Em sua homilia deste domingo, Pe. Rodrigo Hurtado reflete sobre o trecho do Evangelho que relata a pesca milagrosa e nos explica a missão que o leigo precisa exercer no mundo de hoje, de pescador de homens, ao mesmo tempo que é pescado por Nosso Senhor.

No evangelho, Jesus usa duas imagens para ilustrar a tarefa de seus colaboradores: a imagem do pastor e a do pescador. São diferentes e complementares. Mas ambas imagens precisam de uma explicação para a mentalidade moderna, que não aceita a ideia de ser “ovelha” de alguém e menos ainda de ser “pescado” por alguém. Parece algo contrário à nossa dignidade e uma falta de respeito.

Isso acontece, obviamente, porque tanto os pescadores como os pastores realizam seu trabalho para o próprio benefício: o pastor usa a lã das ovelhas e seu leite, o pescador se alimenta do peixe.

A perspectiva do amor

Contudo, na linguagem de Jesus, isso tudo é colocado no contexto do amor. Jesus se apresenta como “bom pastor”, ou seja, como aquele que defende e cuida das ovelhas, que dá sua vida por elas. Que alimenta e guia as ovelhas. Já para a imagem do pescador, Jesus muda o contexto: o mar é imagem da vida turbulenta e injusta, do pecado que afoga o ser humano. A barca é a salvação.

Por que Jesus estabelece diferenças na Igreja?

Por que Jesus distingue entre peixes e pescadores, entre ovelhas e pastores? Não somos todos iguais?! Efetivamente, a relação entre pescadores e peixes, pastores e ovelhas sugere a ideia de desigualdade e superioridade. Contudo, precisamos ter em conta duas coisas:

1. A Igualdade não é um valor absoluto.

A igualdade é um valor derivado da justiça e a justiça, às vezes, exige um tratamento diferente para pessoas e circunstâncias diferentes. A igualdade é um valor, é algo bom, mas é um valor relativo. Além disso, Jesus sabe que todos somos diferentes, e por isso, cuida de cada um de nós de uma maneira diferente, da maneira que nós precisamos.

A grande falha do comunismo se dá aí. Sonhar com uma sociedade em que todos somos iguais não é realista, é uma utopia. O único jeito de conseguir a igualdade é tirar a liberdade: proibir a uns de trabalhar muito e obrigar a outros a trabalhar mais.

A desigualdade, que hoje tanto se critica, é algo que vem de Deus. E por que Deus permitiu isso? Porque nos obriga a nos complementar e ajudar uns aos outros. Por isso, Deus nos fez diferentes.

2. Ninguém é só pescador ou só pescado.

Por outro lado, temos que lembrar, que na Igreja, ninguém é só pescador ou só pescado. Ninguém é só pastor ou só ovelha. Só Jesus é só pastor e só pescador. Todos nós somos as duas coisas ao mesmo tempo. Todos somos pescados e pescadores, ovelhas e pastores ao mesmo tempo.

Numa ocasião, Jesus literalmente pescou  Pedro do mar quando começava a afundar por sua falta de fé (Mateus 14, 31). Em outra ocasião, Pedro experimentou o que significa ser uma “ovelha perdida” quando negou três vezes a Jesus. Mas também experimentou como Jesus, o bom pastor, veio em busca dele.

A missão dos sacerdotes e dos leigos católicos

Todos somos pastores e todos somos pescadores, mas os padres, os sacerdotes e o clero em geral, são normalmente formados mais para ser pastores que pescadores. Foram formados para alimentar, pregar a palavra, celebrar a missa, etc.

Contudo, os sacerdotes dificilmente chegam onde as pessoas fazem seus negócios, se divertem, vivem seu ambiente familiar ou buscam o sucesso… Em todos esses lugares, quem vai atrair as pessoas a Jesus?

Aqui se abre um grande campo de ação para os leigos católicos. Eles têm que ser os pescadores de homens. Eles têm que reconhecer a missão que Deus lhes tem reservada. Essa missão é urgente e importantíssima, e essa missão é sua.

