Muito estimado em Cristo, 

Estou lembrando agora de um texto que li, faz muito tempo que se chamava “Diário del Padre Eterno” (de Joaquín A. Peñalosa) sobre a vida de Adão.

Nele o autor fazia uma reflexão sobre o que deve ter significado para Adão a primeira noite de sua vida. 

Na descrição, se imagina a reação de Adão  depois do seu primeiro  dia, quando começou a escurecer.

Acostumado como estava à luz deslumbrante da criação recém saída das mãos de Deus, de repente o sol do primeiro dia se pôs e as sombras da noite se apoderaram do mundo.

Quantas perguntas vieram à mente de Adão? Talvez ele questionou a Deus se esse era o fim do mundo. Talvez diria coisas como: “É terrível esta escuridão! De todo o paraíso só restou um vale frio de sombras.

Hoje sei que toda a beleza do dia era vã”. E gritaria a Deus: “Para isto que me criaste? Me deixaste perdido num túnel infinito, cego e enclausurado. Pai, o que fizeste com o sol?”

Efetivamente, essa noite, que todos aceitamos como parte do ciclo do tempo, que sabemos que passará e que o sol regressará, o que deve ter significado para alguém que se adentrou nela sem a conhecer?

Essa é uma ótima imagem dos momentos de provação que passamos na vida quando não somos capazes de enxergar a realidade desde a perspectiva mais ampla de Deus.

Quando não percebemos que o dia e a noite foram criados para coisas diferentes, mas são parte de uma mesma realidade.

Visto assim, até chegamos a pensar que a vida não seria boa, se sempre brilhasse a luz ofuscante do sol, percebendo que a escuridão da noite também esconde o seu encanto e que essa alternância ao final nos fazem mais fortes e mais equilibrados. 

Escrevo isto pensando nas crises de saúde e econômica que agora passamos. Se a lei do tempo é a sucessão do dia e da noite, também essa é lei do espírito: a sucessão de  momentos de alegria e de provação.

“Deus faz chover sobre o justo e o injusto” (Mateus 5, 45), dizia Jesus, como algo completamente normal. 

Não, os momentos de escuridão não são um castigo, nem um sinal do abandono de Deus. É simplesmente a alternância das horas de gozo e de dor, de esperança e de amargura.

E essa alternância nunca termina, porque são as duas faces da vida e  uma não pode existir sem a outra. 

Existe uma imagem que pode nos ajudar a compreender essa realidade. É a imagem da “Roda da Fortuna”, trazida do mundo grego para a tradição cristã por Boécio. Nela se pode ver uma roda sobre a qual estão quatro pessoas.

A que está em cima, está sentada em um trono e diz Regno, ou seja, “eu estou reinando”.

A que está embaixo, não tem trono nem coroa, está sendo esmagado pela roda e diz sine regno, ou seja “sem reino”. 

Aos lados da roda -que gira em sentido horário- estão também dois homens; um a direita, cuja coroa está caindo, e diz regnavit, ou seja “eu reinava” e outro a esquerda, esticando sua mão para tentar alcançar o trono  diz regnabo, ou seja, “reinarei”. 

Esse é o símbolo da vida humana. Todos nós passamos por todos esses momentos. Às vezes, estamos em cima, às vezes estamos embaixo.

Às vezes perdendo, às vezes ganhando. Nenhum desses momentos é definitivo.

Todos eles são passageiros e todos têm uma certa dose de estresse. Nunca estamos livres da ansiedade e da preocupação enquanto dura a vida. 

Só tem um jeito de fugir dessa roda e escapar dessa incerteza e da ansiedade: indo para o centro. Efetivamente, no centro está a imagem de Jesus, que reina sempre e em qualquer circunstância.

Quando nós conseguimos colocar o centro de nossa vida em Cristo, escapamos dessa preocupação constante pelas coisas deste mundo, pelos ciclos inevitáveis do destino. “Cristo, o mesmo ontem, hoje e para sempre”. (Hebreus 13, 8)

Quando isso acontece, podemos compreender aquela expressão que São Paulo escrevia aos Coríntios: “Aqueles que têm esposa, vivam como se não tivessem; aqueles que choram, como se não chorassem; os que estão felizes, como se não estivessem; os que compram algo, como se nada possuíssem; os que usam as coisas do mundo, como se não as usassem; porque a forma deste mundo passa.” (1 Coríntios 7, 29)

Quando nosso coração efetivamente está em Cristo, estar em cima ou estar embaixo não tem maior importância.

