O papel do cristão na vida pública
Todo cristão é chamado a ser sal da terra e luz do mundo e, portanto, temos uma missão de ser testemunhas vivas do amor de Cristo, onde quer que estejamos, e nessa quinta-feira, Adriano Dutra recebe no Café com Fé, que também contou com a presença do Pe. Rodrigo Hurtado LC, o Secretário de Estado de Logística e Transporte do Governo de São Paulo, João Octaviano Machado Neto, para refletir sobre o papel do cristão também na vida pública.
João Octaviano, que entrou para a vida pública no início dos anos 80, logo que se formou engenheiro, esclarece que o serviço público é um chamado. «Você vai pra vida pública porque é uma maneira de participar de medidas que vão acabar mexendo com a vida de pessoas em uma sociedade inteira».
«É uma responsabilidade muito grande quando você pensa que um gesto acaba mexendo com milhões de pessoas», medita João Octaviano. «Então, é um chamado, é um desafio você se colocar nessa condição».
Ele também constata que «a não participação do cristão, em especial do católico, mais ativamente na vida publica, por conta de preconceitos, gera um espaço que é ocupado por outras pessoas que não têm os valores católicos que nós temos, e aí surgem todas essas questões controversas, e questões que vão macular a vida pública».
«Então – reflete ainda – é importante a participação, porque você tem valores no seu processo de decisão que estão presentes: você vai respeitar o ser humano, você vai fazer com que a vida dele melhore, vai trazer a ele melhores condições de dignidade, melhores condições de crescimento pessoal dentro da sociedade, para que ele possa ter um discernimento melhor».
Amor ao próximo
João Octaviano afirma que todas as ações dentro da vida pública se revestem «fundamentalmente, do amor ao próximo». «Então, a falta da presença de mais católicos na vida pública, diminui essa visão do amor ao próximo. Quando você toma uma decisão de geração de emprego, de programas… você faz coisas que parecem pequenas coisas, você está trabalhando com o amor ao próximo, com a dignidade, com a recuperação do ser humano na sua condição mais completa».
João completa ainda: «esse senso do amor ao próximo não pode ficar só no amor ao próximo bem próximo, àqueles meus amigos da Igreja, do grupo de oração. Eu preciso entender que o cristão precisa ter uma participação maior em formulação de políticas públicas».
O convidado do Café com Fé vê justamente que há um espaço na política, na vida pública, que precisa ser preenchido pelos cristãos de forma mais incisiva. «Esse é um ponto que demonstra bem porque o cristão precisa entrar na vida pública, e porque ele precisa entrar forte, e precisa entrar para trazer esses valores para o dia a dia da política, para o dia a dia da administração pública».
O católico precisa ser líder
Pe. Rodrigo também esclarece que um dos princípios da liderança é que ela é necessária. «É necessário que alguém assuma o serviço da liderança… Se nós, católicos, que temos valores, que temos convicções e que fazemos isso como um verdadeiro serviço não ocupamos esses lugares e não assumimos essa responsabilidade de liderança, outro vai assumir e, às vezes, não com reta intenção, não com os valores que deveria promover para o bem de toda a sociedade».
«Então — diz o Pe. Rodrigo –, realmente, o católico tem um dever hoje muito grande. Difícil, sim! É muito difícil, pois a política é confusa, mas é muito importante porque nossa grande crise atual, é antes que mais nada, uma crise de liderança. Faltam bons líderes».
João Octaviano reforça que o «cristão tem que exercitar sua liderança sem medo e sem ter vergonha dos valores que ele representa. O cristão não pode ser passivo, ele tem que se posicionar».
Para João, o envolvimento de padres, nos anos 60 e 70, em questões de política partidária, ideológica, perdendo o papel da evangelização, fez surgir muitas questões que acabaram por deformar a relação do cristão com a vida pública, e passaram uma mensagem errada. E esse não é o papel do cristão. «O papel é outro, muito maior do que isso. Ele tem um desafio muito mais amplo de levar esses valores sem deixar-se cooptar por ideologias».
O Secretário de Transporte e Logística do Estado também esclarece que essa liderança cristã na vida pública também deve se dar do lado do empresariado, pois, afirma «não existe político corrupto sem um empresário que o financie». «Então, nessa relação do politico com a sociedade, o empresariado também precisa ter valores cristãos muito claros… Então, a vida pública é muito mais ampla quando a gente discute esse papel».
«O cristão na vida publica não vai aceitar a provocação do capital para que ele se venda para fazer uma licitação corrompida para ajudar essa ou aquela empresa, porque não faz parte de nossos valores», continua João Octaviano.
Pe. Rodrigo aproveita para também fazer um apelo aos católicos para que não tenham medo. «Deus precisa de vocês, o Brasil precisa de vocês». «Nós católicos podemos estragar o plano de Deus por nossa falta de generosidade, por nossa falta de entrega, por nossa falta de competência… sim, precisamos de líderes políticos… precisamos também de empresários».
Falando sobre a formação do católico para assumir o serviço público, João Octaviano esclarece que o ponto a ser discutido deve ser o propósito. «Para que uma pessoa quer entrar na vida pública?»
«Quando você vai para a vida pública você precisa ter muito claro que você precisa oferecer de si o melhor para produzir resultados que serão vistos», ensina João Octaviano. «Não é você que deve ser visto, mas os resultados do que você faz devem ser vistos e isto é duradouro». Ao que o Pe. Rodrigo complementa que «o que temos que fazer é formar católicos com valores, e formar líderes competentes».
Estado laico
Adriano Dutra pergunta ao convidado sobre as dificuldades de dar testemunho como católico em um Estado laico e João Octaviano responde que «a laicidade do Estado está aí para anão se confundir religião com ideologia. A laicidade do Estado não implica em que você não aplique no dia a dia princípios da sua fé».
«Eu entendo que essa questão do Estado Laico é para evitar que qualquer vertente de crença ocupe o papel do Estado, mas não impede de que aqueles que participam do Estado que tenham as suas crenças, que tenham a sua vocação. Isso inclui a nós, cristãos e a nós, católicos. Não podemos ter vergonha de ser católicos».
Terminando esse episódio do Café com Fé, Pe. Rodrigo também acrescenta que «Estado Laico não é sinônimo de Estado Ateu. É diferente! O Estado ateu, por ser um Estado sem Deus, não tem valores, ele simplesmente faz o que lhe convém. Porque, em última instância, Deus é o fundamento de toda ética.
* O Podcast Café com Fé é transmitido ao vivo, toda quinta-feira, pelo canal de Youtube do Instituto Católico de Liderança, pelo Instagram @liderescatolicosbr e também pode ser encontrado nos melhores aplicativos de podcast e no aplicativo de meditações católicas Seedtime.