Em sua homilia desse Domingo, Pe. Rodrigo Hurtado LC reflete sobre como Jesus nos ensina que devemos sim, ser os primeiros, mas a partir do «ranking» do Céu.

A forma de pensar de Jesus é diferente da forma de pensar do mundo. No Evangelho de hoje ouvimos essa frase «Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!» (Marcos 9, 35).

Será que Jesus condena os esforços por querer se sobressair, fazer coisas grandes na vida, por ser o melhor na profissão? Jesus estaria, dessa maneira, fomentando a mediocridade, a omissão, a negligência, o fracasso na vida? 

Muitos pensaram que Jesus queria exatamente isso, como o filósofo alemão, Nietzsche, que enfrentava fortemente a doutrina cristã por efetivamente não ter entendido Jesus. Para Nietzsche, o que tem que prevalecer é a vontade de poder.

Mas, se voltamos à frase de Jesus, percebemos que ela começa dizendo: «Se alguém quiser ser o primeiro». Portanto, Jesus não é contrário à vontade de querer ser o primeiro, ao contrário, Jesus está falando que se você quer ser, tudo bem, então seja o último e sirva a todos.

Você pode e deve buscar ser o primeiro, mas não segundo o ranking do mundo, mas segundo o ranking do Céu. Ser o último, segundo o ranking do mundo e ser o primeiro segundo o ranking do Céu. Jesus não condena o esforçarmos, trabalharmos, mas ele quer que conquistemos o primeiro lugar, não na terra, mas lá no Reino dos Céus.

Dessa maneira, percebemos que há duas formas de se sobressair. A forma de sobressair do mundo e a forma de sobressair do Céu. Pela forma de sobressair do mundo, temos que impor nossa vontade pela força. Nessa dinâmica, um se impõe e outro serve, um domina e os outros são dominados. Um é feliz – se é possível chamar isso de felicidade – e os outros, infelizes. Um sai vencedor e os outros são derrotados.

Podemos ver a aplicação dessa filosofia de Nietzsche na história recente, no nazismo de Hitler, e sabemos como isso termina. Mas, qualquer um de nós, que deseja impor sua vontade, está agindo segundo esse pensamento de Nietzsche e esse é realmente o pensamento de Satanás. 

Hoje vemos, tristemente, muito disso. Muitos movimentos sociais tomam causas que são justas, mas fazem manifestações violentas, quebram lojas, queimam igrejas, pessoas morrem e, depois desse caos, sentam para negociar. Querem uma mudança radical, senão o caos irá voltar. Mas, isso não é diálogo, isso é querer impor. E isso nunca acaba bem.

Pe. Rodrigo, por outro lado, nos mostra qual é o estilo de Jesus, em que, quando alguém chega a ser grande, todos os outros também são elevados, são exaltados. Segundo a mentalidade de Jesus, quando alguém tem sucesso, não é para si mesmo, mas para servir, para ajudar, e os outros triunfam juntamente. No jeito de Jesus, todos triunfam.

No fundo de nosso coração, nós sabemos que essa é a verdadeira grandeza não só no Reino dos Céus, mas também aqui na terra. Basta olharmos para os exemplos de terríveis ditadores, como Stálin, Mao Tsé Tung… e, por outro lado, vermos a Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, São Francisco de Assis.

Como sobressair-se ao modo de Jesus

Jesus não quer que nós fiquemos na mediocridade, na negligência. Ele quer nós sejamos os primeiros, mas segundo o ranking dos céus, ou seja, o o ranking da humildade, do serviço e da entrega.

1) Se alguém lhe serve, seja compreensivo

Como nós tratamos as pessoas que nos servem? Os empregados de nossas empresas, as pessoas que servem em nossa casa? Quando vamos ao supermercado, como tratamos a menina do caixa? Se queremos ser os primeiros, precisamos tratá-los com compreensão e com caridade.

Não temos que pensar apenas em nós, em meus interesses. Coloquemo-nos no lugar da outra pessoa.

2) Quando alguém lhe decepcionar, não julgue, seja caridoso

Como tratamos as pessoas que nos decepcionam? Somos duros? Não queremos nos aproximar com paciência, com humildade e ensiná-las. Muitas vezes, humilhamos as outras pessoas, especialmente porque nos decepcionaram. Se nós queremos ser os primeiros, temos que saber ser compreensivos. Não podemos nos julgar superiores e, portanto, humilhar a outra pessoa.

