Nesta quinta-feira, Adriano Dutra recebe em nosso podcast Café com Fé o economista Rodolfo Barreto, sócio e gestor da área de fundos macro da Ibiuna Investimentos, para falar sobre o cenário atual do mercado financeiro e as oportunidades que surgem em tempos de crise.

Rodolfo, que já participou do podcast Café com Fé em março de 2021, comenta que o cenário atual do mercado financeiro vem de muitas mudanças nos últimos dois anos. O primeiro ponto que vemos nas notícias é o retorno da inflação que possui uma questão de desigualdade muito grande.

A inflação cresceu em virtude da incerteza que surgiu gerada nos primeiros meses da pandemia de Coronavírus. Aquele momento em que todos estavam trancados em casa, as indústrias pararam a produção, os aviões pararam de voar, fez com que os bancos centrais dos países, lembrando da crise de 2008/2009 em que os bancos quebraram, chegaram à conclusão de que precisariam ser muito mais agressivos, para não correr o risco de terem bancos quebrando.

«A última crise é sempre o fantasma da próxima», relata Rodolfo. Portanto, esse receio de haver uma repetição da crise de 2008, em que passamos muito tempo com um desemprego muito alto e uma inflação muito baixa, gerou duas grandes consequências. A primeira delas é que os bancos centrais foram muito mais agressivos, tanto na redução de juros quanto nas suas compras de ativos, por um lado, e, por outro lado, os governos instituíram programas de assistência que foram os maiores programas de assistências que já vimos na história.

Para Rodolfo, esses planos de assistência do governo, que foram a transferência de poupança diretamente para as pessoas e para as empresas, foi algo muito positivo, porque se não ocorresse, poderia haver a quebra de muitas empresas ao mesmo tempo e o número de demissões seria muito maior.

Segundo o economista, há um lado bom dessa crise que pode ser mensurado pelos indicadores de PIB e, do ponto de vista do trabalhador, descobrimos formas de sermos produtivos depois dos primeiros dois ou três meses de choque da pandemia.

O fato das pessoas ficarem em casa, fez com que a procura por serviços diminuísse, mas, em contrapartida, a demanda por produtos, especialmente os adquiridos online, aumentou. Na outra ponta, por conta das restrições do trabalho presencial, a produção diminuiu, criando um descompasso entre a oferta e a procura, ocasionando o aumento de preços. Além disso, em virtude dos auxílios do governo, no agregado do país, as pessoas tinham de 10% a 20% de poupança a mais.

Soma-se a isso a taxa de juros muito baixa aplicada pelos bancos centrais, que criaram um desincentivo à poupança, alimentando mais ainda o aumento da demanda. Esse detalhe foi visível no aumento do mercado de construção civil, mesmo em meio à crise gerada pela pandemia.

Outro fator que contribui para a atual situação do mercado financeiro é que, logo após a crise gerada pela pandemia de coronavírus, acrescentou-se ao cenário uma guerra e o fator agravante dessa guerra é que a Rússia é um produtor de vários produtos agrícolas, um dos grandes exportadores de petróleo e gás e a Ucrânia é um dos grandes exportadores de trigo. Isso fez com que toda a cadeia agrícola fosse afetada a partir do momento em que a Rússia invade a Ucrânia, além de todo efeito gerado sobre o petróleo e o gás.

Falando sobre o Brasil, Rodolfo vê a subida dos juros realizada pelo Banco Central como uma maneira positiva de lidar com a inflação, pois gera um incentivo à poupança, que até então não tínhamos, e é importante lidar com a inflação, pois o custo social que ela gera é alto.

Rodolfo também manifesta preocupação com os programas de gastos do governo brasileiro, pois se o governo não cumpre suas obrigações, isso também é um fator inflacionário, que reflete diretamente na desvalorização da moeda frente às moedas estrangeiras. Se o Brasil está com uma inflação de 20%, por exemplo, e o resto do mundo está com inflação menor, a moeda brasileira precisa estar desvalorizada para atingir seu real valor de mercado.

Cenário Futuro

O contexto internacional é bem importante para analisarmos a situação brasileira, de acordo com Rodolfo. No cenário internacional, os bancos centrais estão elevando as taxas de juros para níveis restritivos, em razão da inflação, e a consequência disso é que há um aperto de condições financeiras, fazendo com as bolsas de valores tendam a cair. Isso também irá gerar uma desaceleração das economias, que é um processo natural para controlar a inflação.

Esse contexto externo faz com que o Brasil também desacelere e que a inflação também fique mais baixa, porém com o Banco Central mantendo ainda os juros altos, para que nossa inflação possa retornar abaixo de 4%. De certa forma, haverá um momento em que esse cenário se estabilizando, irá atrair capital estrangeiro para o país.

Contudo, ainda haverá turbulências no cenário externo, revela Rodolfo, que continuará refletindo aqui no cenário nacional e temos que aproveitar esse cenário de crise mundial também para exigir de nossos governantes que se organizem do ponto de vista internacional, que é uma das formas de suportar as crises externas e internas.

Criptomoedas

A criptomoeda é um lugar onde você pode guardar um valor que se espera que ele valha a mesma coisa de quando você comprou ou mais. Outro aspecto é fugir dos governos. A criptomoeda também dá a facilidade de se estar fora do sistema financeiro e não depende do banco estar sobrevivendo ou não.

Por outro lado, como os juros no mundo inteiro estão subindo e a liquidez está diminuindo, quanto mais alto os juros em dólar, menos à vontade o investidor fica em comprar criptomoedas, porque essas não pagam juro nenhum. Portanto, da mesma maneira que um contexto externo afeta a economia de um país, há um contexto global que está afetando o valor das criptomoedas.

  • Para assistir na íntegra o bate-papo com Rodolfo Barreto, acesse o link abaixo. Não se esqueça de se inscrever em nosso canal do YouTube, deixar seu like no vídeo e compartilhar com seus amigos. O Café com Fé também pode ser ouvido no aplicativo Seedtime. Baixe agora mesmo.