Quatro leis para frutificar
Em sua homilia deste terceiro domingo da quaresma, Pe. Rodrigo Hurtado LC comenta o trecho do evangelho trazido pela homilia e nos ensina as quatro leis para que possamos dar muitos frutos em nossa vida.
O evangelho de hoje tem duas partes, mas elas estão conectadas: por um lado vemos Jesus comentando umas desgraças que aconteceram por aqueles dias em Jerusalém e a lição é clara: As desgraças não são castigos de Deus. Mas elas, diz Jesus, devem servir como advertências, um lembrete de que a vida tem limites.
Mas aí Jesus conta uma parábola na segunda parte do evangelho. A figueira que não dava fruto. A parábola de Jesus fala sobre um diálogo entre o dono de uma vinha (que representa Deus) e um de seus empregados (que poderia ser um anjo, por exemplo). E estão falando sobre uma figueira estéril (que poderia ser qualquer um de nós).
A ideia central, portanto, é a conversão. Esse é o tema também das leituras: o chamado de Deus a Israel para sair do Egito e o chamado de Deus, através de São Paulo.
Jesus não fala de sucesso, Ele não está interessado no sucesso, mas ele fala de fruto. Ele quer que nós tenhamos uma vida com muito fruto. Ele vai nos pedir frutos ao final da vida. Jesus usa muitas vezes parábolas tomadas da natureza, das plantas, das vinhas para falar da vida espiritual. E isso é porque Ele quer que nós cresçamos e demos fruto, igual às plantas. É uma lei espiritual.
O que significa o fruto?
“Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira vindoura? Produzi frutos dignos de arrependimento […] O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo.”
(Mateus 3, 8)
Parece que estão falando da mesma parábola. Fruto seriam boas obras, mas boas obras nascidas de uma fé e amor sinceros. Dar frutos de conversão, frutos de arrependimento, significa conversão e a conversão se manifesta nas boas obras.
Portanto, nós podemos fracassar em muitas coisas na vida: nos negócios, em um concurso de canto, em competições esportivas, nos estudos, etc. Mas numa coisa não podemos perder: converter-nos para Deus.
As Quatro Leis do Crescimento
O fruto é o resultado da saúde
O crescimento e o fruto não são um fim em si mesmos. Não se deve buscar o crescimento pelo crescimento, o fruto pelo fruto. Os frutos não podem ser inventados. O crescimento e o fruto são o resultado de um corpo saudável, da vida saudável.
“Permanecei em mim, e Eu permanecerei em vós. Nenhum ramo pode produzir fruto por si mesmo, se não estiver ligado à videira. Vós igualmente não podeis dar fruto por vós mesmos, se não permanecerdes unidos a mim.”
(João 15, 4)
Por isso, a primeira pergunta que nós devemos fazer é: estou crescendo espiritualmente? Esse interior me impulsiona a fazer boas obras ou não tenho o mínimo interesse pelas necessidades e dificuldades dos outros? Se a resposta é não, significa que algo tenho que fazer, que algo não está bem na minha vida espiritual.
O crescimento não tem que ser instantâneo, o crescimento não tem que ser ao ritmo que nós esperamos, mas se não estou crescendo, se não tenho um coração capaz de esquecer de mim mesmo e pensar nos outros, é sinal de que me está faltando algo na vida espiritual.
A Saúde é Resultado do Equilíbrio
A saúde não requer uma só coisa. Normalmente requer um conjunto de coisas: vitaminas, exercícios, alimentação, sono, estudo, trabalho, descanso, etc. A saúde espiritual não vem de muitos atos de piedade ao longo dos anos, muitas novenas, muitos terços e orações. A saúde espiritual também vem do equilíbrio.
Esse equilíbrio é baseado em 5 atitudes que devemos ter em nossa vida. Em primeiro lugar, a oração. Não posso estar saudável espiritualmente se não me dedico à oração em todos os ciclos da minha vida.
