Quando recebemos o Pão da Vida
Nesse 18º Domingo do Tempo Comum, Pe. Rodrigo Hurtado, LC, reflete em sua homilia sobre o trecho do Evangelho de João que traz o início do famoso discurso de Jesus sobre o Pão da Vida. Em sua meditação, o padre nos ensina o que acontece conosco quando recebemos Jesus na Eucaristia.
Pe. Rodrigo recorda que existem várias passagens nos evangelhos dedicadas ao mistério da Eucaristia, «mas nada é como esse Evangelho de João 6». Na semana anterior, o evangelho trazido pela liturgia da Igreja era retirado do mesmo capítulo de João e relatava a multiplicação dos pães. Para o padre, aquele trecho nos mostra a abundância de Deus, que multiplica tudo aquilo que lhe entregamos.
No relato trazido hoje, após a multiplicação dos pães, Jesus atravessa o lago até Cafarnaum e ali, a multidão que tinha ido à procura de Jesus, reconhece-o. Aquela população queria mais daquele pão que havia multiplicado. Ali, Jesus revela as reais intenções dos judeus e, como mostra Pe. Rodrigo, diz para aquela multidão que Ele não veio para «fazer pão», mas para «ser pão». Jesus quer elevar aquele povo, tirando-o do nível humano, material, para ensiná-los a buscar as coisas de Deus.
Eu sou o Pão da Vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede
João 6, 35
«Esse é o grande mistério de toda a Igreja e de toda nossa fé. O Pão da Vida. Cristo é o Pão da vida», revela o Pe. Rodrigo.
Pe. Rodrigo ensina, que Jesus escolhe o pão, porque, antes de mais nada, o pão simboliza alimento. «É aquilo que nunca cansamos de comer». E Ele escolhe um alimento porque o alimento é vital. «O alimento é aquilo sem o qual você não pode viver. Assim como você precisa do alimento para a vida material, você precisa desse outro alimento para a vida espiritual».
O padre também relata que ocorre outra coisa interessante com o alimento. Todo ser vivo precisa de alimento para sobreviver, mas o princípio vital mais forte assimila o princípio vital menos forte. A planta assimila o mineral, o animal assimila a planta e o ser humano assimila o animal. Então, o princípio vital superior sempre assimila o inferior. «Com esse Pão de Vida que Jesus vai nos dar, acontece o contrário. Nós comemos o pão, mas nós não assimilamos o pão, porque o que realmente recebemos é o corpo, alma e divindade de Jesus, que é Deus. Então, Ele assimila a nós». «Quando eu recebo o Pão da Eucaristia, eu me transformo nele, porque Ele é o princípio vital superior».
Jesus pede para nos preocuparmos não com o pão material, mas com o Pão da Vida, porque, como lembra o Pe. Rodrigo, esse pão é necessário para a vida espiritual e sem ele, não podemos entrar nos céus. «Isso é parte da doutrina da Igreja. Da mesma forma que eu preciso do Batismo, eu preciso da Eucaristia, porque temos que nos assimilar a Cristo. Esse é todo o objetivo de nossa vida, tornar-nos como Cristo».
A partir desse ponto, Pe. Rodrigo enumera o que acontece com a pessoa que recebe a Eucaristia.
1. Sabemos Exatamente quem nós somos
«Se recebo o Corpo de Cristo e me transformo em Cristo, adquiro as mesmas vantagens e as mesmas graças, o mesmo jeito de pensar e os mesmos sentimentos de Jesus e Jesus sabia muito bem qual era sua identidade», explica o padre. Portanto, descobrimos nossa identidade.
No Evangelho de João, Jesus diz sete vezes «Eu sou». Jesus sabe quem Ele é. Ele conhece sua profunda identidade. Contudo, o Pe. Rodrigo ilustra que muitas pessoas desejam imitar outras pessoas, vivem para agradar os outros. «Você não precisa ser outra pessoa, você não precisa contentar ninguém, você precisa ser você mesmo. Você pode ser algo que ninguém mais no mundo inteiro pode ser. Só você pode ser você».
