A arte no espaço sagrado
No Café com Fé dessa quinta-feira, 6 de maio de 2021, Adriano Dutra recebe Wilma Steagall De Tommaso, para conversar sobre a arte no espaço sagrado, fazendo um passeio por Igrejas dos primeiros séculos do cristianismo até chegar na arte sacra atual.
Prof. Wilma, que é doutora em Ciências da Religião pela PUC-SP e Coordenadora do Grupo de Pesquisa sobre Arte Sacra do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo inicia nossa viagem com as obras produzidas no período grego clássico. Os gregos, por acreditarem que a vida se encerrava com a morte, procuravam eternizar-se em sua arte, criando uma infinidade de esculturas com traços humanos perfeitos. Era sua maneira de eternizar a vida, já que, para eles, tudo terminava com a morte. Já, para os cristãos, a morte deixa de ser um mistério e eles acreditavam realmente na ressurreição. A arte não mais é uma maneira de perpetuar-se, mas torna-se uma forma de catequese.
«Os cristãos, naquela época, sabiam muito pouco de teologia, mas queriam manifestar Cristo. Foi assim que o cristianismo cresceu nesse mundo pagão», ensina a Prof. Wilma. A Igreja dos primeiros séculos «era uma Igreja sempre olhando para o outro, não era individualista e a arte grega era individualista».
Os cristãos, durante os primeiros anos, nem sempre foram proibidos de celebrar, recorda a Prof. Wilma, e praticavam uma forma de liturgia doméstica, com a criação da Domus Ecclesia, que eram os templos dos primeiros cristãos, construídos por benfeitores, para que todos pudessem participar. Nesse Café com Fé, a Prof. Wilma faz um tour visual também pela arquitetura dessas primeiras igrejas, por assim dizer. Porém, em 313, com o edito de Milão, os cristãos conseguiram, por Constantino, a permissão para ter templos e as Igrejas começam a se modificar.
A Prof. Wilma também reforça que «Cristo não trouxe uma nova religião, mas uma nova forma de vida, e estão aí os sacramentos que nos ajudam a ter essa nova forma de vida». As Igrejas, segundo a professora, seguiam uma arquitetura baseada na Carta aos Hebreus, especialmente nos capítulos 8, 9 e 10.
O tour artístico, depois, continua por Igrejas dos primeiros mil anos do cristianismo. Em Veselay, na França, a Prof. Wilma mostra a Basílica de Santa Maria Madalena, que possui a nártex, que é o espaço que ficava entre a porta e a nave principal da Igreja. Ali era onde os catecúmenos ficavam, antes de serem batizados e era um local de penitência. Nessa bela basílica, nesse espaço fica uma bela representação de S. João Batista com o tema da redenção. Essa igreja foi construída como se fossem duas tendas, em referência ao livro do Êxodo.
Nessa parada na França, Prof. Wilma traz uma curiosidade sobre a basílica de Santa Maria Madalena. Na época da construção dessa basílica de Veselay, no século X, essa Igreja não tinha muitas imagens, mas os arquitetos que a construíram fizeram algo interessante. Durante o solstício de verão, que no hemisfério norte coincide com a semana da festa de João Batista, a luz do sol entra na igreja criando um caminho de luzes e sombras no chão central, que remete ao caminho do cristão, com luzes e sombras, e chega no presbitério todo iluminado, onde fica o altar. No solstício de inverno, que ocorre na semana após o Natal na Europa, as luzes que antes se projetavam no chão, agora se projetam na parede lateral da nave, iluminando cenas do antigo testamento gravadas na parede, pois só com a luz de Cristo entendemos o Antigo Testamento.
Depois da França, o passeio virtual chega à Itália, na Basílica de Santa Maria Nuova em Monreale, na Sicília. Com seu interior todo coberto de mosaicos. O Cristo acima do Presbitério, bem no centro, é a cabeça da Igreja e o fiel é o corpo. O fiel, ao entrar na Igreja vê que quem o aguarda sobre o presbitério é o Pantocrator. Nas paredes laterais, os mosaicos contam toda história da criação e redenção do homem e refletem o «auto-retrato da Igreja». Prof. Wilma lembra que as «paredes das igrejas não foram feitas para as pessoas se protegerem dos ventos ou das chuvas, mas era para estar lá gravado o que é a comunidade».
Por fim, a Prof. Wilma termina seu encantador passeio com a arte sacra atual e ensina que o Concílio Vaticano II tinha dois fundamentos principais. Um retorno às fontes do cristianismo e aquilo que foi chamado de «aggiornamento». «A Igreja se mova para frente, pois é o Espírito Santo que nos move. A Igreja é como uma grande barca que leva aqueles que estão nela por livre adesão para o céu», reflete. Portanto, a contribuição daquele Concílio para a arte sacra é a prevalência de um altar central nas Igrejas, diferentemente das Igrejas advindas do Concílio de Trento, com diversos altares laterais.
Nesse momento, a Prof. Wilma ressalta dois artistas contemporâneos que, segundo ela, souberam interpretar esse desejo dos padres conciliares. No Brasil, Cláudio Pastro desenvolveu uma arte que se inspirava nas fontes do cristianismo, na arte românica, por exemplo, e criou esplêndidas obras, tendo com o ápice de sua produção, toda arte interna da Basílica Nacional de Aparecida, no interior de S. Paulo. E, na europa, o Pe. Marko Ivan Rupinik que, ainda que nunca tenha se encontrado em vida com Pastro, comungava da mesma inspiração.
A Prof. Wilma também revela que as obras de ambos artistas irão se encontrar justamente na Basílica de Aparecida, pois o Pe. Rupinik produzirá os afrescos que irão compor as fachadas externas do santuário.
Finalizando, a Prof. Wilma, convida o ouvinte do podcast Café com Fé a ter um novo olhar. «As imagens da Igreja são as Escrituras Sagradas em formas e cores. Então, quem sabe ler as Escrituras, saberá ler as imagens e, quem não sabe ler, pelas imagens compreenderá as Escrituras».
O Podcast do Instituto Católico de Liderança que é transmitido ao vivo pelo Youtube, pelo Instagram e pelo Facebook, também pode ser ouvido pelo aplicativo Seedtime e nos principais aplicativos de podcast.