Caná da Galileia e o novo de Deus
A vida com Deus carrega consigo uma felicidade imensurável, sobretudo quando se tem disposição para buscar, dia após dia, o novo que alcança os que se abandonam no Senhor. No episódio das Bodas de Caná (cf. Jo 2,1-10), Jesus entra na história de uma família que celebrava uma humilde festa de casamento na cidade de Caná da Galileia.
A essa altura, Jesus – que já havia saído da casa de seus pais em vista da missão – foi convidado para o casamento, assim como sua mãe e seus discípulos. Porém, as manifestações do Filho de Deus ainda não haviam acontecido, mas à pedido da bem-aventurada Virgem Maria, Jesus antecipa sua hora e realiza um milagre capaz de manter a alegria da festa.
Caná da Galileia: bodas de alegria e milagre
Um humilde casal de Caná. Não era um suntuoso banquete daqueles retratados nos quadros renascentistas e medievais. Foi uma festa simples de um casal simples da Galileia, localizado no local que hoje conhecemos como terra santa. Em meio a uma vida repleta de restrições, tais eventos eram ocasiões extraordinárias na vida pacata dos campesinos galileus que se limitavam a um cardápio de hortaliças, legumes, pão, ovos e algum peixe. A carne, por exemplo, só era provada nas grandes ocasiões como aquele casamento.
No auge das celebrações e festividades, a virgem Santíssima percebe um burburinho. O que não podia acontecer, aconteceu: acabou o vinho! A alegria da festa havia chegado ao fim! Maria, ciente dos desígnios do Pai Eterno para seu Filho, e que “para Deus nada era impossível” (cf. Lc 1,37), apressadamente procura Jesus e diz: “Eles não têm vinho!”. O Mestre, por sua vez, afirma que aquela não era sua hora. Mas a Mãe de Jesus é assertiva: “Fazei tudo quanto Ele vos disser” (cf. Jo 2,5). Do mesmo jeito que tinha sido instrumento para a encarnação do Verbo Divino, Nossa Senhora agora o era para dar início à missão do Salvador.
Talhas cheias de água. Incredulidade. Obediência. O impossível se fez: vinho em abundância, e de uma qualidade bem melhor, de modo surpreendente.
O novo de Deus é sempre o melhor
O que significa tudo isto? O vinho novo é símbolo da vida nova que Jesus traz com a sua mensagem e com sua ressurreição. O Senhor dirá depois que “não se coloca vinho novo em odres velhos” (cf. Mt 9,17). Ou seja, para receber a mensagem, primeiro precisamos nos esvaziar de nós mesmos, de nossos esquemas mentais, de nossas rotinas.
As páginas seguintes no evangelho de João estão cheias dessa novidade :
- Jesus no templo falará de seu corpo como o templo novo (cf. Jo 2,19).
- Para Nicodemos, Jesus explicará a necessidade de nascer de novo (cf Jo 3,5).
- À Samaritana anunciará um culto novo a Deus em espírito e verdade (cf Jo 4,23).
- E todos os milagres que seguirão são sinais da vida nova que começa em Cristo (cf. Jo 4,50).
A mensagem evangélica tem o poder de revolucionar toda nossa vida, a condição de deixar de seguir os modelos padronizados da sociedade e nos abrir à obra e ao propósito único e extraordinário de Deus para nossa vida. Então veremos a abundância do dom de Deus fluir, do mesmo jeito que o vinho inundou a festa daquela noite.
Material produzido a partir do livro “Redescobrindo Jesus”,
do Padre Rodrigo Hurtado.