Você já pensou que talvez seja a única pessoa verdadeiramente católica que seu amigo terá contato em toda sua vida? E se você não fizer isso, quem irá fazer?

O chamado de Jesus a Pedro, para que se torne pescador de homens, é também dirigido a todos nós. Precisamos fazer como Pedro e lançar as redes “pela palavra de Jesus”.

O privilégio de ser pescador de homens

É tão importante a missão dos leigos católicos no mundo de hoje! Estamos vivendo o tempo dos leigos. E, o que significa ser pescador de homens?

É a maior oportunidade que temos em nossa vida. Quando ajudamos as pessoas, nos tornamos parte do projeto de Deus e quando Ele realiza a sua obra, Seu poder é muito grande.

Nossa missão é como a dos surfistas. Os surfistas não criam ondas. Eles têm que estar atentos para reconhecer quando uma onda vem. Têm que estar no lugar certo no momento certo. E quando a onda chega, eles têm que nadar na mesma direção e surfar a onda.

Os discípulos fazem o mesmo. Eles não fazem a obra de Deus, só têm que saber reconhecer as ondas que Deus lhes manda e nadar na mesma direção. Surfar a onda de Deus. Deus está mandando muitas ondas nestes tempos.

É o maior privilégio ser um colaborador da Obra de Deus, porque nós temos a oportunidade de trabalhar com Deus e ser Seu representante.

É a missão mais importante que temos que fazer. Se nós damos a uma pessoa a vida eterna, isso faz toda a diferença. Não existe algo mais importante que possamos fazer nessa vida.

É o maior propósito que existe, pois ajudar os outros a terem um relacionamento com Deus é a missão que mais sentido dá a nossa vida. Nossa vida se torna grande quando a unimos a algo grande. Nossa missão é a mesma de Cristo. Nossa história se transforma em história sagrada. O maior propósito da vida é fazer algo que dure além desta vida.

Qual é o custo de ser pescadores de homens?

1. Deixar de servir-se de Deus e começar a servir a Deus

Muitos católicos oram e seguem a Deus enquanto Deus pode ajudá-los, pode servi-los. Suas orações se concentram nas suas próprias necessidades, bênçãos e felicidade. A pergunta chave é: “Como pode Deus fazer minha vida melhor?”

Os cristãos autênticos servem a Deus, são capazes de sacrifícios por Deus. São conscientes de sua missão e tentam cumpri-la.

2. Trocar sua agenda pela agenda de Deus

Não podemos fazer a vontade de Deus e a nossa ao mesmo tempo. Muitas vezes, a vontade de Deus quer que nós deixemos coisas que não são importantes e coloquemos as prioridades dele em primeiro lugar. Tem que dizer como Jesus: 

“Pai, se queres afasta de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.”

(Lucas 22, 42)

Temos que pegar nossa agenda e colocar nas mãos de Deus, para que Ele altere nossos compromissos, nossas prioridades. Deus certamente irá tirar coisas supérfluas que não devem fazer parte de nossa agenda.

Por fim, é preciso reforçar que aquele chamado de Deus para Pedro é um chamado para nós também. Precisamos ser pescadores de homens. Deus quer salvar a todas as pessoas. Nenhuma é indiferente para Jesus. Todas importam. Deus quer que sejamos pescadores de homens. Que salvemos a tantas e tantas pessoas que estão se afogando no mar do mundo.

Repita cada dia: “Hoje eu posso salvar mais uma pessoa para Jesus”. 

  • Pe. Rodrigo Hurtado LC transmite aos domingos, às 18h, através de seu canal do YouTube, a celebração da Santa Missa. Acesse, assista, inscreva-se no canal e compartilhe os vídeos com aquelas pessoas que você ama. Baixe também o aplicativo de meditações Seedtime e encontre uma palavra de Deus para cada momento de sua vida.