Em sua homilia com estudo bíblico deste último domingo, Pe. Rodrigo Hurtado LC, a partir do famoso discurso de Jesus das bem-aventuranças, nos ajuda a perceber que elas são, na verdade, oito escolhas que precisamos fazer para que possamos herdar o Reino de Deus, isto é, sermos felizes.

Todos os grandes líderes tinham uma proposta para a humanidade. Eles escreveram ou ensinaram sua visão em livros famosos. Por exemplo todos os ensinamentos de Maomé estão no Corão. Os ensinamentos de Buda ficaram num livro chamado Tripitaka. Hitler deixou sua proposta de raça pura no livro “Mein Kampf” (Minha luta) e Marx deixou o seu pensamento no Manifesto Comunista.

Jesus não deixou nada escrito, mas os seus discípulos posteriormente escreveram os Evangelhos. Mas de todos os evangelhos, o ponto mais alto, eu diria que, se Jesus deixou um compêndio de seu ensinamento são estas bem-aventuranças que escutamos hoje.

Estas 8 sentenças de Jesus que começam com a palavra “Bem-aventurados” nos mostram um caminho, um estilo de vida, a filosofia de vida de Jesus. Mas para entender as bem-aventuranças precisamos entender três coisas importantes.

1. A proposta de Jesus parte da realidade

Por causa desse desajuste interior, que chamamos pecado original, sofremos e é difícil encontrar a felicidade. Corremos com frequência atrás de felicidades vazias e tropeçamos em armadilhas que nos levam a sofrer e abandonar o caminho do bem.

Esse é o drama da vida humana. O desajuste original do pecado original. E esse desajuste produz todos os outros desajustes que encontramos na vida. Jesus sabe disso e parte dessa realidade para fazer sua proposta. As 8 bem-aventuranças são, no fim das contas, 8 situações ruins que enfrentamos na vida.

Jesus diz: Bem-aventurados os pobres de espírito, os que choram, os que sofrem perseguição, os que são tratados injustamente, os que são humilhados, os que sofrem tentações ou se vêem envoltos em conflitos… é nesses momentos que precisamos transformar as circunstâncias com nossas escolhas.

2. A proposta de Jesus requer uma escolha pessoal

Quando Jesus nos apresenta as bem-aventuranças, ele faz grandes promessas para nós, mas requer uma escolha pessoal. Frente a cada situação descrita nas bem-aventuranças há diversas formas de reagir. Jesus te mostra o jeito certo, mas depende de você fazer essa escolha certa.

Portanto, as bem-aventuranças são, antes de mais nada, oito escolhas que devemos fazer em nossa própria vida se queremos alcançar as promessas de Jesus.

Oito escolhas para curar a vida. Oito escolhas para ser feliz. Oito escolhas para transformar o mal em bem, com a ajuda de Deus e de sua graça.

3. Na proposta de Jesus, Deus tem a última palavra.

Finalmente, se fizermos a escolha certa, Deus nos dará um grande prêmio. O interessante neste ponto, é pensar duas coisas:

  • A última palavra sempre é de Deus. Se fizermos as escolhas certas, é porque acreditamos que Deus terá a última palavra, que Deus, no final fará justiça, que Deus, no final, nos dará o prêmio, que Deus, no final, nos acolherá no Reino dos Céus. As coisas não terminam até que Deus diga que terminam.
  • As promessas de Deus transcendem esta vida. A promessa de felicidade de Deus não é só para esta vida. A maioria delas é para a vida eterna.

Oito escolhas para herdar o Reino de Deus

1. A escolha da confiança

“Bem-aventurados os pobres de espírito, pois deles é o Reino dos Céus.”

(Mateus 5, 6)

Pobres são aqueles que dependem de outros para sobreviver. Porque são pobres, precisam da ajuda de outros. Nesse mesmo sentido, “pobres de espírito” são aqueles que precisam de Deus para viver. Não bastam a si mesmos. Aprender a Depender de Deus.