Para o padre Rodrigo, nós encontramos nossa identidade só buscando em Cristo e em união com Cristo. Muitas das fraquezas psicológicas, no fundo, ocorrem porque perdemos a consciência de nossa porpria dignidade e identidade. «Somos outros Cristo, filhos de Deus, chamados e predestinados para a vida eterna», percebe o padre. Não podemos cair na armadilha das coisas pequenas desse mundo.
2. Conhecemos e seguimos o propósito de nossa vida.
Com a Eucaristia, não apenas descobrimos nossa identidade, mas descobrimos o propósito de nossa vida. Aquilo para o que nós vivemos. Jesus sabia perfeitamente qual era o propósito de sua vida. No Evangelho, Jesus diz claramente que sabia de onde tinha vindo e para onde iria (Jo 8, 14). Jesus sabia muito bem o que estava fazendo aqui e sabia disso desde os 12 anos, como vemos no relato de Sua perda e reencontro no Templo de Jerusalém.
Então, nesse momento o Pe. Rodrigo faz um parêntese para nos alertar que as crianças são puras e são inocentes e, portanto, têm as condições perfeitas para entrarem em intimidade com Deus. Os pais e mães têm que aproximar os filhos a Deus, pois «eles podem ter uma experiência de Deus que vai marcar toda sua vida, que vai colocar o alicerce profundo de sua fé e lhes vai ajudar nos momentos mais difíceis de toda sua vida».
«Você vai descobrir seu propósito só nesse dialogo e nessa intimidade com Deus», diz o Pe. Rodrigo. «Quando eu recebo o Pão da Vida, eu descubro também o propósito da minha vida em cada momento». «Ainda que exista em nossa vida uma espécie de propósito geral, também tem muitos pequenos propósitos que Deus vai colocando, que Deus quer nós cumpramos. Isso nós descobrimos em intimidade com Ele».
3. Sabemos que Deus está sempre conosco
Isso é o que faz a Eucaristia, quando a recebemos, nós nos “cristificamos”. Nós nos transformamos Nele e passamos a ter a mesma convicção que Jesus tinha de que o Pai sempre estava com Ele (Jo 16, 32).
«Jesus tinha sempre a consciência de que o Pai esteva com Ele e nós precisamos também dessa convicção», continua o Pe. Rodrigo. «Quando temos que enfrentar problemas muito difíceis na vida, situações nas quais nos sentimos sozinhos, nos sentimos frágeis, mas você nunca está sozinho. Deus está sempre conosco. Ele está a nosso favor. Ele coloca seu poder ao nosso favor».
Essa é mais uma consciência que cresce cada vez mais em nós quando recebemos o Pão da Vida. Mas, por sua vez, o Pe. Rodrigo faz um alerta de que, para isso, devemos dedicar tempo para estar com Jesus e devemos receber a Eucaristia, tantas vezes quanto possível.
O Evangelho de Lucas (cap. 5, 16) diz que Jesus “costumava retirar-se” a lugares solitários para orar. Será que nós temos o hábito da oração, de receber a Eucaristia tantas vezes quanto seja possível? Tem que ser um hábito, um costume em nossa vida.
Pe. Rodrigo afirma que quando recebemos a Eucaristia não só cresce em nós essa consciência da presença de Deus, mas também recebemos o poder de Deus. «Deus não está em nossa vida como um observador, Ele nos ajuda. Ele nunca nos abandona».
4. Não nos preocupamos em contentar os outro, mas só a Cristo.
Para o Pe. Rodrigo, isso é uma liberdade interior. «Se soubéssemos viver nossa vida toda olhando para Deus, como isso nos daria uma grande liberdade». Muitas pessoas formam sua própria expectativa, seu comportamento, sua identidade em função do que os outros opinam. «Se você vive sua vida tentando contentar aos outros, primeiro você tem uma imagem distorcida de si mesmo, depois, você nunca vai poder contentá-los».
