Em sua homilia deste segundo domingo da Páscoa, Pe. Rodrigo Hurtado LC nos leva a refletir sobre como Jesus abre as portas que estão fechadas em nossa vida e que nos impedem de sermos verdadeiramente livres.

O texto evangélico traz exatamente esta imagem, os discípulos estão com as portas fechadas, por medo, e Jesus aparece no meio deles. Jesus vem justamente para abrir as portas de nossa vida.

A imagem da porta é uma metáfora que é muito usada na Bíblia. Às vezes, a porta é símbolo de liberdade, em outros momentos, é usada para falar de oportunidades. A porta também pode se referir a salvação, a proteção, assim por diante.

“Eu Sou a porta. Qualquer pessoa que entrar por mim, será salva. Entrará e sairá; e encontrará pastagem.”

(João 10, 9)

Jesus usa a imagem da porta para se referir a si mesmo. Jesus, na ressurreição, de um modo particular, vem a abrir as portas de nossa vida e a mostrar-nos as portas que Ele mesmo quer que nós cruzemos.

Algumas portas são feitas para sair, outras para entrar. Algumas portas são oportunidades em nossa vida e outras são armadilhas. Neste texto do Evangelho que lemos hoje, a porta é a imagem daquilo que aprisiona a nossa vida. Muitas vezes, como aqueles discípulos que estavam com medos dos judeus, não abrimos as portas da nossa vida.

Talvez, as mantenhamos fechadas porque não as reconhecemos, ou porque não estamos preparados para abri-las, ou ainda porque não temos coragem para abri-las. E essas portas fechadas se transformam em prisões e as piores prisões não são físicas, mas mentais. Somos prisioneiros de nossas próprias crenças limitadoras, preconceitos e pensamentos negativos.

Cristo quer abrir essas portas que nos aprisionam e Ele faz isso «chacoalhando nossa vida», diz Pe. Rodrigo. Uma vez Paulo estava na prisão, em Filipos e diz os Atos dos Apóstolos:

“Por volta da meia-noite, Paulo e Silas estavam orando e entoando hinos de louvor a Deus, enquanto os demais presos os ouviam. De repente, aconteceu um terremoto tão violento que os alicerces da prisão foram abalados. No mesmo momento, todas as portas se abriram, e as correntes que prendiam a todos se soltaram.” (Atos 16, 26)

Às vezes, Deus precisa mexer nos alicerces de nossa vida para nos fazer livres. Precisa mexer nas crenças de nossa vida. São essas crises que fazem desmoronar tudo aquilo que pensávamos sobre nós mesmos, sobre a vida, sobre nossos pais, sobre o sucesso ou, até mesmo, sobre Deus.

Jesus quer nos libertar dessas prisões e abrir portas de grandes oportunidades humanas e espirituais.

“Esse mesmo poder que agiu em Cristo, ressuscitando-o dos mortos […] o concedeu à Igreja, que é o seu Corpo.”

(Efésios 1, 19)

O poder que removeu a pedra que cobria a porta do sepulcro de Cristo, está agora à nossa disposição, os que estamos unidos a Cristo. Jesus ressuscitou para nos libertar de nossas prisões.

As portas que Jesus vem abrir

Cristo nos liberta da prisão da aparência

Nós gastamos tempo demais, dinheiro demais, energias demais, tentando conservar nossas aparências. Tentando ser alguém que não somos realmente. Não somos autênticos e isso é muito estressante.

Todo no mundo de hoje parece resumir-se em: Sentir-se bem, parecer bem, ter bens…

O que nos faz cair na prisão da aparência? Duas coisas: o querer agradar a todo mundo e o perfeccionismo. Ambos têm a mesma origem, que é buscar a aceitação das outras pessoas.

Aqui está o importante: Você não precisa da aprovação de ninguém para ser feliz. Tem pessoas que gastam toda a vida tentando agradar os outros, pensando que se conseguirem serão felizes… isso não acontece. Nem agradam a todos, nem são felizes.

Com o perfeccionismo se dá o mesmo. A causa do perfeccionismo é querer ou acreditar que sendo perfeitos, seremos aceitos, seremos amados, seremos valorizados pelos outros.

E o que, portanto, precisamos fazer para sermos livres dessa prisão da aparência? É justamente mudar nosso foco para as coisas de Deus. Não mais para as coisas dos homens, não para o que pensam, sentem ou falam. Quando vivemos para Deus a vida se simplifica. É muito mais fácil. Temos que agradar apenas a um: Deus.

“Andarei em verdadeira liberdade, porquanto tenho buscado os teus preceitos.”

(Salmo 119, 45)

Cristo nos liberta da falta de perdão

Quando não perdoamos ou quando não pedimos perdão vivemos presos da culpa ou da raiva ou de ambos. Temos que sair da prisão da raiva, do ressentimento, da falta de perdão.

