A tecnologia avançou tão rapidamente nos últimos anos que nós, que somos pais, estamos começando a compreender agora quais são as consequências de uma super-exposição às telas de computadores, smartphones e tablets. E o pior de tudo, estamos compreendendo ao ver os desvios de comportamento em nossos filhos.

Dá até a impressão de que somos pais analógicos e nossos filhos são digitais, de maneira que não conseguimos captar a linguagem que eles estão acostumados, em virtude de tudo o que consomem ao longo do dia nas redes sociais.

Nos últimos anos, nós vimos o surgimento de Orkut, Facebook, Twitter, Instagram, Youtube e, mais recentemente, o surgimento do TikTok e o apogeu da maioria desses ambientes virtuais e, enquanto a maior parte dos adultos estatisticamente diminui o tempo que passa utilizando tais tecnologias, as crianças começam a passar mais tempo conectadas.

A pandemia também lançou nossos filhos às telas, quando o fechamento das escolas os obrigou a cumprir seu horário escolar online, retirando totalmente o contato humano entre alunos e professores.

Por outro lado, também é comum vermos crianças abandonadas às telas dos celulares, enquanto os pais se dedicam a alguma atividade qualquer, como se aquele aparelinho eletrônico fosse uma espécie de babá, no melhor estilo daquele desenho futurista de Hanna e Barbera, os Jetsons.

O perigo escondido nas telas

Seria muito superficial dizer que há um perigo somente da exposição das crianças e adolescentes ao mundo pernicioso do crime e da pornografia que existe na Internet, e acredito que os pais que estejam lendo esse artigo já tenham isso em conta.

Mas, o perigo nem está somente nisso, que é gravíssimo e muito perigoso, mas no próprio fato da criança e do adolescente, que vivem uma fase importantíssima da vida, trocarem a convivência e o contato sensorial com a realidade que os cerca, por uma realidade virtual, isto é, uma realidade que não corresponde ao que é real, por mais estranha que essa frase possa parecer.

Já é de comum acordo entre os estudiosos que a criança e o adolescente precisam do contato com a realidade que os cerca através de seus sentidos, isto é, sua visão, seu tato, seu paladar, sua audição e seu olfato.

É dessa maneira que uma pessoa tem aquilo que os cientistas chamam de propriocepção da realidade e começa a entender seu lugar no mundo e sua relação com as demais pessoas. É assim que sentimos que nossos pais nos amam, que nós amamos nossos pais, que somos amados por Deus. É assim que sabemos realmente quem somos.

E o que acontece com o tempo gasto diante das telas é que a pessoa não atinge essa propriocepção de realidade, porque a natureza que ele contempla num belo vídeo de um parque nacional, por exemplo, não vem acompanhada de cheiros, de sensações térmicas, de gostos, mas o único tato que lhe é permitido é sobre uma tela de vidro.

Consequências

As consequências são palpáveis na sociedade. Claramente se vê um declínio do comportamento e a defasagem de aprendizagem nas crianças e adolescentes, além do aumento das condutas impróprias e desordeiras. 

Uma das cenas mais comuns que se pode ver entre os jovens é uma postura estática, preguiçosa. O indivíduo parece que está no local como um cadáver insepulto, pois sua mente está em outro universo. Só são capazes de efetuar alguma atividade que lhes exija um movimento físico com muito custo. Querem fazer tudo virtualmente, como se assim fossem capazes de controlar o mundo com a ponta de seus dedos.

Além disso, já são muitas as pesquisas sérias que demonstram claramente uma relação nefasta entre o tempo que uma criança fica na tela e a anormalidade de seu crescimento, em todas as áreas de sua vida.

O que podemos fazer?

A verdade é que cabe a nós, pais, controlarmos o tempo e o que as crianças e adolescentes veem nas telas. Exatamente! Somos nós que temos o poder sobre isso, da mesma forma que nossos pais exerceram o poder sobre nosso tempo de jogar videogame na infância.

Nossos filhos ainda não conseguem distinguir de maneira correta, as prioridades da vida, a não ser que nós mesmos os ensinemos e deixemos nosso exemplo.

Cabe aos pais não serem complacentes com os perigos das telas e criarem uma agenda para seus filhos.

As telas fazem parte da vida e cada vez mais elas tomam conta de todos os espaços e, portanto, é até nocivo criar uma bolha em torno do filho em relação à tecnologia, mas nós temos que tomar as rédeas e limitar o tempo de tela e aquilo que nossos filhos veem nos seus celulares.

Se aquilo que eles estão vendo não puder ser visto por todos da casa, numa televisão, por exemplo, certamente é porque estão acessando conteúdo problemático na telinha. E não tenha receio de estar invadindo a privacidade de seu filho, pois ele precisa de sua ajuda para poder distinguir o bem do mal, até que, chegando numa idade em que a razão se faça presente, ele possa discernir por si mesmo.

É dever dos pais zelar pela educação de seus filhos, e isso inclui, sem sombra de dúvida, escolher como e com quem seu filho é educado, servindo também para aquilo que ele tem acesso através da Internet.