«Quando nós recebemos o Pão da Vida, a Eucaristia, nós vamos pouco a pouco colocando nosso coração unicamente em Deus. E isso nos liberta de tantas coisas».
5. Podemos perdoar os inimigos e amar quem nos feriu
«Amar os inimigos é algo que nenhum outro fundador de religião tinha ousado dizer», percebe o Pe. Rodrigo. «Amar os inimigos é algo tão antinatural, mas quando somos assimilados por Cristo nós desenvolvemos essa capacidade em que as ofensas dos outros nem nos atingem. Nós sabemos compreender, em troca de raiva sentimos compaixão pela outra pessoa».
Pe. Rodrigo reflete sobre o momento em que Jesus está pregado na cruz, morrendo e ainda pede para o Pai perdoar seus carrascos. «É incrível que Jesus tenha essa capacidade de perdoar inclusive no momento em que está morrendo na cruz». «O coração dele está além dos rancores, além do alcance das ofensas dos inimigos. Ele os olha com compaixão e com compreensão».
Nós também podemos aprender a estar livres de rancores e ressentimentos que causam tanto dano ao coração. No evangelho de Lucas (6, 27), Jesus nos ensina como fazer isso. Há 3 coisas para fazer: em primeiro lugar, fazer o bem aos nossos inimigos. Em segundo lugar, abençoar, isto é, falar bem deles e, em terceiro lugar, orar para que Deus toque seus corações. «Mas isso ocorre quando a Eucaristia que eu recebi, transforme meu coração».
6. Estamos dispostos a nos sacrificar pelos outros
Padre Rodrigo esclarece que essa é a essência do cristianismo, a entrega. No Evangelho de Marcos, em seu capítulo 10, no versículo 45, Jesus diz que veio para “servir” e “dar sua vida”. «Tudo o que temos que aprender é a servir e a dar, inclusive nossa vida, se for necessário».
«Quem ama tem que servir e dar e quem não ama não encontra a felicidade», constata o padre. «Jesus diz que ele é o Pão da Vida, porque Ele vai ser esse alimento que transforma nosso corpo e nossa alma em um reflexo, em uma imagem dele mesmo. Ele vai conquistando pouco a pouco nossa alma e nosso coração».
Por fim, o padre conta que Deus não quer salvar o mundo como os super-heróis de filmes, mas «Ele quer salvar o mundo um coração de cada vez, Ele quer salvar o mundo coração a coração. E, como Ele faz isso? Através da Eucaristia, através do Pão da Vida».
«Quando nós recebemos esse Pão da Vida, Ele entra num diálogo profundo, íntimo, poderoso. A Palavra e o Pão que nós comemos transformam nossa alma, transformam nossa mente, transformam nossos sentimentos, curam nossa psicologia. Ele restaura tudo dentro de nossa vida».
Ao terminar sua homilia, Pe. Rodrigo informa que nesse domingo se comemora o Dia do Padre, porque está próxima a festa de S. João Maria Vianney, o Cura d’Ars, patrono dos sacerdotes e traz uma frase do santo sobre a Eucaristia.
«Cada Hóstia consagrada é feita por Jesus para se consumir de amor em um coração humano»
S. João Maria Vianney, o Cura d’Ars
«Que nós sejamos homens e mulheres da Eucaristia, que saibamos valorizar sempre esse dom que Ele nos deixou e que esse Pão da Vida seja também o Pão e o viático que nos leve para a Vida Eterna», deseja o Pe. Rodrigo ao encerrar.
- O Pe. Rodrigo Hurtado, LC, fundador do Instituto Católico de Liderança e idealizador do aplicativo Seedtime, celebra a Missa com transmissão ao vivo por seu Canal do Youtube todo domingo às 18h. Acesse o link, deixe seu like nos vídeos e compartilhe com seus amigos e familiares.