haviam se formado.

Nesse momento, cada evangelista ressalta os traços de Jesus de acordo com sua visão e o público ao qual o texto era dirigido. Por exemplo, Mateus escreveu para os judeus e, por isso, ele ressalta em seu texto o fato de que Jesus era o Messias esperado por eles. Lucas, por escrever para pagãos, tem que explicar em seu texto as tradições judaicas que, para os judeus, eram óbvias.

É difícil ler a Bíblia?

Muitas pessoas alegam que é difícil ler a Bíblia, que é difícil de compreendê-la. Obviamente, que nem sempre a Bíblia tem uma fácil compreensão, porque foi escrita em um tempo e uma cultura diferente da nossa.

Mas, para compreender a Bíblia, precisamos compreender que as Sagradas Escrituras não são um texto apenas para ser lido, mas nessas páginas está o Espírito Santo que quer falar conosco, também hoje, e não somente aos homens do passado. Portanto a leitura da Bíblia deve ser feita, em primeiro lugar, com oração, pois é Deus mesmo que quer falar conosco através de sua Palavra, que é uma carta de amor para cada um de nós.

Em segundo lugar, a Bíblia é um livro para ser aplicado. Se lemos a Bíblia, mas não aplicamos em nossa vida seus ensinamentos, ela permanece fechada para nós. Só descobrimos o sentido profundo da Palavra de Deus colocando-a em prática em nossa vida.

Só depois de uma leitura com oração e de colocar em prática os ensinamentos das Sagradas Escrituras em nossa vida é que devemos, portanto, estudá-la. E, por fim, a Bíblia é um livro que precisa ser transmitido. Ela não foi escrita, como já foi dito, para ser um documento histórico, mas para que pudéssemos transmitir os ensinamentos de Jesus para os outros. É próprio do cristão ser uma pessoa que não perde a oportunidade para falar de Jesus às outras pessoas.

Por fim, S. Jerônimo, o tradutor da versão oficial de toda a Bíblia para a Igreja católica dizia que «o desconhecimento das Escrituras é desconhecimento de Cristo». Nós não conhecemos a Cristo se não conhecemos a Bíblia e a colocamos em prática e, se não conhecemos a Cristo, não conheceremos a Deus.

Quatro conselhos simples para ler a Bíblia

Primeiro, quando formos ler a Bíblia, oremos. Sempre que formos ler a Bíblia, devemos começar orando. O segundo passo é meditar nos versículos escolhidos. Ao ler um trecho dos Evangelhos, por exemplo, preste atenção em cada versículo. Pe. Rodrigo explica que meditar é focar nossa atenção em um versículo, por exemplo.

O terceiro passo é buscar uma aplicação concreta da Palavra de Deus em minha vida, após meditar no trecho lido. A Bíblia foi feita para transformar nossa vida, não para ser ensinada em uma aula sobre temas bíblicos. E, finalmente, o quarto passo, é que devemos aprender, pelos menos, um versículo da Bíblia, por dia, de cor, pois quando nós aprendemos de cor a palavra de Deus, ela fica habitando dentro de nós.

  • Pe. Rodrigo Hurtado LC transmite a celebração da Santa Missa aos domingos, às 18h, através de seu canal do YouTube. Acesse o canal, inscreva-se, curta os vídeos e compartilhe com aquelas pessoas a quem você ama.