Pe. Rodrigo Hurtado, LC, nesse Domingo de Ramos, reflete sobre a maior lição sobre a oração que Jesus nos deixou em toda sua vida. Em sua homilia sobre o trecho do Evangelho de Marcos trazido pela liturgia desse Domingo, 28 de março, Pe. Rodrigo medita sobre uma das «sete palavras» de Cristo na Cruz.

O Evangelho de Marcos é o mais breve relato sobre a Paixão de Jesus e, em seu texto, traz somente uma das sete frases que Jesus falou nas horas que antecederam sua morte na cruz.

«Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonaste?» é a única palavra de Jesus que Marcos comenta. Deve ter sido o que mais lhes impressionou. Ver Jesus sozinho, abandonado, humilhado desse jeito. Vale lembrar que a crucificação era uma prática aprimorada pelos romanos para gerar medo e era precedida pela flagelação. Era uma arma de guerra psicológica dos romanos, que a praticavam com muito refinamento.

Jesus passa por tudo isso, está abandonado e pronuncia essa palavra. «O que está acontecendo, como é possível que Deus tenha abandonado seu Filho?», questiona Pe. Rodrigo. 

Essa palavra é obviamente uma oração. Jesus estava, de fato, falando para seu Pai. É uma das poucas vezes que Jesus se dirige a Deus como «Deus», não o chamado de Pai, em toda Escritura. Na verdade, nesses último minuto de agonia da morte na cruz, «essa foi a oração mais intensa, mais profunda, mais poderosa que Jesus fez em toda sua vida».

Muitas vezes, fazemos orações que parecem não ser ouvidas por Deus. Parece que Deus está insensível, o Céu parece fechado. Jesus está precisamente nesse momento e se sente abandonado, sozinho. Mas, «nessa oração de Jesus ele nos dá uma imensa lição de como nós devemos orar», ensina Pe. Rodrigo.

A pergunta que podemos fazer, portanto, é: Como é a oração que Deus responde? Pois, Deus respondeu essa oração de Jesus. E, então, Jesus nos ensina quatro passos para uma oração que Deus escuta.

1. Escutar a Deus antes de falar.

A primeira coisa é escutar a Deus antes de falar. «Normalmente, quando vamos rezar, começamos a falar e colocamos para Deus tudo o que está em nosso coração, mas esquecemos de escutar», relembra Pe. Rodrigo. Esquecemo-nos que Deus sempre dá o primeiro passo e quando vamos rezar, Ele já está colocando essa intenção em nosso coração há muito tempo.

Jesus, nesse momento de cruz também nos ensina a escutar a Deus antes de falar. Ele não está se queixando de Deus, pois essa frase é o primeiro versículo do Salmo 22. Marcos lembra que Jesus foi crucificado às 9h da manhã, a hora terça, e quando Ele diz essa frase é a hora nona (15h). Essas são as horas em que os judeus se reuniam no templo para orar esses mesmos salmos. E, da cruz, Jesus reza o Salmo 22, que também é uma profecia sobre sua própria crucificação.

Pe. Rodrigo reflete que «efetivamente, Jesus não está desesperado, mas está orando e está dando testemunho de que tudo aquilo que está acontecendo já estava escrito nos Salmos».

De fato, Ele se sentia sozinho, pois carregava todos os nossos pecados sobre si, e o pecado nos afasta de Deus. «Ele sentia que o céu estava fechado para Ele, mas ele não acreditava nisso, ainda que sentisse».

«Muitas pessoas acham que a fé é sentir a Deus. Mas a fé não depende dos sentimentos», explica o sacerdote em sua homilia. O capitulo 11 da Carta aos Hebreus diz que a «fé é a certeza das coisas que não se veem».

Jesus, ao se sentir abandonado, longe de Deus, se lembra do Salmo 22 e compreende esse versículo. Ele sempre leu as Escrituras e as sabia de cor. «Essa é a primeira lição de uma oração que é sempre ouvida por Deus»

«Precisamos conhecer as escrituras porque, nelas, Deus nos empresta as palavras que Ele quer escutar», diz Pe. Rodrigo. «A oração que Deus escuta é aquela em que eu primeiro escuto e depois falo».

