Sexta-feira Santa: tudo está consumado
A Sexta-Feira Santa traz em si todo o peso do maior mistério do amor de Deus por nós. Mistério insondável em sua totalidade, por mais que muitos santos e teólogos já tenham tentado se debruçar sobre esse dia especial.
Portanto, já que não há palavras suficientes para narrar o tamanho desse amor de Deus, a talvez a contemplação silenciosa de cada acontecimento que se desenrola naquela sexta-feira que mudaria a história do mundo, nos ajude a perceber o quanto o amor de Deus é intenso e forte por cada um de nós.
A Traição de Judas
O padecimento de Jesus já tem início durante a Última Ceia, quando Judas consuma sua traição e, logo após, Jesus se retira para o Monte das Oliveiras para rezar. É nessa madrugada que Ele sente todo o peso de seu sacrifício e já começa a derramar seu sangue por nós, em gotas de suor. Mesmo assim, ele mantém o foco no cumprimento de sua missão.
Judas retorna com os soldados e trai a Deus feito homem com um beijo. Imaginemos o coração de Jesus ao ver seu discípulo cometer tamanho pecado. Jesus não se entristeceu certamente pela sua prisão, mas por Judas ter pecado tão gravemente.
O Julgamento
O Justo Juiz de todo o universo, agora era levado manietado para ser julgado por homens pecadores. A sentença já estava pronta, antes mesmo de o interrogarem e, quando interrogado, Ele não busca se defender, mas permanece na Verdade.
Assim acontece junto ao Sumo Sacerdote, assim Ele se manifesta a Pilatos, aquele funcionário do Império Romano que hoje é mais conhecido do que muitos dos grandes césares de Roma.
Vem a primeira sentença: flagelação.
Jesus sofre as piores torturas que o Império Romano havia criado. Diversos açoites, cada um feito para causar um tipo de dor diferente. É coroado rei, mas com uma coroa de espinhos. E depois de humilhado e totalmente debilitado pela tortura, é apresentado ao povo ensandecido que grita sua crucificação.
A Via Crucis
Pilatos solta Barrabás, cujo nome parece ter sido escolhido para fazer uma afronta direta a Nosso Senhor. Bar-Abba… Filho do Pai. E o verdadeiro Filho do Pai Celestial era condenado à morte e, com seu corpo todo castigado, ainda encontra forças para carregar sua própria cruz.
Jesus havia sido criado como carpinteiro, suas santas mãos estavam acostumadas com a madeira desde pequeno, na carpintaria de José. Que lembranças passaram no coração de Jesus ao colocar, agora, suas mãos feridas naquele objeto de madeira?
Ele devia saber que tipo de madeira era aquela, conhecer seu peso, sua força. Talvez, até já tivesse feito coisas belas com uma madeira como aquela. Mas, naquele momento, a madeira o ergueria do chão para cumprir a mais dolorosa missão.
A Crucificação e Morte
Chegando ao Calvário, Jesus é pregado na cruz entre dois criminosos. Lá, ele suporta horas de sofrimento excruciante, enquanto é insultado pelos que passam. Mas é na cruz que Jesus revela para nós aquilo que está em seu coração.
É na cruz que Ele dá o céu ao bom ladrão, é na cruz que Ele perdoa seus algozes e a nós todos. É ali, naquele madeiro, que ele nos dá sua Mãe para ser nossa mãe. É na cruz que Ele cumpre sua missão e entrega o fruto de seu trabalho nas mãos do Pai.
Tudo está consumado. Nossa salvação está garantida. Nossa liberdade fora comprada a preço de sangue divino. Já não mais somos escravos, porque Ele se fez escravo por nós.
Esse gesto poderoso de Jesus era ansiado também pela própria criação. A natureza se estremece, o céu escurece e toda criação compreende aquilo que Jesus fez pela sua obra prima, pelo homem.
O Sepultamento de Jesus
O corpo de Jesus é retirado da cruz e colocado em um túmulo emprestado por José de Arimateia. O sepultamento é feito às pressas, devido à iminência do sábado judaico. A partir dali, Jesus cumpre uma outra missão, com aqueles que haviam vivido e morrido desde a criação do homem até aquele momento.
A Sexta-feira Santa é um lembrete doloroso, mas também profundo, do amor incomensurável de Deus por nós. Neste dia, somos chamados a contemplar o sacrifício de Jesus e a nos unir a ele em sua Paixão.
Enquanto meditamos sobre os eventos da Sexta-feira Santa, somos convidados a renovar nosso compromisso com Cristo, a abraçar sua cruz e a segui-lo.