Confiança e abandono em Deus
Muito estimado em Cristo, escrevo estas linhas em abril, quando a pandemia ainda se sente muito muito presente em nossas vidas. Esta batalha está longe de terminar, mas cresce um sentimento de confiança, esperança e otimismo.
Sem dúvida tem sido um ano muito difícil: temos perdido entes queridos, a maior de todas as perdas. Temos perdido: saúde, negócios, oportunidades, relações e inclusive paz psicológica e emocional.
Entretanto, sempre que vivemos qualquer tipo de provação, a fé nos convida, não apenas a ver a metade do copo que está vazio, mas a metade que está cheio. Temos que tentar enxergar o que Deus está fazendo conosco através dessa provação com confiança. Sobre isto já escrevi na carta de março.
A questão é que a pandemia não só trouxe coisas negativas, também trouxe algumas grandes lições que é importante assimilar para a vida e não esquecer quando a normalidade voltar. Aqui estão três lições que a pandemia nos deixou:
1. Repensar o verdadeiro conceito de sucesso na vida
A primeira lição que a pandemia nos deixou foi redimensionar o nosso conceito de sucesso, e em consequência, as prioridades em nossa vida. Muitas pessoas me dizem: “Padre, eu não sei para onde estava indo com tanta correria e com tanto trabalho.” Efetivamente, às vezes, a inércia do mundo nos absorve num sem fim de tarefas, metas, compromissos que nos põem a escalar a montanha do sucesso e só quando chegamos ao topo, percebemos que escalamos a ladeira errada.
A pandemia nos obrigou a parar e parar nos colocou a pensar. Isso é um grande ganho para nossa vida. Pequenos desvios em nossa rota, podem ser fatais a longo prazo. Pense, por exemplo, no que aconteceria se dispararmos um foguete para a lua e erramos na rota apenas por 5º. No início pode parecer um erro pequeno, mas ao final aquele foguete, com certeza, acabará no meio do nada.
O mesmo acontece com a vida. Eu já vi muita gente sacrificar sua saúde, sua família, seu casamento, sua saúde mental e emocional para conquistar “o sucesso” e ao final descobrir que a felicidade é algo bem diferente do sucesso. Ganham um monte de dinheiro na primeira metade de sua vida, para gastá-lo na segunda, tentando recuperar a saúde perdida e a felicidade nunca alcançada.
A pandemia nos colocou a pensar… não perca esse hábito. Desenvolva o hábito da meditação católica. Dedique todos os dias um tempo para pensar, para se encontrar com Deus, para medir a temperatura de seu coração e o rumo de sua vida. Para isso, nós temos desenvolvido o aplicativo de meditação católica Seedtime. Se você não conhece, encontre-o na loja de aplicativos de seu celular e baixe-o. Pode ser um grande aliado nesse esforço de refletir e pensar sobre as prioridades da vida e o verdadeiro sucesso.
2. Revalorizar as relações humanas
A segunda lição da pandemia tem sido revalorizar a importância da própria família. Muitas pessoas foram forçadas a ficar em casa, a conviver por muitas horas com suas próprias famílias, e isso, inevitavelmente, levou a intensificar as relações interpessoais.
Homens e mulheres que trabalhavam em escritórios ficaram em casa e se envolveram mais nos afazeres do lar. Os matrimônios tiveram que conviver intensamente e envolver-se mais na vida dos filhos. Muitas mães e pais tiveram que substituir o papel dos professores do colégio, na educação dos filhos e muitos filhos passaram a estar muito mais próximos de seus pais.
Tudo isso, não ficou isento de crises, conflitos e desafios, mas ao final,reparamos que esse tempo que passamos juntos, tem ajudado a fortalecer as relações familiares e em consequência, trouxe maior paz e felicidade.
A felicidade não depende dos bens materiais, mas da saúde de nossos relacionamentos: relacionamentos entre esposos, dos pais com os filhos, dos filhos com os pais, dos irmãos, dos colegas de um negócio ou dos amigos… Relações saudáveis são sinônimo de felicidade. Inclusive no mundo das empresas, as boas relações fazem a diferença entre o fracasso e o sucesso, quando há falta de interação direta há dificuldade na comunicação.
