Sete Escolhas do Amor
No episódio dessa quinta feira do Café com Fé, Adriano Dutra recebeu o Pe. Rodrigo Hurtado, LC, que falou sobre as sete palavras de Cristo na Cruz e como elas mostram escolhas fundamentais de Jesus em sua vida.
No Podcast do Instituto Católico de Liderança, Pe. Rodrigo Hurtado, LC, criador do aplicativo de meditações católicas Seedtime, dá uma prévia da série de meditações que estará disponível na plataforma, a partir de 28 de março, para que possamos viver a Semana Santa com uma maior proximidade do amor de Deus.
Por que o nome das meditações, «Sete Escolhas do Amor»?
Pe. Rodrigo ensina que esse tema das sete palavras de Cristo durante sua crucificação é uma tradição e uma piedade antiga entre os católicos. Ao se olhar os textos evangélicos, ainda que nenhum traga exatamente todas as frases que Cristo pronunciou ao ser levantando na cruz, ao se juntar todos os textos, pode-se contar 7 expressões que Jesus pronunciou do alto do madeiro.
A crucificação era um suplício terrível, aplicado pelos romanos não só para executar um prisioneiro, como também para assustar a população e os inimigos do Império. Flávio Josefo, escritor judeu, em sua obra Guerras Judaicas, narra que os inimigos de Roma, ao se depararem com a crucificação, ficavam tão assustados que, tremendo, soltavam as armas e se rendiam a Roma. O Filho de Deus enfrentou essa tortura.
Repare-se também que os Evangelhos quase não narram em detalhes a flagelação, pois os próprios evangelistas não conseguiam falar desse tipo de tortura terrível que, geralmente, acompanhava a crucificação, mas eles narram essas sete expressões ou «palavras» de Cristo.
Essa perspectiva de contemplar essas sete palavras compreendendo as escolhas fundamentais de Jesus que as embasavam é nova. «Nós fazemos escolhas todos os dias, mas, em nem todas as escolhas, nós pensamos. São escolhas que estão na base de outras escolhas», esclarece Pe. Rodrigo.
Temos escolhas ou opções que chamamos de fundamentais e elas conduzem as demais escolhas que fazemos em nossa vida.
Essas escolhas fundamentais se dão em nossa vida por duas formas. A primeira forma é porque fomos educados de um jeito e consideramos algo mais importante e colocamos isso por hábito, que vai se repetindo na base das demais escolhas. Outra forma ocorre quando há um trauma. «Alguém que está profundamente decepcionado, porque foi traído por um sócio pelo cônjuge e, ao ficar tão magoado, nunca mais confia em ninguém», exemplifica o padre.
Esse conjunto de escolhas fundamentais é o que chamamos de filosofia de vida. E qual é a filosofia de vida de Jesus? Quais são as escolhas fundamentais na vida dele?
Em nossa vida, descobrimos essas escolhas fundamentais justamente quando estamos sob pressão. Quando as pessoas sofrem pressão e aí eles mostram suas verdadeiras motivações e suas verdadeiras opções de vida.
Na paixão, Jesus está experimentando não só a dor física, mas também a dor emocional e a dor espiritual. Está sofrendo o abandono em todos os níveis e está sofrendo porque carrega sobre si nossos pecados. «Jesus se sente sozinho e abandonado sobre a Terra», relembra Pe. Rodrigo, que menciona a frase que Dante Alighieri, em sua obra Divina Comédia, coloca como aviso à entrada do Inferno: «Voz, que aqui entrais, deixai toda a esperança». É essa a experiência que Cristo está tendo nesse momento de sua Paixão e é quando ele fala essas 7 palavras que nos revelam suas verdadeiras e mais profundas escolhas.
Primeira palavra: Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem.
Pe. Rodrigo considera essa palavra como a «escolha do perdão». Jesus está pedindo ao Pai que dê aos fariseus a graça de se converterem para que Ele mesmo possa perdoá-los. No fundo existe um perdão de Jesus, mas não está efetivado, pois existe a necessidade da conversão dos fariseus. O perdão cristão é isso.