Nem se alegra quando ganha, nem se desanima quando perde. Nem se ensoberbece por possuir, nem se entristece por carecer. “Cristo é tudo, e em todos.” (Colossenses 3, 11)

Este é o convite que gostaria de fazer-lhe no meio desta pandemia. Coloque todas as suas preocupações e ansiedades no coração de Jesus. Faça dele o centro de sua vida.

Se nós conseguirmos isto, pode ter sido este 2020 um ano ruim para a economia ou para a saúde, mas terá sido um ano ótimo para Deus. 

Essa indiferença de que estou falando, não implica abandono ou desistir de nossas lutas. Significa simplesmente assumir que a felicidade e a dor  seguem do mesmo jeito que  seguem o dia e a noite e em ambos temos que saber avançar.

Por isso, exortava São Paulo aos Romanos:

“A noite está quase acabando; o dia logo vem. Deixemos de lado as obras das trevas e vistamo-nos da armadura da luz.” (Romanos 13, 12)

Tudo passa e o dia chegará. Essa é a esperança que preenche o coração de um verdadeiro cristão. E quando temos essa certeza duas virtudes desabrocham no coração: a paciência e a generosidade. 

A paciência porque começamos a enxergar o prêmio que Deus nos reserva no futuro. Compreendemos que também as horas de escuridão tem um propósito na nossa vida. 

A pessoa paciente é bem sucedida, melhor pai, melhor esposo, melhor profissional É sempre mais feliz. A vida se trata de relacionamentos e a paciência fará todos teus relacionamentos melhores e mais profundos.

Entretanto essa confiança em Deus fará também surgir no coração a generosidade. A confiança na recompensa de Deus nos liberta do egoísmo, da ambição desmedida e da avareza. Quem é generoso é mais desprendido e quem é desprendido é mais feliz e vive com maior leveza. 

As pessoas generosas são mais felizes, mas não são generosas porque são felizes. Ao contrário, elas são felizes porque são generosas. Quem enxerga a  longo prazo a benção de Deus sabe que a generosidade é sempre recompensada.

A paciência nos permite descobrir a mão de Deus em qualquer circunstância, inclusive nas adversidades, e a generosidade nos impulsiona a sermos sempre homens e mulheres para os outros, sem deixar que o medo nos feche o coração. 

É verdade que há necessidades urgentes de pessoas que passam fome e estão sem o indispensável. Por isso, nós organizamos a campanha das marmitas solidárias e das cestas básicas.

Com a generosidade de muitas pessoas e o trabalho desinteressado dos seminaristas, estamos repartindo mais de 7000 marmitas e 900 cestas básicas em diversas regiões de São Paulo. 

Todavia, ao mesmo tempo, a formação destes futuros sacerdotes não pode parar. Nós não enviamos os seminaristas para suas casas e as aulas, dentro das dificuldades próprias deste período, tem seguido seu curso normal. 

Por isso, quero pedir a sua colaboração. Alguém, como você, que tem o coração perto do coração de Cristo, não deixa de escutar o seu chamado para formar muitos e santos sacerdotes.

O mundo precisa deles e eles precisam de você. 

Contamos com sua ajuda. Seja generoso e acredite que Deus nunca lhe deixará sem sua recompensa. Se puder ou quiser fazer uma contribuição adicional clique aqui.

Agradeço de coração sua ajuda e pode estar seguro, que todo esse esforço se verá recompensado certamente por nossas orações por você e sua família diante do Santíssimo Sacramento, exposto todos os dias no noviciado da Legião de Cristo e no seminário Mater Ecclesiae.

Obrigado mais uma vez, pela sua contribuição e conte sempre com minhas orações e as dos seminaristas. Que Deus lhe abençoe e acompanhe.