2. A escolha da esperança

“Bem-aventurados os que choram porque serão consolados.”

(Mateus 5, 4)

A segunda escolha é para os momentos de abatimento e sofrimento. Quando choramos a perda de alguém muito querido, quando choramos de impotência frente às dificuldades, quando choramos porque fomos abandonados ou traídos por um esposo(a)… Jesus diz: não desanime. Faça a escolha da esperança.

3. A escolha da humildade

“Bem-aventurados os humildes porque herdarão a terra.”

(Mateus 5, 5)

A terceira escolha tem haver com a violência, o abuso, a prepotência que encontramos no mundo. Jesus diz: seja manso e humilde, escolha a humildade.

A humildade e a mansidão são a força sob controle. Como o cavalo, quando é domado, não perde sua força, mas a domina. O manso e humilde sabe dominar seus impulsos, suas reações violentas, é dono de suas respostas.

4. A escolha do crescimento

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque eles serão saciados.”

(Mateus 5, 6)

A quarta bem-aventurança se refere à sede e fome de justiça, ou seja, nunca deixar de buscar, de procurar a justiça de Deus. É a escolha do crescimento.

5. A escolha do perdão

“Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia”

(Mateus 5, 7)

O que é a misericórdia? Pensamos em “Perdão a quem nos ofendeu” e “ajuda aos que precisam”. Pois bem, isso não está mal, mas a misericórdia se aplica sobretudo a Deus. Misericórdia e graça são as duas coisas que Deus nos dá. 

  • Misericórdia é não nos dar o que merecemos. 
  • Graça é dar o que não merecemos

Deus usa de graça e misericórdia conosco todo dia. Ele nos convida a fazer o mesmo, para poder ser filhos Dele.

6. A escolha da pureza

“Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus”

(Mateus 5, 7)

É a segunda vez que aparece nas bem-aventuranças uma qualidade do coração. Os pobres de espírito e os puros de coração. Em ambos casos, Jesus quer ampliar o conceito de pobreza ou pureza. Trata-se da dependência de Deus (no primeiro caso) e da liberdade de outros amores que não sejam Deus. 

Puros de coração são aqueles que veem o bem e o mal com clareza, são aqueles que apreciam os valores de Deus e não os do mundo. São aqueles que são livres para seguir Deus, desprendidos das riquezas, dos prazeres e do orgulho do mundo.

7. A escolha da paz

“Bem-aventurados os construtores de paz porque serão chamados filhos de Deus”

(Mateus 5, 10)

Ser um construtor de paz é diferente de ser um pacifista. Pacifista quer a paz a qualquer custo, inclusive ao custo da verdade, ao custo da justiça. O cristão não é esse tipo de pessoa. 

Ser um construtor de paz também não é aquele que foge do conflito. 

O construtor de paz quer a paz, mas com justiça e verdade. Às vezes, para chegar a conquistar essa paz, precisamos confrontar, dizer a verdade, mesmo que doa. Precisamos lutar e trabalhar pela justiça e para que reine o amor.

8. A escolha da paciência

“Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus” (Mateus 5, 11)

(Mateus 5, 11)

Finalmente encontramos a bem-aventurança sobre a perseguição e o sofrimento. Qual é a escolha que temos que fazer nessa circunstância? A escolha da paciência. 

São Paulo dizia a seu discípulos Timóteo: “Todas as pessoas que almejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidas.” (2 Timóteo 3, 12)

“Bem-aventurados sois vós quando vos insultarem, e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos sobremaneira, pois é esplêndida a vossa recompensa nos céus.”

(Mateus 5, 11)

As bem-aventuranças são o manifesto de Jesus para nossa vida. Eles partem da realidade de um mundo ferido pelo pecado original e nos mostram o caminho para viver segundo o jeito de Deus.

Esse jeito nos alcançará a felicidade nesta vida e também na outra.

Assista o vídeo na íntegra no canal de YouTube do Pe. Rodrigo Hurtado LC no link abaixo: