Em sua homilia deste último domingo, Pe. Rodrigo Hurtado LC nos leva a refletir sobre a parábola do Bom Samaritano e nos ensina como podemos conquistar uma bondade a toda prova, isto é, o que é viver na prática o mandamento do amor.

Esta parábola do Bom Samaritano é uma mensagem muito atual para o mundo de hoje, recorda o padre. Jesus nos contou essa parábola para mostrar o que significa viver o mandamento do amor na prática.

No mundo em que vivemos hoje encontramos, com muita frequência, pessoas que sofrem, que precisam de ajuda ou passam por diversas necessidades e não sabemos o que fazer, podemos nos sentir culpados ao ouvir esta parábola. Portanto, o que Jesus espera de nós.

Jesus espera que sejamos bons, pois a bondade é o amor colocado em prática.

A Bondade é o Amor em Ação

Bondade não é uma emoção, não é um sentimento. Nós podemos ter os melhores sentimentos por alguém, mas se não colocamos em prática esses sentimentos através de uma atitude verdadeiramente bondosa, os sentimentos não nos tornam uma pessoa bondosa. Bondade não é algo que nós sentimos por alguém, bondade é algo que nós fazemos por alguém.

“Evitai que ninguém retribua o mal com o mal, mas encorajai que todos sejam bondosos uns para com os outros.”

(1 Tessalonicenses 5, 15)

Bondade de coração, não de aparência

Quando Paulo fala de bondade, não está falando apenas de um verniz de aparência. As pessoas hoje colocam mais esforço em parecer boas, que em ser boas de verdade. Gastamos mais tempo diante do espelho verificando se nossa aparência está correta, do que o que gastamos diante de Deus, verificando se nossa atitude profunda do coração é a correta.

Para parecer uma pessoa legal, seja uma pessoa legal. Isso melhorará 100% sua aparência. Gaste mais tempo revisando suas atitudes e menos a sua aparência. As pessoas gostam de estar perto de pessoas legais. As pessoas evitam as pessoas que não são legais.

“Como povo escolhido de Deus, santo e amado, revesti-vos de um coração pleno de compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência.”

(Colossenses 3, 12)

Não preocupar-nos como se vestir para parecer isto ou aquilo, mas vestir o coração com as virtudes adequadas.

A parábola do Bom Samaritano fala de um homem profundamente bondoso porque fez algo concreto. O Samaritano não ficou apenas no sentimento, o Samaritano colocou o amor em ação. O Samaritano não foi alguém que apenas sentiu algo, mas alguém que fez algo. E Jesus coloca como exemplo do mandamento do amor.

Três possíveis atitudes frente ao sofrimento

Eu acredito que a mensagem que Jesus transmite na parábola com os três viajantes que passam pelo caminho do homem ferido, o sacerdote, o levita e o samaritano, representa três diversas atitudes que nós podemos ter frente ao sofrimento alheio. São atitudes que podemos adotar segundo as circunstâncias e todas num mesmo dia.

A atitude de quem guarda distância

São aqueles que evitam encontrar-se com o sofrimento, que preferem guardar distância. Para representar essa atitude Jesus coloca o exemplo do sacerdote e diz assim: 

“Descia um sacerdote pela mesma estrada. Assim que viu o homem, passou pelo outro lado.”

(Lucas 10, 31)

O sacerdote deixa o homem ferido, fora de seu caminho e de sua mente. O princípio desta atitude é: “Não esteja muito perto das pessoas para assim não ter que ajudá-las quando passam por sofrimentos.” Mantenha todos seus relacionamentos superficiais. 

A atitude do curioso, mas indiferente

Esta atitude é daquele que tem maior interesse, quer saber o que está acontecendo, mas não está disposto a ajudar, a sair de sua zona de conforto ou sacrificar algo para mudar a realidade de quem necessita, mesmo que seja pouco.

“Do mesmo modo agiu um levita; quando chegou ao lugar, observando aquele homem, passou de largo.”

(Lucas 10, 32)

A atitude desse levita não foi evitar, a atitude foi de falta de empatia e compaixão. Ele viu a necessidade, mas estava centrado demais nas suas próprias necessidades e preocupações. 

Tanto o sacerdote quanto o levita eram pessoas religiosas, mas isso não tornou eles bondosos e caritativos. Ser religioso não lhe torna automaticamente alguém bondoso e prestativo. Você pode ir toda a vida à Igreja e ser uma pessoa profundamente egoísta e centrada em si mesma.

A atitude de quem mostra compaixão

Essa é a terceira possível resposta: mostrar bondade e disponibilidade. 

“Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, assim que o viu, teve misericórdia dele.”

(Lucas 10, 33)

O samaritano era de quem menos esperávamos uma ajuda ou uma atitude bondosa e compassiva. Por que temos que ser bondosos com todos? Porque tudo o que fazemos com os outros, eles fazem também conosco.

“Não vos enganeis: Deus não se permite zombar. Portanto, tudo o que o ser humano semear, isso também colherá!”

(Gálatas 6, 7)

Como tornar-se uma pessoa bondosa

Agora, a pergunta que segue é: como se tornar uma pessoa bondosa e compassiva? A parábola de Jesus nos dá também algumas pistas muito valiosas para isso.

Veja as necessidades das pessoas ao seu redor

O primeiro que vemos no samaritano é que ele está atento às necessidades das pessoas que estão no seu caminho. A parábola diz: “assim que o viu, teve misericórdia dele.” (Lucas 10, 33)

Precisamos ter um olhar atento e compassivo. O amor começa sempre pelo olhar. Você não pode sair ao encontro das necessidades das pessoas se você não vê essas necessidades.

Pessoas feridas estão ao nosso redor o tempo todo. Só é questão de abrir os olhos e ver essas necessidades e essas feridas. Algumas dessas feridas são ocultas e profundas, mas sempre podem ser detectadas por quem tem um olhar atento.

O primeiro passo para se tornar uma pessoa bondosa e compassiva é diminuir o ritmo de sua vida.

Seja empático com a dor das outras pessoas

Para ver precisamos dos olhos, para ter empatia precisamos do coração. Empatia é uma palavra que vem de duas palavras gregas: “em” + “pathos”, ou seja, “sofrer com”. Sentir empatia, significa sentir no próprio coração a dor das outras pessoas.

Não se trata só de saber que as pessoas têm necessidades, se trata de sentir essas necessidades como próprias.

Um cristão maduro espiritualmente é alguém capaz de reproduzir em si mesmo os sentimentos, sofrimentos e necessidades das outras pessoas dentro de seu coração. É alguém que desenvolveu essa capacidade na sua personalidade.

“Alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram.”

(Romanos 12, 15)

Como desenvolver essa empatia? Muito simples. São só duas palavras: “Escute melhor”. A visão depende de nosso olho, a empatia depende de nosso ouvido. Eu vejo com meus olhos, mas empatizo com meus ouvidos.

Todos temos duas necessidades básicas: (1) Ser compreendidos e (2) Ser valorizados (amados). Ambas necessidades só podemos preenchê-las através de uma escuta profunda e ativa. 

Aproveite as oportunidades para ajudar

Já escutou aquela máxima que diz. “Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje”? Pois bem, o mesmo se aplica à caridade e à bondade. Não ame amanhã quem pode amar hoje. Não deixe para amanhã o bem que pode fazer hoje.

“Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Em seguida, colocou-o sobre seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele.”

(Lucas 10, 34)

Deus coloca pessoas que sofrem em nosso caminho intencionalmente… lembrem que Deus está nos treinando na habilidade mais importante da vida que é aprender a amar. Todo o resto pode esperar, todo o resto vem em segundo lugar. Amar, muitas vezes, não é algo planejado, por isso é tão importante estar disponível para amar. 

Esteja disposto a pagar o preço

A bondade e a compaixão sempre têm um custo. Às vezes, o sacrifício é o tempo, outras vezes, é financeiro, outras, podem ser suas energias ou atenção. A bondade pode até exigir um sacrifício na reputação.

“No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e lhe recomendou: ‘Cuida deste homem, e, se alguma despesa tiverdes a mais, eu reembolsarei a ti quando voltar’.”

(Lucas 10, 35)

Seja generoso e Deus será generoso também com você. Quem sabe dar, nunca lhe falta e quem fica sempre preocupado de não ter suficiente, de fato nunca tem o suficiente.

Vai, e faze tu o mesmo

Jesus conta toda a parábola para nos mostrar quem é nosso próximo e como temos que ajudar, como podemos e devemos ser sempre pessoas bondosas e compassivas. A conclusão é feita pelo próprio Jesus. “Vai, e faze tu o mesmo.” (Lucas 10, 37). 

  • Pe. Rodrigo Hurtado LC transmite a celebração da Santa Missa com Estudo Bíblico aos domingos através de seu canal do YouTube. Você pode assistir à homilia na íntegra no link abaixo.