Em sua homilia deste último domingo, Pe. Rodrigo Hurtado LC reflete sobre o Hino da Caridade, retirado da Carta de S. Paulo aos Coríntios e nos traz elementos para reconhecermos no que consiste o verdadeiro amor.

Pe. Rodrigo revela que esse é um dos textos mais belos que já foi escrito sobre o amor e um dos textos mais conhecidos e famosos da Bíblia e, aprender a amar é uma das coisas mais importantes que devemos aprender. Em certo sentido, todos nós estamos buscando o amor.

O problema é que, como o pecado original entrou na vida do homem, muitas vezes pegamos caminhos errados e buscamos coisas que parecem o amor, mas não são amor. Os sumérios já haviam falado do amor 4 mil anos antes de Cristo, e os gregos, especialmente na obra “O Banquete”, de Platão, também trata do amor, contudo, usando o termo “eros”, de onde derivam as palavras “erótico”, “erotismo”. Isto é, é um amor puramente baseado em desejo. Para Platão, amor nada mais é do que apaixonar-se. Aristóteles, por sua vez, aprofunda mais o tema e utiliza o termo “filia”, que significa o amor de amizade ou o amor de pai com filho, etc.

Porém, o cristianismo percebeu rapidamente que ambos termos não expressavam o significado muito mais profundo e amplo que Jesus deu ao termo “amor”. Jesus traz uma novidade muito radical com seu conceito de amor. Jesus falava do amor como de um compromisso, de um mandamento, inclusive de amor aos inimigos. Ele evita a palavra “Eros” ou “FIlia” e usa em troca, a palavra “ágape”.

As características do amor cristão

1. O amor cristão é inclusivo

O amor cristão se diferencia do “eros” porque não é exclusivo. O eros é um amor que se “consuma” entre duas pessoas. Veja, por exemplo, uma relação amorosa entre duas pessoas. Se um terceiro entra nessa relação, é considerado uma traição. Às vezes, até mesmo um filho é considerado um estorvo, um obstáculo. 

O amor cristão, ao contrário, é um amor aberto. Podemos amar a todos sem excluir a ninguém. É um amor que circula, se expande e é inclusivo. Jesus dizia: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.

O amor cristão nos abre ao mundo inteiro e apaga todas as diferenças. Somos unicamente filhos do mesmo Deus.

2. O amor cristão é uma escolha

O amor cristão é uma escolha livre e consciente. O “Eros” depende da paixão, do gosto, do desejo físico, dos sentimentos, mas essa atração física tem dois problemas: é involuntária e cansa. Ele é involuntário porque simplesmente acontece, como o amor à primeira vista. Por outro lado, ele cansa porque passa com o tempo. Por mais forte ou intenso que seja o amor de desejo, ele termina cansando.

Já o amor cristão, não é passageiro, não depende da paixão, dos sentimentos nem dos gostos ou estados de ânimo. É uma escolha que a pessoa faz consciente e livremente. Nós decidimos amar alguém e fazer o bem a essa pessoa de um jeito totalmente consciente e deliberado. Tanto isto é verdade que Jesus nos manda inclusive amar os inimigos.

“Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; abençoai aos que vos amaldiçoam, orai pelos que vos acusam falsamente.”

(Lucas 6, 27)

Se o amor fosse só desejo ou gosto ou sentimento, não poderia ser um mandamento. Não se trata de algo opcional, mas de um mandamento que Jesus impõe a seus discípulos. Jesus quer que amemos e que seja uma característica dos seus discípulos sempre. Como seria possível a promessa do matrimônio de amar até a morte se o amor não fosse uma escolha livre e consciente?

3. O amor cristão nos ajuda a crescer

A terceira característica do amor cristão é que ele faz crescer tanto quem recebe como quem dá. O amor cristão dignifica a pessoa, não faz dano. É um amor saudável, que possui 4 características muito importantes: 

Deve ser concreto. Isto é, deve se expressar em atitudes concretas. 

Deve ser desinteressado. Não busca o outro apenas por interesse, mas busca o bem da outra pessoa.

Deve ser livre. Esse amor é dado não porque é preciso dá-lo. É um amor dado por um ato livre de nossa vontade, não em troca de um carinho e atenção que eu preciso desesperadamente.

– Deve ser desprendido. Não tenta controlar a vida do outro, que não tenta mudar a outra pessoa, mas a aceita como é.

4. A medida do amor cristão é Jesus

“Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei; que dessa mesma maneira tenhais amor uns para com os outros.”

(João 13, 34)

Por que Jesus chama de novo seu mandamento se ele já era um mandamento no antigo testamento? A Torá ensina aos judeus que o mandamento mais importante da lei era “amar a Deus e ao próximo como a si mesmos.”

Jesus fala que é um mandamento novo porque a novidade não está no mandamento, mas na medida. Antigamente a medida do amor era o amor a nós mesmos. No mandamento de Jesus a medida é o amor dele para conosco.

“Não existe maior amor do que este: de alguém dar a própria vida por causa dos seus amigos.”

(João 15, 13)

5. O amor cristão nos transforma em novas criaturas

“Agora nós vemos num espelho, confusamente, mas, então, veremos face a face. Agora conheço apenas de modo imperfeito, mas, então, conhecerei como sou conhecido.

(1 Coríntios 13, 12)

Ocorre que nosso amor é como bússolas desajustadas. Nossa bússola não termina de apontar para Deus. O amor e a graça vão pouco a pouco nos transformando até chegarmos a ser perfeitos. 

Outro exemplo que o Pe. Rodrigo nos traz em sua homilia é o exemplo do cavalo que está aprendendo a pular os obstáculos de um circuito de equitação. Treiná-lo seria ensiná-lo a pular cada vez melhor. Mas não é isso que Deus está fazendo conosco: Ele está transformando esse cavalo numa criatura com asas, num pégaso. Quando tiver asas, não apenas pulará os obstáculos, ele poderá fazer algo que um cavalo normal jamais poderia fazer. Ele voará por cima das nuvens.

Deus não quer que nós amemos somente para gozarmos de certa felicidade terrena, mas Ele quer nos transformar para que possamos entrar no Reino dos Céus. Porque Ele é amor e se nós não amarmos do jeito que Ele ama, nós não entraremos no Reino dos Céus.

Em seu Hino à Caridade, S. Paulo nos traz 15 formas de amar concretamente. Muitas dessas formas são gestos difíceis, que exigem sacrifício, mas é assim que nós vamos nos transformando através do amor. Cada vez que pratico um desses atos de amor, vou me convertendo nessa nova criatura que Ele quer que nós sejamos. 

Por fim, Pe. Rodrigo nos recorda que essa mensagem de Paulo é muito atual, pois o mundo do espectáculo e da publicidade parecem decididos a ensinar aos jovens de hoje que o amor é só desejo, caprichos e prazer. Que a vida é um sonho romântico perfeito. Que tudo é belo, jovem e saudável. Que não existe a dor, a solidão, a velhice ou a enfermidade. Que tudo podemos alcançar nessa vida.

Mas nós sabemos que isso é uma grande mentira. Sabemos que esse discurso gera imensas expectativas e depois causa profundas desilusões e frustrações, rebeldia contra Deus, contra a família, contra a sociedade e contra a própria vida. Por isso, devemos tentar ensinar às futuras gerações o que é o verdadeiro amor, que nos prepara para a Vida Eterna. 

  • O Pe. Rodrigo Hurtado LC transmite aos domingos a celebração da Santa Missa em seu canal do YouTube. Acesse, inscreva-se e compartilhe o vídeo com aqueles a quem você ama.