Lembremos de como Jesus acolheu a mulher pecadora. Ele não dá um sermão, não a julga e só diz para ela não pecar mais. 

3) Quando alguém está em desacordo com você, seja amável, sem desistir

O que sentimos quando alguém está em desacordo conosco? Quero falar, quer me defender, levar para o lado pessoal. O que fazemos quando alguém me contradiz? Você tem que saber escutar, porque até um relógio quebrado marca a hora certa duas vezes por dia. Temos que saber escutar os motivos daquele que estão em desacordo. 

4) Quando alguém lhe corrige, seja alcançável 

Ninguém gosta de correções. Mas, nós todos temos pontos fracos e o problema dos pontos fracos é que, obviamente, são fraquezas e nós não os vemos. Então, quando alguém nos corrigir, temos que acolher, não importando de onde venha essa correção e tente enxergar você mesmo através dos olhos das outras pessoas. 

“Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar e tardio para se irar.”

Tiago 1, 19

«Por isso Deus nos deu dois ouvidos e uma boca, para escutar o dobro do que nós falamos», recorda o Pe. Rodrigo.

Se você praticar as duas primeiras coisas que Tiago diz em sua carta, a terceira chegará sozinha.

5) Quando alguém lhe ferir, seja proativo, não reativo

Quando alguém nos fere, quando alguém nos magoa, quando alguém nos ofende, não podemos responder com a mesma moeda. Aprendemos a viver com caridade, a responder ao mal com o bem.

“A ninguém devolvei mal por mal. Procurai proceder corretamente diante de todas as pessoas. Empreendei todos os esforços para viver em paz com todos. Amados, jamais procurai vingar-vos a vós mesmos, mas entregai a ira a Deus. […] Jamais te entregues ao mal como vencido, mas vence o mal com o bem!”

Romanos 12, 17

6) Quando tratar pessoas menos formadas, seja respeitoso

Quando nós tratamos com pessoas mais humildes, mais simples, que não tiveram as mesmas oportunidades que nós, como nós somos com essas pessoas? 

Paulo sempre se fazia como as outras pessoas, sem se importar qual fosse o nível social dessas pessoas:

“Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns.”

1 Cor 9, 22

Ele se adaptava a todo mundo, porque queria salvá-los. 

Jesus quer que nos sobressaiamos, mas não com a medida do mundo, aquela de Nietzsche, impondo nosso vontade pela força, pela violência. Nós temos que sobressair ao jeito de Jesus.

O padre ensina ainda que Jesus, quando falou essas palavras, obviamente não estava se referindo, por exemplo, ao esporte ou à economia. O esporte é uma exceção, porque é um jogo, que tem regras e limites. Dentro do jogo e seus limites, é lícita a competição. E isso é bom, porque tira de nós o melhor.

A mesma coisa acontece com a economia, pois vivemos num sistema de livre competição. Tudo isso ajuda a tirar dos seres humanos o melhor, pois geramos os melhores serviços, a competição gera menores preços, inovações, mas também tem os limites e regras do mercado, como a honestidade, por exemplo. E, podemos usar o dinheiro ganho para ajudar as outras pessoas.

Por fim, o Pe. Rodrigo termina com uma frase de S. Paulo:

“Todos os que competem nos jogos se submetem a um treinamento rigoroso, e isso, para obter uma coroa que logo se desvanece; no entanto, nós nos dedicamos para ganhar uma coroa que dura eternamente.”

1 Cor 9, 15

Essa é a competição da vida, essa é a verdadeira coroa, a verdadeira medalha que vamos ganhar. Sendo o primeiro de todos, não segundo o ranking do mundo, mas segundo o ranking de Jesus.

  • O padre Rodrigo Hurtado LC transmite a celebração da Santa Missa através de seu canal do YouTube, todo domingo, às 18h. Acesse, inscreva-se no canal, deixe seu like, seu comentário e compartilhe com seus amigos. Baixe também o aplicativo de meditações católicas Seedtime que está em sua nova versão.