Nós podemos até pensar que algumas pessoas não mereçam o perdão, mas o perdão não tem nenhuma relação com o merecimento. Nós não perdoamos uma pessoa porque ela mereça. Até porque, se essa pessoa merecesse o perdão e nós não a perdoássemos, estaríamos cometendo um pecado.

Perdão é viver em paz e continuar a vida sem o lastro do ressentimento. Trata-se de nós, de nossa paz interior.

Temos três razões para sair dessa prisão do ressentimento e da falta de perdão. Primeiro, porque Deus me perdoou e nós nunca precisaremos perdoar ninguém mais do que Deus já nos perdoou.

Em segundo lugar, não perdoar torna a nossa vida miserável. É como beber um veneno que vai matar a pessoa que odiamos. Ou seja, não faz sentido. E mesmo que a pessoa que nos feriu não aceite o perdão, precisamos nos livrar desse ressentimento que só faz mal a nós.

A terceira razão para sair dessa prisão é que precisaremos do perdão no futuro. Nós vamos falhar, vamos pecar, vamos cometer erros e vamos magoar pessoas, inclusive não querendo fazê-lo, porque somos fracos e pecadores.

Se rezamos o Pai Nosso na missa e pedimos para que Deus nos perdoe, assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido, se deixamos de perdoar alguém, melhor é que estejamos seguros de nunca mais cometer nenhum pecado.

Cristo nos liberta da prisão do medo

O medo é o sentimento que mais nos afasta de Deus. O medo sempre está errado. O medo nunca nos permite tomar uma decisão certa. Ele sempre nos leva pelo caminho errado.

O que Jesus mais repete aos apóstolos depois da ressurreição é “Não tenhais medo”.

“Ao entardecer daquele dia, o primeiro da semana, os discípulos estavam reunidos a portas trancadas, por medo das autoridades judaicas. Jesus apareceu, pôs-se no meio deles e disse: “A paz seja convosco!”

(João 20, 19)

O medo sempre fecha as portas de nossa vida. O medo sempre nos aprisiona.

Como abrir todas as portas que aprisionam nossa vida?

Pe. Rodrigo se recorda de que, quando era seminarista em Roma, chegou a conhecer o Cardeal vietanmita Nguyen Van Thuan, que foi prisioneiro do regime comunista de seu país por 13 anos numa cela pequena e úmida, em que tinha que passar a maior parte do tempo com a boca enfiada num pequeno orifício para poder respirar ar puro.

Como Van Thuan venceu a prisão?

Para sermos livres inclusive nas piores circunstâncias o Cardeal nos ensina o segredo. Três coisas que temos que lembrar:

A primeira é que Deus sempre nos ama. O cardeal, em sua prisão, estava muito entristecido por não conseguir exercer seu ministério de bispo, mas então ele se lembrou que não devia se preocupar com as «coisas de Deus», mas com «o Deus das coisas».

Por isso, quando sentimos medo, devemos pensar no amor de Deus. Ele nunca vai deixar de nos amar e seu amor vai expulsar todo o medo.

Em segundo lugar, temos que nos lembrar que Deus tem um plano maravilhoso. Isto é a esperança. S. João Paulo II, no funeral do Cardeal Van Thuan dizia que «sua esperança estava cheia de imortalidade».

Por fim, o cardeal nos ensina que para amar só temos o momento presente. Amar é algo que só podemos fazer no presente. Temos que viver o momento presente e especialmente dedicá-lo a amar. Qualquer outra coisa que fazemos é uma perda de tempo.

Esse é o poder da ressurreição de Cristo. Ele pode transformar tudo, pode abrir todas nossas prisões e pode fazer fecunda nossa vida e pleno nosso coração.

Ao terminar sua homilia, o Pe. Rodrigo recorda uma oração que foi redigida pelo Cardeal Van Thuan.

«Jesus, eu não vou esperar nada; vou viver o momento presente, enchendo-o de amor. A linha reta é feita de milhões de pontinhos unidos uns aos outros.
A minha vida também é feita de milhões de segundos e de minutos unidos uns aos outros. Dispondo perfeitamente cada ponto, a linha será reta. Vivendo com perfeição cada minuto, a vida será santa.

O caminho da esperança é feito de pequenos passos de esperança. A vida de esperança é feita de breves minutos de esperança. Como Tu, Jesus, que sempre fizeste aquilo que agrada ao teu Pai. Quero dizer-te a cada minuto: Jesus, eu amo-te, a minha vida é sempre uma “nova e eterna aliança” contigo. A cada minuto quero cantar com toda a Igreja: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo…»

  • O Pe. Rodrigo Hurtado LC transmite a celebração da Santa Missa aos domingos através de seu canal do YouTube. Acesso o canal, inscreva-se e compartilhe com seus amigos.