«Quando somos ofendidos temos duas escolhas: a primeira é o perdão e a segunda é guardar o rancor e o ressentimento», esclarece Hurtado. «O perdão é sempre uma escolha possível e isso não significa que se vá seguir fazendo negócio com alguém que te traiu, inclusive porque é necessária a conversão, mas, há pessoas que guardam ressentimento por anos. A escolha de perdoar é a escolha de se libertar de alguém que o magoou ou fez algo contra você».
Depois de fazer a escolha de perdoar, o segundo passo é despersonalizar a ofensa. «Na verdade, as pessoas que nos magoam, não é contra nós que o fazem, mas contra aquilo que nós representamos. Uma ameaça ao matrimônio, ou ao emprego…», ensina o padre. «Temos que compreender e despersonalizar e é isso o que acontece com Jesus ao pedir o perdão para os fariseus. Eles não estavam contra Jesus, mas Ele sabia que estava mexendo no status quo do sinédrio. «A ofensa nunca é pessoal, mas é contra algo que estou ameaçando da vida do outro, mesmo sem querer».
(Veja também: O Perdão: aprendendo com o Senhor)
Segunda palavra: Eu te asseguro, hoje estarás comigo no paraíso.
«Eu te asseguro, hoje estarás comigo no paraíso». Jesus falou isso ao bom ladrão e essa é a «escolha da fé».
O que fez o bom ladrão para escutar de Jesus essas palavras? Por que chamamos ele de bom ladrão? Por que ele é um ladrão «boa gente»? Não é isso! Não há como ser bom e ladrão ao mesmo tempo. Então, o que significa «bom ladrão»? Ele é bom ladrão porque ele roubou o céu no último minuto de sua vida. Ele fez tudo errado durante sua existência, mas no último minuto de sua vida ele roubou o céu.
Como ele fez isso? Ele entendeu 3 coisas muito importantes. A primeira é que a morte não é um ponto final na vida. A segunda coisa é que ele tinha pecado e tinha ofendido a Deus e merecia aquele castigo. E, por fim, a terceira coisa que ele entendeu, é que Jesus não era qualquer um. Jesus tinha o poder de o perdoar e libertá-lo da morte eterna e, por isso, com humildade, não pediu para ser salvo, mas somente para que Jesus se lembrasse dele.
Terceira palavra: Mulher, eis teu filho. Filho, eis tua mãe.
Quando nós sofremos, estamos muito focados e centrados em nós mesmos. Encerramo-nos em nós mesmos. Jesus está sofrendo muito, mas está preocupado com sua mãe e com seu discípulo. Está preocupado, em primeiro lugar, com sua família, e não está preocupado só com o cuidado físico de sua mãe, mas com o cuidado emocional. Ele está preocupado também com João, que é um discípulo dele e, em João, está preocupado com todos os apóstolos e com a Igreja nascente. O amor pelos discípulos, por sua obra, que é a Igreja, é equivalente ao amor pela a família.
Quarta palavra: Tenho sede.
Esta é a primeira vez, desde que começou a Paixão, que Jesus fala de uma necessidade própria. Marcos diz que Jesus foi crucificado na hora terça e faleceu na hora nona. Isto é, foi crucificado às 9h da manhã e morreu às 15h. Às vezes, os crucificados ficavam até dias na cruz. Mas, sabemos que Jesus teve dois julgamentos pela manhã e um julgamento na noite anterior. O julgamento oficial do Sinédrio só começou com o nascer do sol. Depois levaram-no a Pilatos, que o mandou flagelar. «É lógico que teve sede», reflete Pe. Rodrigo.
Jesus tinha perdido muito sangue e estava completamente desidratado. Mas, essa palavra, é um trecho de um salmo 69 ( v. 21). Jesus está, em certo sentido, rezando. Jesus não fala «tenho sede» simplesmente porque tinha sede, mas porque ele é o Messias e está cumprindo as profecias.
As horas terça e nona são as horas em que os judeus se reuniam no templo para orar e eram mencionados Salmos como esse. Jesus soma sua oração à oração dos judeus. Jesus está anunciando o cumprimento das promessas e das profecias.