Em segundo lugar, há o estudo. Precisamos estudar e nos aprofundar em nossa fé. Não podemos permanecer com nossa fé que vem da catequese da primeira comunhão. Em terceiro lugar, está o apostolado. Não pode haver um cristão saudável que não faça um apostolado. Praticar a caridade, ajudar as pessoas, ou mesmo participar de uma obra apostólica organizada é sinal de saúde espiritual.
Uma atitude que um cristão saudável demonstra é a fraternidade. Um cristão que ora todo dia, que trabalha todo dia, que não tem tempo para os amigos etc., não é um cristão saudável. É preciso também de tempo para descansar e compartilhar com os irmãos, especialmente com os que têm os mesmos valores, a mesma fé.
Por fim, o testemunho. Se minha fé é apenas privada, se não se mostra ao mundo, se não se irradia, significa que está doente. É que sinto vergonha dela, é que não tem a força para me impulsionar e partilhar com todos. Nós somos evangelizadores das coisas que nós gostamos, normalmente.
Quando viajamos ou compramos um produto novo, contamos para nossos amigos, queremos naturalmente compartilhar isso. A mesma coisa tem que acontecer com a fé, com nosso encontro com Deus. Nós temos que sentir um impulso irresistível de compartilhar com todo mundo a alegria que encontramos.
Esses cinco elementos estavam presentes na vida da primeira comunidade cristã da história. A primeira comunidade surgida depois de Pentecostes e dirigida pelos próprios apóstolos (Atos dos Apóstolos 2, 44-47)
Todo fruto vem de uma semente e toda semente é plantada por alguém
O crescimento é fruto da saúde, mas não acontece por acaso, alguém plantou uma semente. Na parábola de Jesus aquela figueira foi plantada pelo dono da vinha. Também em nossa vida espiritual alguém tem que plantar.
Muitas pessoas plantam em nossa vida. O padre quando fala na missa, planta; o colega no trabalho; a família; inclusive o rádi;, a televisão; a internet; os livros que você lê. Sempre tem alguém plantando na sua alma. A quem você deixa plantar e que semente estão plantando na sua vida?
Quando frequentamos pessoas muito negativas, pessimistas, que vivem se lamentando e queixando de tudo, que tem uma visão muito radical, etc. terminamos pensando como elas… por quê? Porque lhes damos permissão para semear em nossa vida.
O fruto é resultado de um trabalho conjunto entre Deus e nós
Isto é muito importante. A figueira vai dar fruto se é trabalhada. É preciso “deixar cavar, colocar adubo, regar”. Mas esse trabalho é um trabalho conjunto entre Deus e você. O fruto precisa de tempo, de trabalho, de esforço e de paciência.
Dizíamos que muitos semeiam em nossa vida: Deus semeia, outras pessoas semeiam, a TV e a internet semeiam, e nós mesmos semeamos. Podemos fazer algo para que cresçam essas sementes? Claro!! Deus faz 99% desse trabalho, mas nós devemos fazer o 1%: a conversão, o esforço das boas obras.
Portanto, neste domingo, 3º da Quaresma, Deus nos convida à conversão. Não deixe para o final, o fruto precisa de tempo, de trabalho e de amadurecimento. Não diga: “Eu vou aproveitar e viver do meu jeito e ao final me vou converter a Deus”. Isso não funciona. Quem perde é você.
No capítulo 3 dos Atos, São Pedro cura um paralítico na porta do Templo. Depois todo mundo fica surpreendido e Pedro os exortava com essas palavras:
“Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos para que assim sejam apagados os vossos pecados, de modo que da presença do Senhor venham tempos de refrigério.”
(Atos 3, 19)
Portanto, converter-se não é uma carga, não faz a vida mais difícil. Ao contrário, converter-se traz tempos de refrigério, ou seja, tempos de paz, tempo de tranquilidade e serenidade.
Você quer uma vida feliz? Uma vida em paz? e uma vida com muito fruto? Não deixe a conversão para o último momento.
- Pe. Rodrigo Hurtado LC transmite a celebração da Santa Missa aos domingos, às 18h, através de seu Canal do YouTube. Inscreva-se no canal e compartilhe o vídeo com as pessoas que você ama.