No evangelho deste último domingo escutamos uma palavra que por séculos causou verdadeiro pavor em todas as pessoas que a escutavam: Lepra.

E essa doença causava esse verdadeiro pavor por dois motivos. Primeiro, porque as pessoas acreditavam que bastava tocar alguém com lepra, que já se contaminava e, em segundo lugar, porque acreditavam que a lepra acometia uma pessoa como uma forma de castigo por algum pecado.

Hoje em dia, a medicina hoje consegue curar completamente a lepra se ela é detectada há tempo, e nos países desenvolvidos a lepra foi quase totalmente erradicada, mas estamos longe de erradicá-la nos países do terceiro mundo.

Portanto, na época de Jesus, os leproso eram segregados e viviam em nos desertos ou em comunidades próprias para eles, como se fossem leprosários.

Como Jesus se portou diante do leproso

A primeira coisa que chama a atenção no evangelho, é o contraste entre a atitude da lei mosaica (que escutamos na primeira leitura do levítico) e a atitude de Jesus.

Segundo o livro do Levítico, quem era leproso, tinha que se distanciar das pessoas e jamais podia se aproximar, pois era considerado um impuro. Contudo, no caso do evangelho, aquele homem acometido por lepra deve ter ouvido o que se falava de Jesus e, sob pena de ser apedrejado por violar a lei de Moisés, aproximou-se de Jesus.

E nós podemos ver o tamanho da fé daquele homem por suas próprias palavras: “Se queres, podes curar-me”.

A segunda é que tem uma confiança cega no poder de Jesus, “Se queres, podes curar-me”, ou seja, “Senhor, é só você querer, não duvido que você pode curar-me”.

Jesus, independentemente do temor de se contagiar com a lepra, compadece-se daquele homem, toca-o e o cura. A sua compaixão é maior que seu medo da lepra.

O pecado e a lepra espiritual

Existe uma outra dimensão neste evangelho, que precisamos nos aprofundar. A lepra, naquela época, não era apenas uma doença desconhecida e perigosa, era também sinal de algum pecado muito grave. Ou seja, existe na linguagem bíblica um paralelo entre a lepra e o pecado.

Do mesmo jeito que a lepra destrói pouco a pouco a pessoa, apodrecendo em vida o doente, assim também o pecado, vai pouco a pouco destruindo a pessoa mesmo que ela pareça viva.

Do mesmo jeito que a lepra segregava os doentes do convívio humano, o pecado, nos afasta do convívio de Deus e muitas vezes também da convivência humana.

“O homem abusou da sua liberdade, sucumbiu à tentação e cometeu o mal. Conserva o desejo do bem, mas a sua natureza está ferida pelo pecado original. O homem ficou com a inclinação para o mal e sujeito ao erro”

(CIC 1707)

Portanto, nós nascemos com uma desordem interior que nos inclina para o mal, como diz o Catecismo da Igreja Católica.

Qual é o seu maior problema agora mesmo? Financeiro, de saúde, matrimonial, dos filhos?

Na verdade, nosso maior problema somos nós mesmos. Somos nós, que criamos a maior parte de nossos problemas. Como? Pelo modo que nós pensamos. Porque pensando erroneamente, geramos sentimentos errados, tomamos decisões erradas e terminamos cometendo erros que nos fazem sofrer.

“Nem mesmo eu compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. […] O querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. […] Se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei do pecado que reside em mim.”

(Romanos 7, 15)

Não importa se nós não acreditamos nos efeitos do pecado. Como diz São Paulo, o pecado tem sua própria lei na vida espiritual e humana. E como toda lei, não depende de nossas crenças. Ela sempre se cumpre.

Manifestações do pecado

O pecado é abuso das criaturas

É o oposto de Deus e do bem: Tudo o que Deus criou é bom, mas nós usamos do jeito errado. O que Deus criou, usamos pouco, usamos demais, não usamos.

O pecado é o oposto do amor

Pecamos quando deixamos de amar. Jesus resume toda sua mensagem na mensagem do amor.

O pecado sempre tem como centro nós mesmos

É sempre centrado em mim e isso distorce tudo.

O pecado implica uma desconfiança em Deus

Duvido do amor de Deus, de sua compaixão, de sua sabedoria, plano, etc. Exemplo de Adão e Eva que desconfiaram de Deus.

Consequências do Pecado

O pecado destrói nosso relacionamento com Deus

“Vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus, vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça”

(Isaías 59, 2)

O pecado produz a morte silenciosa

Não estamos falando de morte física, mesmo que isso também pode acontecer às vezes como a última consequência. Mas um monte de coisas morrem dentro de nós quando pecamos.

Meu pecado pode ser pessoal, mas nunca é privado. Pode ser um segredo, mas as consequências terminam sempre sendo públicas. O pecado pode ser oculto, mas pouco a pouco, o pecado termina ficando a vista de todos.

“Pecastes contra o Senhor; e sabei que o vosso pecado vos há de achar.”

(Números 32, 23)

Conclusão

Da mesma forma que Jesus curou aquele leproso, Jesus também pode curar a nossa lepra do pecado. Ele nos redimiu de nosso pecado e nos deixou o sacramento da confissão para que possamos, com a confiança daquele homem enfermo, chegar diante do altar de Nosso Senhor e confiar que, quando entregamos a Ele nossa vida, Ele irá nos curar.


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