No trecho do Evangelho de Marcos que a liturgia nos traz neste Domingo, vemos um versículo interessante que relata que o Espírito Santo levou Jesus ao deserto e ali Ele foi tentado por satanás.

Por que o Espírito Santo leva Jesus ao deserto para ser tentado por satanás? Por que Deus permite a tentação?

Isso também acontece em nossa própria vida, que é uma provação, como podemos ver em muitas parábolas que Jesus contou no Evangelho. Todos os personagens do Antigo Testamento também foram provados em sua vida.

Portanto, a primeira verdade que emerge à luz neste trecho do Evangelho é que a vida é uma provação, um teste.

Por que Deus nos prova?

A partir daí, podemos nos perguntar o motivo de Deus permitir a provação em nossa vida. Deus nos prova porque aquilo que Ele quer nos dar é algo grande.

É algo para o qual precisamos nos preparar, purificar, alcançar. E Deus não se contenta com pouco. Ele quer nos levar à mais alta dignidade, quer nos dar o maior prêmio.

Nós estamos destinados a reinar com Cristo.

“Se morremos com Ele (com Cristo), da mesma forma com Ele viveremos; se perseveramos, com Ele reinaremos”

(1 Timóteo 2, 11)

E por isso, Deus também leva Jesus ao deserto. O deserto é imagem de um lugar solitário e de oração, mas também, de um lugar selvagem e austero, que exige sacrifício e caráter.

Por isso, a Igreja também nos propõe todo ano este período da Quaresma. Porque o cristão precisa formar a força de vontade, o caráter, desprender-se dos resíduos do mundo que vão se aderindo à nossa vida.

“Estou absolutamente convencido de que os nossos sofrimentos do presente não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada.”

(Romanos 8, 18)

Fazer caridade, dar esmola, não comer carne às sextas feiras, rezar mais… tudo isso é parte do treinamento do cristão e só é importante nunca perder de vista a meta, o objetivo: chegar a reinar com Cristo.

As tentações na vida do cristão

Dentre todas as provações em nossa vida, sem dúvida, seremos mais provados através das tentações. Santo Agostinho nos ensina que é por meio das tentações que nós podemos conhecer a nós mesmos. Essa talvez seja a batalha mais difícil a ser enfrentada.

Na verdade, as 3 práticas propostas pela Igreja na Quaresma, isto é, a esmola, o jejum e a oração, são como que três antídotos contra as 3 grandes tentações de nossa vida. Existem muitíssimas tentações, claro, mas elas todas se resumem a 3 campos principais da nossa vida.

São João fala dessas 3 tentações.

“Tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não vem do Pai, mas sim do mundo.”

(1 João 2, 16)

A concupiscência da carne é a tentação de “sentir bem”, de “sentir gostoso”. “Se sinto vontade, prazer, eu faço”. Nesse caso, a luxúria seria o exemplo mais comum, mas também aqui vem aquela tentação depois de um dia de trabalho duro, quando chegamos em casa e vem a ideia de um pecado do prazer… e escutamos uma voz interior que diz: “Você merece isso. Você já fez tantas coisas boas… isto não muda o que você fez”.

A concupiscência dos olhos é a tentação de querer possuir coisas, ambicionar bens, todos os bens do mundo. Possuir nos dá uma sensação de controle, de poder, de status. João chama de “concupiscência dos olhos” porque nessa tentação caímos pelos olhos, pela comparação com os outros, pela inveja, pela ambição.

A soberba da vida é a tentação da vaidade, que é filha da soberba. É a tentação de “ser”, isto ou aquilo diante dos olhos do mundo. Que todos vejam quem sou eu. A tentação, não de que as pessoas gostem de você, amem você pelo que você faz por elas, porque você as serve. É a tentação não de ser amado, mas de ser invejado, ser temido, que no fundo, é o desejo de ser “adorado”.

Essas são as três tentações.

As tentações de Adão e Eva foram as mesmas. O texto bíblico do Gênesis diz respeito da maçã que estava na árvore no centro do jardim:

“A mulher observou que a árvore realmente parecia agradável ao paladar, muito atraente aos olhos e, além de tudo, desejável para obter sagacidade.”

(Gênesis 3, 6)

As práticas da Quaresma

Portanto, como já vimos, a Igreja nos propõe algumas práticas durante a Quaresma que são verdadeiros antídotos contra essas tentações.

Contra a concupiscência da carne, a Igreja nos propõe o Jejum. O desejo de comer é um desejo muito básico, e quando eu pratico o jejum, minha vontade se torna mais forte e tenho força para dizer não à tentação.

Contra a concupiscência dos olhos, a Igreja nos propõe a esmola. A esmola, mais do que simplesmente doar algo, é praticar o desprendimento. Ter menos, desprender-se de algo em favor de quem precisa.

Finalmente, a oração é o antídoto contra a soberba. Porque a oração é colocar-se diante de Deus e reconhecer o nosso lugar nesse mundo. A oração nos coloca em contato com o essencial de nossa vida.


Assista à homilia do Pe. Rodrigo Hurtado LC, na íntegra, através de seu canal de YouTube, ou tenha acesso a um conteúdo de Estudo Bíblico da liturgia dominical do ano todo com o curso Conhecer e Viver a Bíblia, que está em nossa loja aqui no site.