Em sua homilia do último domingo, o Pe. Rodrigo Hurtado LC reflete sobre as bem-aventuranças e nos indica o que precisamos fazer para ter uma vida abençoada, seguindo o projeto que Deus quis para nós.

O padre explica que neste ciclo do ano litúrgico estamos vendo os textos do Evangelho de Lucas, que traz somente quatro bem-aventuranças, em comparação ao texto mais famoso, de Mateus, que traz oito. Mas, a mensagem é a mesma. Bem-aventuranças significa felicidade, mas não é uma felicidade por casualidade, mas uma bênção. É a felicidade que Deus mesmo quer te dar.

No Brasil temos o costume de pedir a bênção aos pais e aos sacerdotes, e o que pedimos ao pedir a bênção? Justamente a felicidade. Contudo, nem sempre a bênção é algo bom à primeira vista. Um tapa na cara pode ser uma bênção. Às vezes as pessoas dizem que “perder aquele trabalho foi uma bênção”. Portanto, não necessariamente a bênção se trata de coisas agradáveis.

No fundo nós não queremos uma felicidade superficial, mas nós queremos a verdadeira felicidade e, às vezes, para chegar lá, temos que fazer um caminho de sacrifício. E é isso que Jesus nos oferece no evangelho de hoje: a chave para uma vida feliz, abençoada. E a chave é essa, isto é, Deus não abençoa qualquer vida, mas abençoa a vida segundo Seu projeto.

Se queremos ter uma vida abençoada, temos que viver uma vida que Deus possa abençoar. Essa é a chave de tudo. Você quer ter uma vida abençoada, uma vida feliz, uma vida plena? A condição que se impõe é viver uma vida que Deus possa abençoar, e assim entendemos o paradoxo das bem-aventuranças.

Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus

Lucas, em seu Evangelho, coloca somente a palavra pobres, mas João e Marcos “coloca pobres de espírito” e essa distinção é muito importante. A pobreza espiritual é sinônimo de humildade. O rico espiritual é aquele que se sente seguro de si mesmo e pensa não precisar de ninguém, e pobre de espírito seria o contrário, seria aquele que se sente pequeno, que depende de outro, que precisa de ajuda.

A chave para entender a pobreza de espírito é a dependência. De quem nós dependemos? De nossa conta bancária? De nossas qualidades e talentos? De nossa reputação e de nossa carreira? Ou dependemos de Deus? A pobreza de espírito é uma questão de coração. Isso fica claro quando vemos o Salmo 146.

“O Senhor Deus abençoa todo aquele que nele confia e dele depende”.

(Salmo 146, 5)

Portanto, a primeira condição para ser abençoado por Deus é depender humildemente dele, ao invés de nós mesmos. E a pergunta que se segue é: no que consiste depender de Deus?

Depender de Deus consiste em aprender a depender da sabedoria de Deus, a depender da força de Deus, depender do tempo de Deus, depender da defesa de Deus e aprender a depender da riqueza de Deus.

Um sinal muito claro de que não estamos dependendo de Deus é o cansaço. Quando estamos cansados, estressados, é porque estamos tentando carregar tudo em nossa vida com nossas próprias forças.

Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.

Jesus não está desejando que soframos ou choremos, está simplesmente partindo da constatação do sofrimento no mundo e, a partir dali, diz que Deus não fica indiferente diante desse sofrimento, mas vem ao nosso encontro.

Vivemos num mundo desajustado. A economia está desajustada, o clima está desajustado, a política e as relações estão desajustadas. Nós mesmos, queremos uma coisa e fazemos outra. Nós mesmos nos arrependemos tantas vezes de coisas que fizemos: sabíamos que estava mal, fizemos sabendo e depois nos arrependemos… nosso coração está desajustado.

Mas, com essa bem-aventurança, Jesus está dizendo duas coisas: Primeiramente, que chorar e sofrer, às vezes, pode ser bom; e, que Deus nos consola nos sofrimentos.

O luto é necessário e saudável. Quando temos uma perda muito grande na vida, algo que fere profundamente nossa alma e não fazemos um luto adequado, pegamos essa dor muito intensa e jogamos no fundo de nosso subconsciente e, a partir daí, reagimos toda a vida condicionados por essa dor.

Contudo, Deus nos consola em nossos sofrimentos. Quando sofremos, sentimos que Deus está muito longe, está a um milhão de quilômetros… a realidade é justamente ao contrário. Deus está mais perto de nós que em nenhum outro momento.

“O Senhor está perto dos quebrantados de coração, e ele salva aqueles cujos espíritos foram esmagados”

(Salmo 34, 18)

Deus também sofre e sofre por nós e conosco. O versículo mais curto da Bíblia está em João 11, 35: “Jesus chorou”. É um grande mistério: Jesus vai ressuscitar Lázaro, mas chora por ele.

O sofrimento, por sua vez, também não é estéril, ele nos ajuda a amadurecer e crescer, formar o caráter, dar maior profundidade a nossa personalidade. Deus está mais interessado no amadurecimento de seu caráter do que em solucionar todos seus problemas.

“Sabemos que todas as coisas colaboram para o bem daqueles que amam a Deus.”

(Romanos 8, 28)

Quando sofremos, também ganhamos méritos e preparamos nosso prêmio nos céus. O sofrimento não apenas tem um fruto aqui nessa vida, mas também na vida eterna.

Bem-Aventurados os humildes, porque possuirão a terra.

Parece que o que ocorre é justamente o contrário. Os fortes, os trapaceiros, os prepotentes, os egoístas parecem dominar a terra por larga vantagem. Por isso, a primeira coisa que temos que fazer é entender exatamente o que seja a humildade. Jesus coloca a si mesmo como exemplo de humildade e mansidão. Por isso, vendo Jesus aprendemos o que é a humildade.

A mansidão é força sob controle. Todo o caráter de Jesus, toda a força de sua vontade, sua inteligência e seu poder estavam a serviço da vontade de Deus. Ele era plenamente dono de suas escolhas, não escravo de suas paixões.

Dominar nossos impulsos, paixões e raivas não nos faz fracos, ao contrário, mostra nossa força e nossa grandeza. Quando alguém chega a ser um homem ou uma mulher de Deus não se torna alguém fraco e inseguro. Ao contrário, é alguém forte, mas que colocou toda sua força e inteligência ao serviço de Deus.

A humildade dissipa o conflito, desarma os críticos, convence e converte os inimigos. A humildade atrai. A gentileza e humildade desarma o inimigo, desativa a bomba-relógio em qualquer relacionamento em que está prestes a explodir. Quando você responde com gentileza e mansidão, você desarma seus críticos, porque os decepciona.

As pessoas sábias são agradáveis, humildes e empáticas. Tolos são rudes e grosseiros. A humildade comunica amor. Quando tratamos as pessoas de forma rude, elas fogem de nós.

Bem-aventurados os que têm fome e sede justiça, porque serão saciados.

Justiça significa santidade, perfeição. Portanto, ter fome e sede de justiça é ter fome e sede de santidade. Isso não é algo que nós consigamos com nossas forças. Mas para isso está o evangelho.

Jesus diz que isso é bom. Que quando sentimos sede e fome de plenitude e felicidade, então, podemos ser preenchidos por Deus, Jesus diz: “serão saciados”.

Por fim, Pe. Rodrigo conclui sua homilia resumindo que se nós queremos, portanto, ter uma vida abençoada por Deus, bem-aventurada, precisamos viver uma vida em que Ele possa nos abençoar

  • Pe. Rodrigo Hurtado LC transmite a celebração da Santa Missa, ao vivo, aos domingos, às 18h, através de seu canal do YouTube.