Em sua homilia desse 19º Domingo do Tempo Comum, Pe. Rodrigo Hurtado LC, faz uma reflexão, a partir do capítulo 6 do Evangelho de João que traz o famoso discurso de Jesus do Pão da Vida, sobre a Presença de Cristo na Eucaristia.

Nos domingos anteriores a liturgia faz um parêntesis na sequência dos textos evangélicos, justamente para meditar sobre o mistério da Eucaristia. Agora nós entramos em cheio no famoso discurso de João 6 sobre o Pão da Vida. «Tem muitas passagens na bíblia que falam da eucaristia mas, nenhum tão importante quanto essa de João 6», esclarece o Pe. Rodrigo.

O padre segue ensinando que a doutrina da presença real de Cristo na Eucaristia é uma constante em toda história da Igreja, contudo, tristemente, há uma pesquisa nos EUA que mostra que 70% dos católicos não acreditam na presença real de Cristo na Eucaristia. «Muitas pessoas pensam que a Eucaristia é um símbolo, mas a Eucaristia é Deus mesmo feito um pedaço de pão». 

Pe. Rodrigo, nessa homilia, quer nos mostrar, em primeiro lugar, o que Jesus queria dizer ao pronunciar aquelas palavras descritas nesse trecho do Evangelho de João, e em segundo lugar, irá mostrar que a doutrina da presença real de Cristo na Eucaristia existe desde sempre na vida da Igreja.

O que Jesus nos ensina sobre a Eucaristia

No Evangelho de João, Jesus afirma que Ele é o Pão da Vida e diz coisas fortes. Essa discussão que temos hoje, de que a Eucaristia seria só um símbolo, também aconteceu no momento em que Jesus revelara ser Ele o Pão da Vida, como podemos ver no versículo 56 desse capítulo do texto de João. Os judeus entenderam muito bem o que Jesus estava falando e começaram a discutir entre eles.

«Aliás, a tradição judaica proibia comer a carne junto com o sangue… curioso esse detalhe», continua explicando o Pe. Rodrigo. E Jesus fala justamente para comer de sua carne e beber de seu sangue. «Ou seja, não apenas era algo inconveniente, mas era algo ideologicamente errado». Jesus parecia estar falando uma heresia à mente dos judeus daquela época.

Jesus, muitas vezes, falava em parábolas e usava muitas imagens, símbolos. E será que Ele, ao falar do Pão da Vida, também não estava falando usando uma imagem, um símbolo? Se fosse isso, esse era justamente o momento para esclarecer, mas vemos uma resposta direta de Jesus, trazida no versículo 53 do texto.

Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.”

João 6, 53

Jesus não somente não explica que aquilo que Ele falava era só um símbolo, como também enfatiza aquilo que estava dizendo. E, o interessante do texto original em grego é que, na primeira vez que João descreve a fala de Jesus, ele utiliza o verbo grego que significa realmente “comer” e, depois que se inicia a discussão, João muda a palavra e utiliza uma palavra grega que significa “devorar”.

Após Jesus dizer estas palavras, aqueles que o seguiam por conveniência deixaram de seguí-lo. Como narra o versículo 66 do texto de João, que mostra claramente que “muitos de seus discípulos voltaram para trás e já não andaram mais com Ele”.

Neste dia, muitos judeus abandonaram Jesus. «Mas, Jesus faz isso por dois motivos. Primeiro, porque Ele vai instituir de fato um Sacramento e, acho, Ele está intuindo que isso vai gerar muita polêmica em toda a história da Igreja… e, em segundo lugar, porque Ele não quer pessoas que o sigam somente por interesses», medita o Pe. Rodrigo.

Portanto, em João 6, Jesus não apenas afirmou, mas insistiu que nos daria de comer o seu corpo e o seu sangue e, depois, cumprirá na última ceia, quando institui o Saramento da Eucaristia.

Dessa forma entenderam os Padres da Igreja já no início do cristianismo. O primeiro a tocar no tema foi Inácio de Antioquia, que nasceu apenas 5 anos depois da morte de Jesus e foi discípulo de S. João, o Evangelista. Naquela época S. Inácio já dizia que as pessoas não queriam aceitar o cristianismo porque não estavam de acordo que Cristo estivesse realmente presente na Eucaristia.