2. Focar nas promessas de Deus

O segundo passo para que nossa oração seja ouvida por Deus é focar em Suas promessas, não nos problemas.

Diz o evangelho que Jesus «levantando os olhos ao céu, gritou». Jesus faz um esforço muito grande nesse momento para levantar os olhos fisicamente ao céu. «Muitas vezes, estamos em meio ao momento mais dramático de nossa vida. Não fique olhando os problemas, o sofrimento, a solidão, levante seu olhar para Deus, olhe para Ele», reforça o Pe. Rodrigo. 

O padre relembra que esse mesmo Salmo 22 praticamente descreve a paixão de Jesus até o versículo 18, mas no versículo seguinte, o texto dá um giro e começa a trazer palavras de confiança em Deus. «Ao final, esse Salmo é um Salmo de triunfo, um salmo de glória, que coloca toda fé e toda confiança em Deus, que é poderoso, que efetivamente escuta nossa oração». 

3. Fazer a oração desde o profundo do coração

O terceiro passo é fazer a oração do profundo de nosso coração. «Deus gosta que façamos a oração com os sentimentos corretos», ensina. «Com aquela dor ou aquela queixa natural que está em seu coração». 

Não podemos rezar com sentimentos errados. «Falar palavras certas, mas com sentimentos errados, não funciona», reflete Pe. Rodrigo. Jesus, no Evangelho de João, no capítulo 16, diz: «Não me pedireis mais nada», ou seja, nem precisamos falar. «A dor do coração já é uma oração dirigida a Deus». Porque Deus é um Deus com emoções, ainda que não possamos comparar com nossas emoções. «Ele não é um Deus que não sente nada e entende quando nossa oração é feita a partir do coração».

4. Acompanhar a oração com nossas obras.

O último passo para que a oração seja escutada por Deus é que temos que acompanhar nossas orações com obras. 

Jesus está morrendo na cruz por obedecer o Pai. Ele aceita, e está agora morrendo nessa cruz por nós. A Carta de Tiago ensina que a fé, se não for acompanhada por obras, está morta (Tiago 2, 14). 

«Não basta ter fé, confiar em Deus se a minha vida não é coerente, se não estou disposto a me sacrificar por aquilo que estou pedindo», reforça Pe. Rodrigo. «Temos que acompanhar nossa oração com obras concretas, sobretudo, a coerência de vida, seguir os mandamentos de Jesus».

Para concluir sua homilia, Pe. Rodrigo recorda o trecho da Carta aos Hebreus (5, 7) que reforça que Jesus foi ouvido em sua oração. Deus não tirou Jesus da cruz, mas aquela oração foi escutada e, três dias depois, Deus ressuscitou Jesus e o fez Rei do Universo. «Os planos de Deus são mais sábios que os nossos», reflete o padre. «Deus realmente escutou a oração de Jesus e tinha um plano mais profundo»

No Getsemani, tão logo Jesus compreendeu que aquela era a vontade do Pai, Ele mesmo confrontou os soldados que o buscavam. «Enquanto vê a vontade de Deus, Ele confia, se entrega totalmente nas Maos de Deus».

Pe. Rodrigo termina dizendo «que nossa oração também seja assim, que a Palavra de Deus habite sempre dentro de nós, que foquemos nas promessas de Deus, que saibamos acompanhar nossas orações com nossas obras e fazer nossa oração sempre desde o coração». 

O Padre Rodrigo Hurtado, LC, preparou uma série de meditações sobre as 7 palavras de Cristo na cruz, chamada «As sete escolhas do amor» que está disponível no aplicativo Seedtime

* Pe Rodrigo Hurtado, LC celebra a Missa todo domingo em seu canal de YouTube. Inscreva-se, ative as notificações, deixe seu like e compartilhe. 

Redação do Instituto Católico de Liderança