Em sua homilia desse Domingo, Pe. Rodrigo Hurtado LC reflete sobre as cinco maneiras de gerir sabiamente o dinheiro que são ensinadas por Jesus. O padre também recorda que todos os bens que temos, nos são emprestados por Deus e nós somos os administradores.

O tema que domina a liturgia desse domingo é o dinheiro. Na verdade, o dinheiro é muito importante e passamos a maior parte de nosso dia em atividades relacionadas com o dinheiro, seja trabalhando ou seja usando. O problema em si, não é o dinheiro. São Paulo diz que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Esse apego ao dinheiro é que vai influenciar profundamente nossa vida. Se estou apegado ao dinheiro, ele será um problema em toda a minha vida. O dinheiro pode ser servido ou pode estar a nosso serviço.

Jesus fala sobre o uso sábio do dinheiro. Ele também tinha amigos ricos e a pergunta não é «se o rico irá se salvar», mas, «que rico irá se salvar?». Entre o rol de amigos de Jesus, encontramos José de Arimateia, que tinha acesso tranquilo ao palácio de Pilatos. Mateus, um dos discípulos, era cobrador de impostos, que era uma atividade muito lucrativa. Segundo o Talmud, Lázaro, irmão de Marta e Maria, amigo de Jesus, poderia dar de comida a toda Jerusalém por um mês, ou seja, devia ter uma fortuna considerável. 

O problema é nosso relacionamento com o dinheiro, não o dinheiro em si. Há 4 coisas que nunca devemos fazer com o dinheiro:

Não gastar mal o dinheiro

O que seria gastar mal o dinheiro? Seria, justamente, aquele gasto por impulso, sem necessidade. Gastar em coisas que não precisamos. Hoje as pessoas vivem assim, gastando o dinheiro que não têm, para coisas que não precisam, para impressionar a pessoas que nem conhecem.

Não amar o dinheiro

Isso também é muito importante. Jesus dizia que não podemos servir a Deus e ao dinheiro (LC 16, 13). Isto é, não podemos colocar Deus e o dinheiro num mesmo nível. Às vezes, Deus e o dinheiro entram em conflito e aí vamos ver a quem nós amamos e a quem nós colocamos em primeiro lugar.

«Deus criou as pessoas para serem amadas e as coisas para serem usadas. Todos os problemas de nossa vida derivam de querer usar as pessoas e amar as coisas», reforça o Pe. Rodrigo.

Na Bíblia, sempre que se fala do amor ao dinheiro, se fala de idolatria, porque o dinheiro sempre ocupa o lugar de Deus. Ao invés de ter esperança e fé em Deus, coloco minha esperança e minha fé no dinheiro.

Não confiar no dinheiro

Não coloque a sua segurança no dinheiro. Você não deve colocar sua confiança e sua segurança em nada que um dia pode chegar a faltar. Quando colocamos a nossa confiança, por exemplo, no nosso cônjuge, ele pode chegar a faltar. Se coloco minha confiança em fundos de investimentos, não importa quanto dinheiro eu tenha, ele pode chegar a faltar. Se coloco minha confiança em meus talentos, em minha inteligência, em minha beleza, isso também pode chegar a faltar.

A única coisa em que podemos alicerçar nossa vida com confiança e com segurança é no amor de Deus. O amor de Deus nunca vai faltar, porque o amor de Deus não está baseado em nossa fidelidade, em nossa santidade, em nossas obras boas, mas está baseado na fidelidade de Deus, na santidade de Deus.

“Os bens e o prestígio desaparecem como num piscar de olhos; criam asas e voam pelos céus como a águia.”

Provérbios 23, 5

É uma imagem engraçada que sempre vemos daquelas notas de dinheiro com asas, fugindo pela janela. E os americanos, não sem uma certa dose de ironia, colocaram uma águia em um dos lados da nota de um dólar.

Não espere do dinheiro realização e felicidade

Você pode lutar a vida toda para alcançar uma grande quantidade de dinheiro e, quando você tiver esse dinheiro, você não estará feliz, não terá mais paz, você pode até ser famoso, mas não vai ter felicidade.

“Quem ama o dinheiro não se fartará de dinheiro, nem o que ama a riqueza se fartará do ganho”

Eclesiastes 5, 10

Com ironia, alguém pergunta o quanto de dinheiro é necessário para ser feliz e responde: um pouco mais. Sempre será a mesma resposta. Esse pouco mais nunca termina. É como aquele tesouro que está no fim do arco-íris. Quando você pensa que está chegando, ele está cada vez mais longe. Você nunca alcança essa felicidade. 

Cinco conselhos que Deus nos dá para gerir o dinheiro.

1) Tudo pertence a Deus

Isto é a visão de Jesus, é a visão de fé. Tudo o que existe no universo inteiro, pertence a Deus. A casa em que vivemos agora é de Deus, que me emprestou. Estarei aqui alguns anos e logo me vou. Todo mundo passa e um dia essa casa será de outra pessoa. Tudo pertence a Deus e nós somos apenas administradores.

“Deus que criou o Universo e tudo o que nele existe é o Senhor dos céus e da terra.” (Atos 17, 24) 

2) Deus usa o dinheiro para testar você

Toda a vida é uma provação, mas Deus quer estar atento sobre como você usa as coisas materiais que Ele te dá para saber se pode te dar coisas mais valiosas, as coisas espirituais.

“Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito; quem é injusto no pouco, também é injusto no muito. Se, pois, nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras? E se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?” (Lucas 16, 10)

Jesus usa três imagens para comparar os bens materiais com os bens espirituais. Em primeiro lugar, usa o «pequeno» versus o «grande». Em segundo lugar, fala do «falso» versus o «verdadeiro». Em terceiro lugar, fala do «alheio» versus o «próprio», porque os bens materiais são de Deus, sou só um administrador, e o que Deus me dá de próprio é aquilo que enriquece minha alma.

É como se Deus, antes de nos dar as riquezas espirituais, nos desse riquezas materiais para ver se sabemos como usá-las bem, para só depois recebermos as riquezas verdadeiras.

O Pe. Rodrigo também ensina que o dinheiro mostra aquilo que mais amamos. Basta olharmos nossa agenda e o extrato do cartão crédito, que vemos aquilo que mais amamos. Onde está nosso tesouro é onde está nosso coração (Mt 6, 21). Aquilo onde você coloca seu dinheiro, seu coração vai atrás, também.

O dinheiro também mostra no que mais confiamos. Eu confio em Deus ou confio mais no dinheiro?  “Aquele que confia nas suas riquezas, certamente se decepcionará.” (Provérbios 11, 28) 

O dinheiro também mostra se Deus pode confiar em mim. “Quem dá com generosidade, vê suas riquezas se multiplicarem […] Os que confiam em Deus reverdecerão como a folhagem.” (Provérbios 11, 24)

Deus entende em que pode confiar em você e te dar mais, quando você é generoso. Isto não significa que vou doar mais, para que Deus me dê mais. Tem que haver sinceridade.

3) Dinheiro é um meio que serve o propósito de Deus

«Para que serve o dinheiro?», pergunta o Pe. Rodrigo. «O dinheiro serve para servir a Deus». O mundo usa o dinheiro para 5 finalidades: em coisas supérfluas, depois em coisas que precisam, depois investem, poupam e o que sobra, doam. 

Qual é a ordem que Deus quer que usemos o dinheiro? Em primeiro lugar, devemos usar o dinheiro para Honrar a Deus. Antes de pensar em minhas necessidades, devo olhar para o outro e ser generoso, saber compartilhar meus bens.

Sobre esse tema, Pe. Rodrigo explica que há dois tipos de doação. O primeiro é doar a Deus, isto é, aquilo que chamamos de dízimo e, em segundo lugar, a doação ao irmão necessitado. São duas coisas diferentes e ambas são um dever do cristão.

Onde nós devemos dar o dízimo? Devemos dar o dízimo naquele lugar onde recebo meu alimento espiritual. E quanto devemos doar? Jesus não fala a quantidade, então, o critério é a generosidade.

A segunda finalidade para a qual devemos usar nosso dinheiro é para pagar nossos gastos. A vida tem uma série de gastos, obviamente, e devo cumprir com essas obrigações.

Em terceiro lugar, devemos poupar para o futuro. Em quarto lugar, devemos investir para que possamos crescer e, só em quinto lugar, devemos gastar em caprichos

4) O melhor uso do dinheiro é transferi-lo para o «Banco do Céu» 

No trecho do Evangelho de hoje, Jesus fala ao jovem que ele pode ter um tesouro no céu. Isto é, nós podemos abrir uma conta no céu e esse banco celeste tem muitas vantagens. A primeira vantagem é que os juros são muito bons. Jesus diz a Pedro que quem deixar tudo por Ele, irá ganhar cem vezes mais. 

Em segundo lugar, em um banco muito seguro. No céu não há inflação, não há ladrão. 

“Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam.” (Mateus 6, 19)

O banco do céu também tem uma contabilidade rigorosa. Não há contabilidade criativa. Está tudo em ordem. 

“Quem der, mesmo que seja apenas um copo de água fria a um destes pequeninos, por ser este meu discípulo, com toda a certeza vos afirmo que de modo algum perderá a sua recompensa.” (Mateus 10, 42)

Outra característica é que os brokers, isto é, os operadores desse banco do banco do céu são os pobres e os necessitados. Ou seja, sempre que você ajuda a quem precisa, você «transfere» esse dinheiro para o céu.

5) Um dia daremos conta a Deus sobre o uso de nosso dinheiro

Lembre-se que Deus irá pedir conta de tudo aquilo que Ele deu para você. Todo o dinheiro, todos os bens materiais, todo o networking… tudo iremos prestar contas a Deus e Ele é exigente. Jesus fala dessa prestação de contas em várias partes do Evangelho, como na Parábola do Administrador Infiel (Lc 16, 2), na Parábola dos Talentos (Mt 25, 19). 

Paulo também lembra na carta aos Romanos que nós, um dia, prestaremos conta a Deus (Romanos 14, 12).

Por fim, Pe. Rodrigo recorda que o sábio é viver sem esquecer desse encontro e administrar nossos bens e nossos dinheiro com desprendimento e generosidade, administrá-lo de uma maneira que nós possamos nos apresentar diante de Deus com orgulho do que fizemos e possamos escutar aquelas palavras que Jesus colocou em boca de Deus: 

“Muito bem, servo bom e fiel; sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.” (Mateus 25, 21)

  • Pe. Rodrigo Hurtado LC, transmite a celebração da Santa Missa em seu Canal do Youtube todos os domingos às 18h. Increva-se no canal e compartilhe os vídeos.