Mas para aprofundar esses relacionamentos, tanto no âmbito da família, como no âmbito laboral ou da amizade, não existe outro caminho que dedicar tempo às pessoas.
Quando a vida voltar à normalidade, lembre: as pessoas são o mais importante em nossa vida, não as contas de banco, as posses materiais ou agregar mais páginas ao nosso currículo. Mas, ao mesmo tempo, as pessoas precisam de tempo e atenção. A pandemia nos obrigou a conviver e cultivar as relações interpessoais. Não perca o hábito de valorizar e colocar as pessoas sempre em primeiro lugar.
3. Redescobrir a Deus em nossa vida
Quando as coisas estão indo bem, nos sentimos capazes de superar qualquer desafio. Nos sentimos no controle de nossa vida. Poderosos para vencer os obstáculos e conquistar o sucesso sem que nada nos possa parar. Porém, essa sensação de segurança é falsa. Na verdade, o ser humano é muito frágil e a linha que separa o sucesso do fracasso, a vida da morte, é sempre muito estreita.
Quem poderia imaginar, dois anos atrás, que o mundo pararia por causa de um “simples” vírus? Que 120 milhões de pessoas ficariam contagiadas com o vírus e quase 3 milhões morreriam por causa dele? Quem teria previsto para o ano de 2020 perdas de quase 4 trilhões de dólares, ou seja, uma queda da produção mundial de 4,5%, com tudo o que isso implica em desemprego, fechamento de empresas, empobrecimento e crescimento da desigualdade?
Essa sensação de medo e insegurança trouxe, em muitos casos, o redescobrimento de Deus. Quando nós não temos o controle, elevamos nosso olhar para Deus. Ele é o único que realmente está no controle. E Deus nunca nos abandona ou deixa de pensar em nós. “O Senhor é meu pastor, nada me faltará.” (Salmo 23) Por mais desesperada que pareça nossa situação Deus está sempre no comando.
A verdadeira paz interior não vem de nossas capacidades humanas, de nossos recursos econômicos nem de nossas relações sociais. A verdadeira paz interior vem de nossa confiança em Deus. Quando perdemos entes queridos muito próximos, quando perdemos nossa fonte de renda familiar, quando perdemos a saúde e nada parece dar certo, só Deus pode trazer algo de esperança e paz.
Momentos como este, de pandemia global, podem nos servir para aprendermos algo muito importante sobre a vida: a condição essencialmente limitada do ser humano. Só a confiança e o abandono nas mãos de Deus, podem trazer autêntica paz e felicidade.
Apesar das aparências, eu tenho a convicção de que muitas pessoas têm aprendido pelo menos estas três lições e, com a ajuda de Deus, o mundo que sairá da pandemia será um pouco melhor que o anterior. Essa é a minha oração e o trabalho do Instituto é para fazer essa realidade o Reino de Cristo na terra.
Como todos os meses, agradeço muito ter a oportunidade de conversar com você e receber seu apoio e proximidade. Também no seminário tem sido um ano difícil. As doações caíram consideravelmente e as dioceses que ajudavam têm passado grandes dificuldades para seguir contribuindo, com a formação de seus seminaristas.
Mas graças a Deus contamos com sua ajuda. Sua contribuição é muito importante para nós! Não deixe de colaborar clicando aqui, mesmo que seja com um valor pequeno. Lembre como Jesus ficou feliz com a doação daquela viúva do evangelho (Lucas 21, 2), apesar de ter doado apenas algumas moedas. Jesus vê a generosidade do coração e não a quantidade material. De antemão, eu também agradeço de coração sua generosidade e apoio pessoal.
Nós estamos sempre rezando por você e sua família. Que Deus lhe abençoe sempre e que juntos possamos contribuir com Cristo e com a Igreja, na missão de continuar a pregar pelo mundo, a mensagem de Cristo e a salvação que Ele nos conquistou com sua morte e ressurreição.
Deus o abençoe sempre.