Contudo, essa palavra tem um significado ainda mais profundo, ela se refere à sede de Cristo pelas almas. «O interessante é que nós também temos sede de felicidade, de realização, e muitas vezes não encontramos. Nós temos sede de Deus e, por sua vez, Jesus tem sede de nós.
Quinta palavra: Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?
Todos os textos evangélicos e até os apócrifos trazem o texto em seu idioma original. Jesus estava pronunciando as palavras do Salmo 21, relembra Pe. Rodrigo.
Ele realmente estava experimentando solidão, mas estava rezando um Salmo. Não deixa de confiar em Deus e mostra aos judeus como Ele está cumprindo todas as profecias. Jesus estava carregando sobre si todos os pecados da humanidade toda, de quem já existiu e de quem ainda virá a existir e era isso que o fazia sentir-se abandonado por Deus.
«Jesus não necessitava morrer na cruz, mas era muito conveniente, porque desse jeito, podemos entender um pouco mais o amor de Deus», reflete o padre. «Se Deus só nos perdoasse, não entenderíamos a dimensão de Seu amor. O amor de Deus sofreu muito. Sua dor é infinita! Como é grande e como é profundo o amor de Deus e, portanto, como é odioso e terrível o pecado.
«Nós achamos que o pecado é divertido. Filmes usam o pecado para entreter, para divertir as pessoas. Nós nos divertimos com o pecado, porque não vemos as consequências do pecado. Só vemos o bem imediato, mas não vemos as consequências e o pecado sempre tem consequências».
Sexta palavra: Tudo está consumado.
Pe. Rodrigo reflete o quanto temos pendências em nossa vida. «Eu nunca fui dormir com menos de 20 pendências, sempre tenho tarefas, sempre tenho coisas para fazer e, talvez, no dia em que eu morrer não terei terminado todas as tarefas».
A única pessoa que realmente cumpriu tudo o que tinha que fazer em sua vida foi Jesus. Ele conseguiu falar, ao fim de sua vida, que tudo está consumado. Porque ele é extremamente focado. Ele tinha a visão do essencial. «Nós precisamos aprender a focar e cumprir nossa missão fundamental», ensina Pe. Rodrigo.
Qual era a missão de Cristo? Em primeiro lugar, Jesus compre todas as profecias e as promessas do Antigo Testamento. Depois, Jesus tinha a missão de reparar a grande injustiça do pecado. E, por fim, Ele veio derrotar o poder do demônio. Ao cumprir isso, pôde dizer que tudo está consumado.
Sétima palavra: Pai, em tuas mãos eu encomendo meu espírito.
A palavra de Deus nos diz que Jesus deu um forte grito. «Quem morre gritando?», pergunta Pe. Rodrigo. As pessoas morrem murmurando e, ainda mais, quem está morrendo na cruz, morre por hemorragia e por asfixia. Jesus reuniu muitas forças e se levantou, apoiado nos pregos em seus pés e respirou forte. A ponto do centurião que ali estava, assustar-se e reconhecer que Ele era Filho de Deus.
O que significa essa palavra? Jesus está se sentindo abandonado. Ele sabe que tem um Pai no céu, mas não o sente. «Aqui lembramos que a fé não tem nenhuma relação com sentimento. Fé é saber que tenho um Pai no céu, mesmo que todas as circunstâncias da minha vida digam o contrário. Mas, sei que não estou sozinho», reforça Pe. Rodrigo.
A última palavra de Jesus é a escolha da confiança. Ele confia sua alma nas mãos de Deus. Não porque o sinta, mas porque confia. Abandona-se num abismo escuro, mas confia e se lança nas mãos do Pai Todo Poderoso, o lugar mais seguro do Universo. Jesus encomenda a Deus as coisas que não se veem. «O mais precioso em nossa vida são as coisas que não se veem, os méritos, o amor… a alma é o depósito das coisas que não se veem».
Por fim, Pe. Rodrigo indica que essa é uma frase que nós temos que repetir também quando temos problemas em nossa vida: Pai, em tuas mãos encomendo meu espírito.
As meditações, de 9 a 10 minutos cada uma, estarão disponíveis estarão disponíveis no aplicativo Seedtime, que pode ser baixado na AppleStore e no GooglePlay.
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Redação do Instituto Católico de Liderança