Neste domingo, a Igreja comemora a Solenidade da Santíssima Trindade, uma festa que nos coloca diante de um grande mistério da unidade do amor de Deus, um dogma que é indecifrável para os teólogos.

Tudo em nossa vida de católicos está marcado pela Trindade. Somos batizados em nome de um Deus que é trino, Pai, Filho e Espírito Santo e, quando partimos desta vida, o rito de exéquias também nos coloca diante da Trindade Santa.

Toda vez que iniciamos um ato religioso, o fazemos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Também é assim na própria liturgia da Igreja.

Para um cristão, o mistério da trindade está presente em toda a vida. Na verdade, está presente em toda a criação. Deus tudo o que criou o criou à sua imagem e, talvez, um dos motivos pelos quais encontramos tantas contradições no mundo é precisamente porque a realidade não é simples, mas complexa.

Para nós cristãos, a Trindade foi uma revelação de Jesus. No evangelho que escutamos, vemos que Jesus envia os apóstolos a batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. É a primeira vez que ele expressa tão claramente essa existência da Trindade.

João afirma na sua carta que “Deus é amor” (1 João 4, 8) e, com isso, entendemos porque precisa ser uma Trindade: Todo amor tem alguém que ama, alguém que é amado e o amor entre eles dois. Deus é uma família, não um Deus sozinho e narcisista.

Uma realidade complexa

  • Se vocês pensam na fé católica, sempre mantemos os extremos opostos unidos.
  • A providência divina e a liberdade humana
  • A graça e as obras
  • Jesus é homem e, ao mesmo tempo, é Deus
  • Deus que é justo e, ao mesmo tempo, misericordioso
  • Maria é virgem e é mãe
  • Deus que é um e ao mesmo tempo três

Todos são mistérios que não têm solução e é preciso afirmar as duas coisas e nunca reduzir um extremo ao outro. Deus fez tudo nessa polaridade.

É próprio de um homem de fé saber manter juntos os dois extremos da realidade e buscar a harmonia e o equilíbrio. Isto é algo extremamente difícil hoje.

Isso tudo é um reflexo da Santíssima Trindade, em que Deus é um só Deus, mas é três pessoas distintas, e a lição que podemos aprender disso é aprender a lidar com o contraditório, não cair nos extremos.

Hoje vivemos em um mundo extremamente polarizado. Seja na política, seja na polarização racial, polarização entre homens e mulheres, mas Deus é o Deus das coisas diversas. Ele criou tudo diferente, mas não para que as coisas fossem opostas, mas complementares.

Na Bíblia, no antigo testamento, também vemos uma situação parecida, de polaridade, de divisão.

Quando Davi ficou mais velho, ele nomeou Salomão como seu sucessor. Porém, ocorre que Salomão era o filho caçula de Davi, cujo primogênito era Absalão, que se rebelou contra seu pai, junto a grande parte de Israel.

Por aqueles dias Davi escreveu o salmo 60:

“Abalaste a terra, e a fendeste; sara as suas fendas, pois ela treme.” (Salmo 60, 2)

Mas, Davi termina com uma oração:

“Concede aos que te reverenciam um estandarte a ser seguido, em nome da verdade. Salva-nos com tua mão direita e responde às nossas súplicas, para que sejam libertos aqueles a quem amas.” (Salmo 60, 4)

Deus ajudou Davi a vencer aquela divisão. Absalão começou uma guerra que perdeu, mas isso não acabou com as divisões. Superar as divisões é algo muito mais difícil e precisa da colaboração de todos.

Mas, Davi, com humildade e persistência, superará essa crise, restaurará Israel e Salomão herdará um reino unido e nos anos de seu maior esplendor econômico e social.

Porém, a resposta de Deus à oração de Davi foi a seguinte:

“Se esse meu povo se humilhar, orar e buscar a minha face, e se afastar dos seus maus caminhos, dos céus o ouvirei, perdoarei o seu pecado e curarei a sua nação.” (2 Crônicas 7, 14)

Portanto, Deus realmente quer e pode curar as divisões de uma nação, de um matrimônio, dentro de uma empresa, etc., mas há quatro condições, que estão descritas neste texto.

1. Reconhecer nossos erros com humildade

A raiz de todos os problemas humanos é sempre o orgulho, a auto-suficiência, a soberba, a independência. Julgamos tudo como se fôssemos deuses.

“Deus se opõe aos arrogantes, mas concede graça aos humildes.” (Tiago 4, 6)

A pergunta que temos que nos fazer é a seguinte: Queremos ser curados? Que queremos de essa ou aquela relação? O que quero dessa pessoa? Quero que nosso país seja curado? Isso é importante para mim? Se a resposta for sim, comecemos sempre por nós mesmos.

2. Orar com sinceridade

A segunda condição que Deus coloca é orar, e não é qualquer oração, mas trata-se de uma oração sincera, que sai do profundo do coração.

“Perseverai na oração, vigiando com ações de graças. Rogai, ao mesmo tempo, de igual maneira por nós, para que Deus abra uma porta para nossa mensagem.” (Colossenses 4, 2)

E como podemos ser sinceros na oração? Sendo mais específicos.

“Orai no Espírito em todas as circunstâncias, com toda petição e humilde insistência.” (Efésios 6, 18)

3. Buscar a face de Deus apaixonadamente

A terceira condição para ser curados por Deus, depois de reconhecer nossos erros com humildade, orar e agora, buscar a face dele.

Este é um ponto importante. Quando existem duas opiniões diferentes, precisamos ter algo em comum para chegar a um acordo. Precisamos ter um mesmo fim, se não a convergência nunca será possível.

A busca de Deus, da vontade de Deus, da verdade de Deus, deve ser nosso foco primário. Só assim podemos deixar nosso orgulho e chegar a encontrar a verdade e o bem para todos.

“Eu amo os que me amam, e os que diligentemente me buscam me acharão.” (Provérbios 8, 17)

4. Voltar aos caminhos de Deus

Aqui podemos nos lembrar daquela passagem do Evangelho que narra o encontro de Jesus com a mulher que foi pega em flagrante adultério. Depois que todos os fariseus se retiraram e ela ficou sozinha, Jesus lhe pergunta: “Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?”

Ela responde: “Ninguém Senhor”. E Jesus simplesmente diz:

“Nem Eu te condeno; podes ir e não peques mais.” (João 8, 11)

Jesus não deu um longo sermão. Não recrimina à mulher seu pecado, simplesmente diz: “Não peques mais”. Temos que mudar de vida, essa é a prova do nosso amor e da nossa mudança de vida. Melhor que promessas e juramentos.

Ao final, só existe uma única solução contra o grave problema que estamos vivendo: não é uma solução política, não é uma fórmula econômica, não é uma solução social, educacional ou psicológica… É uma solução espiritual. Que nossos corações sejam transformados por Deus.


Assista à homilia do Pe. Rodrigo Hurtado LC, na íntegra, através de seu canal de YouTube, ou tenha acesso a um conteúdo de Estudo Bíblico da liturgia dominical do ano todo com o curso Conhecer e Viver a Bíblia, que está em nossa loja aqui no site.