Ainda naqueles primeiros anos do cristianismo, Justino, no século II, em plena perseguição de Roma sobre a Igreja, manda uma carta para o Imperador que, por sua vez, queria saber se os cristãos realmente comiam a carne de um homem. Ele diz que o pão e o vinho não são recebidos pelos cristãos como um simples alimento, mas, «através das palavras de uma oração procedente de Jesus, se tornam a carne e o sangue daquele Jesus que Se encarnou por nós».

Transubstanciação

No Século XIII aparece o grande teólogo S. Tomás de Aquino, que também era um homem muito devoto da Eucaristia. Tomás estrutura realmente o mistério da Eucaristia e faz isso usando um neologismo: a Transubstanciação.

Pe. Rodrigo explica que, talvez, uma maneira de entender essa palavra seja por um termo próximo a ela, que é a transformação. Transformação significa uma mudança da forma, do acidente, da aparência. Já a transubstanciação significa mudar o que a coisa é, sua essência, sem que mude a aparência.

«A Eucaristia tem a aparência de pão, sabor de pão, cor de pão, mas não é pão. É o Corpo de Cristo, o Sangue de Cristo», ilustra o Pe. Rodrigo.

Com essa definição de Santo Tomás, permaneceu a doutrina da Igreja, até que chega Lutero, que ainda que não questione totalmente a Eucaristia, diz que há somente uma presença especial de Cristo na Eucaristia. Mas, o grande problema de Lutero é a imprecisão teológica que faz um de seus discípulos tirando de vez a crença na presença real de Cristo na Eucaristia entre os protestantes. Então, a Igreja, no Concílio de Trento confirma a doutrina de Santo Tomás de Aquino, agora de um jeito definitivo. Torna a doutrina de Santo Tomás de Aquino como a doutrina oficial da Igreja.

«Aí então, pulamos para o século XX, agora com o Concílio Vaticano II. Quando chega o Concílio, a Igreja, Papa, os bispos, querem falar da Eucaristia de um jeito de novo, mas os novos conceitos não deram muito certo, até que no final do Concílio, o Papa Paulo IV emitiu uma Carta Encíclica, a Mysterium Fidei. Nessa carta, o Papa fala que Deus está presente de muitos jeitos na Igreja. Em primeiro lugar, Jesus está presente quando a Igreja ora. Em segundo lugar, Ele está presente quando a Igreja presta um serviço de caridade. Em terceiro lugar, Cristo está presente na Igreja quando a Igreja prega. Em quarto lugar, Cristo está presente através dos sacramentos. Mas, de um jeito único e insuperável, Cristo está presente na Eucaristia.

Na Eucaristia Cristo está presente de um jeito pleno, completo. «Quem está presente na Eucaristia é Cristo, corpo, sangue, alma e divindade. Todo Ele está presente na Eucaristia», reforça o Pe. Rodrigo.

Por fim, o padre relembra que no capítulo 6 do Evangelho de S. João, Cristo poderia ter explicado suas palavras de uma maneira diferente, mas, pelo contrário, Ele insistiu, «porque a verdade não depende do tamanho de nosso estômago ou de nossa capacidade para digeri-la. A verdade é tal e qual é. Nós temos que aceitá-la e isto dá todo o sentido a nossa vida cristã».

E o Pe. Rodrigo encerra sua homilia lembrando de uma frase de Feuerbach que dizia que somos aquilo que comemos. Obviamente, Feuerbach era ateu e se referia somente à química dos alimentos, mas o padre observa que se nós comemos o Pão da Eucaristia nós nos convertemos e nos assimilamos a Cristo e, só então, poderemos entrar no Reino dos Céus.

  • O Pe. Rodrigo Hurtado LC, transmite a celebração da Santa Missa ao vivo, todo Domingo, às 18h, através de seu canal do YouTube. Acesse o canal, faça sua inscrição, deixe seu like nos vídeos e ainda compartilhe com seus amigos e sua família.