Aprenda a Identificar e Superar Seus Pontos Cegos Espirituais
A história de Bartimeu, o cego que se encontrou com Jesus, vai muito além da recuperação física de sua visão. O Evangelho utiliza esse milagre como um “sinal”, uma indicação que aponta para algo mais profundo e necessário: a cura da nossa cegueira espiritual. Muitas vezes, somos como Bartimeu, lutando para enxergar os verdadeiros caminhos de Deus, enquanto nossa visão interior se encontra limitada por pensamentos e sentimentos enganosos.
O Pe. Rodrigo Hurtado, LC, em sua homilia no vídeo abaixo, nos ensina que a história nos mostra que Bartimeu podia ser fisicamente cego, mas os olhos de seu coração estavam bem abertos e ele pôde reconhecer Jesus como o Messias esperado pelo povo de Israel. Enquanto que a grande maioria do povo daquela época, ainda que visse os sinais de Jesus, não conseguia ver nele o verdadeiro Filho de Deus.
Portanto, esse evangelho de hoje é um convite a percebermos como estão os olhos de nosso coração. Temos pontos cegos em nosso coração, em nossa alma? O grande problema dos pontos cegos de nossa alma é que eles nos ocultam justamente nossos defeitos. Se não enxergássemos nossas virtudes, isso não seria um problema, mas o que nós não enxergamos são justamente nossas imperfeições.
“Há caminhos que parecem certos ao ser humano, contudo, no final conduzem à morte.” (Provérbios 16, 25)
Os Pontos Cegos da Alma
A cegueira espiritual é um problema tão grave quanto a cegueira física. Ela nos impede de enxergar a verdade e, frequentemente, nos leva a acreditar que estamos no caminho certo, quando, na realidade, estamos nos afastando de Deus. Como seres humanos, enfrentamos três grandes barreiras que distorcem nossa visão: o desconhecimento dos fatos, os juízos subjetivos influenciados por experiências pessoais e a incapacidade de prever todas as consequências das nossas escolhas.
Esses “pontos cegos” são como ângulos mortos na nossa visão. Podem ser fraquezas, medos ou apegos que não conseguimos enxergar e que acabam afetando negativamente nossa vida e as decisões que tomamos. Para superar essa limitação, precisamos constantemente pedir a graça de Deus, meditar sobre Sua Palavra e reconhecer a nossa própria propensão ao autoengano. Afinal, como diz o profeta Jeremias: “Não há nada mais enganoso e irremediável do que o coração humano” (Jeremias 17,9).
Três Pontos Cegos Perigosos
1. A Inveja
Deus nos criou para relacionamentos, e é natural que nos interessemos pela vida dos outros. Porém, esse interesse se torna um ponto cego quando deixa de ser inocente e se transforma em inveja. A inveja nos leva a desviar o foco de nossas próprias bênçãos e a questionar o propósito que Deus nos deu. Ela mina nossa singularidade como obra-prima de Deus, desperdiça nossa energia e destroi nossa felicidade. Precisamos constantemente nos lembrar de que Deus nos criou únicos, e nossa missão é ser a melhor versão de nós mesmos, não uma cópia dos outros.
“Vi eu que todo trabalho e toda destreza em obras provêm da inveja que o homem tem do seu próximo. Também isso é vaidade e desejo vão.” (Eclesiastes 4, 4)
Por isso Paulo dizia:
“Nada façais por rivalidade nem por vaidade; pelo contrário, cada um considere, com toda a humildade, as demais pessoas superiores a si mesmo.” (Filipenses 2, 3)
Nós podemos ser algo que ninguém mais no mundo pode ser: nós mesmos. Ninguém pode ser você. Só você. Como também você não pode ser outra pessoa. Cada um de nós é uma obra prima de Deus.
2. O Desejo de Agradar os Outros
Todos desejamos amar e ser amados, mas esse desejo pode se tornar um ponto cego quando tentamos agradar os outros a qualquer custo, buscando validação e aprovação. Isso nos afasta do propósito de Deus para nós e nos torna prisioneiros das expectativas alheias. A verdadeira liberdade consiste em seguir a vontade de Deus, independentemente das críticas ou da aprovação dos outros.
A aceitação e aprovação dos outros em si mesma não é algo ruim. Muitas vezes, essa aceitação nos ajuda a nos superar, a ganhar confiança em nós mesmos, nos anima a alcançar grandes metas e objetivos. Mas o desejo de aceitação pode também ser um ponto cego quando esse desejo se torna uma obsessão que domina nossa vida.
“Porventura, procuro eu agora o louvor dos homens ou aprovação de Deus? Ou estou tentando ser apenas agradável às pessoas? Se ainda estivesse buscando agradar a homens, não seria servo de Cristo!” (Gálatas 1, 10)
3. O Egoísmo
O egoísmo está na raiz de toda a cegueira espiritual, mas é colocado aqui como raiz em especial de um outro ponto cego que é a indiferença. O egoísmo faz que nossa vida esteja completamente concentrada em nós mesmos e, portanto, isso faz com que nós sejamos indiferentes aos demais.
Nós vemos esse egoísmo no evangelho de hoje, do cego Bartimeu. Todo o povo que está ao redor de Jesus tentava fazer calar o cego e não queria que perturbasse Jesus. Queriam a Jesus só para eles e não queriam que aparecesse a dor humana, a pobreza, o sofrimento… era incômodo.
Quando nascemos somos os seres mais egoístas que existem. Um bebê é totalmente egoísta e centrado nas suas necessidades. À medida que crescemos, deveríamos aprender a focar mais nas necessidades dos outros. Nisso consiste a maturidade: a capacidade de sacrificar-se pelos outros, a capacidade de pensar nas necessidades dos outros e de entregar-nos para ajudá-los, inclusive ao custo de nosso sacrifício.
“Cada um zele, não apenas por seus próprios interesses, mas igualmente pelos interesses dos outros.” (Filipenses 2, 4)
Conclusão
A cura da cegueira espiritual começa com o reconhecimento de nossas limitações e com a entrega a Deus. Assim como Bartimeu, devemos ter a humildade de reconhecer que nem sempre conseguimos enxergar o caminho certo por conta própria. Que possamos orar diariamente para que Deus nos revele nossos pontos cegos e nos conceda a graça de caminhar na Sua luz.
“Ensina-me a compreender o que não posso ver; se agi mal, não voltarei a fazê-lo!” (Jó 34, 32)
Assista à homilia do Pe. Rodrigo Hurtado LC, na íntegra, através de seu canal de YouTube, ou tenha acesso a um conteúdo de Estudo Bíblico da liturgia dominical do ano todo com o curso Conhecer e Viver a Bíblia, que está em nossa loja aqui no site.