
Cássia: Onde as Rosas Brotam das Chagas
Escondida entre os vales verdes da Úmbria, no centro da Itália, repousa uma cidade silenciosa, medieval e mística: Cássia. Vista do alto, ela se apresenta como uma pintura renascentista em tons de pedra e céu. Mas não é a estética que torna Cássia um destino espiritual. É algo mais profundo. Invisível aos olhos, mas que se sente no ar: uma presença. A de uma mulher, esposa, mãe, viúva, religiosa e, sobretudo, santa.
Santa Rita de Cássia, cuja vida os séculos não conseguiram apagar, ainda hoje transforma peregrinações em conversões e dores em esperança.
Uma geografia de fé
Cássia não é apenas o cenário da vida de Santa Rita. É um território impregnado por sua história, marcada pela cruz e pela fidelidade. Ao caminhar por suas ruelas estreitas, pedras antigas parecem ainda ecoar os passos da jovem Margherita Lotti — o nome de batismo de Rita — e os longos silêncios de suas orações, que amadureceram sob o peso de um matrimônio difícil, da perda dos filhos e, mais tarde, da consagração total a Cristo no convento das Agostinianas.
A cidade abraça os peregrinos com uma delicadeza que não se explica. Tudo em Cássia parece oferecer repouso ao coração atribulado: o som do sino que ressoa do alto do santuário, o cheiro doce das flores junto ao relicário, o vento suave que desce das colinas como quem sussurra uma promessa de paz.
O Santuário de Santa Rita: centro de uma espiritualidade ferida e fecunda
O grande santuário dedicado à santa é o coração vivo da cidade. Ali repousa o corpo incorrupto de Rita, exposto à veneração dos fiéis como sinal de esperança e ressurreição. O ambiente é simples, mas a graça é tangível. Não há quem saia ileso daquele lugar: mães, esposos, jovens, religiosos, líderes. Todos encontram em Santa Rita uma irmã que, mesmo entre espinhos, floresceu.
A rosa — símbolo da santa — não é mero ornamento devocional. É, antes, uma profecia viva: de que a dor pode gerar beleza, e a fidelidade na cruz é fecunda. Como líderes católicos, é impossível não se questionar: qual o perfume que brota das nossas feridas? Que testemunho deixamos nas pedras da nossa história?
Uma escola de liderança silenciosa
Santa Rita não foi teóloga, nem fundadora, nem mártir. Foi obediente. Foi fiel. Viveu cada etapa da vida comum com uma santidade extraordinária. Talvez por isso, sua figura seja tão atual para o nosso tempo e especialmente para aqueles chamados à liderança.
Ela nos ensina que o poder de transformar não vem de cargos, mas da docilidade à vontade de Deus. Que a reconciliação pode custar caro, mas gera frutos eternos. E que a santidade não é uma fuga do mundo — é um modo mais radical de habitá-lo.
Cássia: um retiro natural e sobrenatural
Visitar Cássia é mais do que fazer turismo religioso. É experimentar um retiro em movimento. A paisagem convida à contemplação. Os lugares sagrados — como o Mosteiro onde Santa Rita viveu por mais de 40 anos — ensinam pelo silêncio. E a história da santa, gravada nas paredes e corações da cidade, fala com delicadeza a quem busca direção, cura, vocação.
Para líderes católicos, Cássia não é apenas um destino. É um chamado.
Um convite à reconciliação entre ação e oração, entre missão e cruz, entre fé e realidade. É um lembrete de que não há dor estéril quando se vive por amor. E que as causas impossíveis são, na verdade, o campo onde Deus gosta de operar.
“Ó Santa Rita, mulher ferida pelo espinho do Crucificado, ensina-nos a florescer onde Deus nos planta.”