Em sua homilia deste primeiro domingo da Quaresma, Pe. Rodrigo Hurtado LC, ao meditar sobre o trecho que relata as tentações de Jesus no deserto, nos recorda sobre a maneira como somos tentados e o que podemos fazer para não cometer um pecado.

O texto do evangelho deste domingo, nos recorda o Pe. Rodrigo, começa com uma frase interessante:

“Naquele tempo, Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão, e, no deserto, ele era guiado pelo Espírito. Ali foi tentado pelo diabo durante quarenta dias.” (Lucas 4, 1)

Nessa frase inicial do evangelho encontramos três personagens: O Espírito Santo nos guiando, como guiou a vida de Jesus; o demônio nos tentando, como tentou também a Jesus; e nós mesmos, no meio dos dois.

Sem dúvida, um extraordinário resumo da visão cristã da vida. Um caminho desconhecido na maior parte, uma aventura, mas na qual seremos constantemente provados e influenciados por duas forças: O Espírito Santo e o Demônio.

Você deve ter escutado aquela expressão: “Deus te ama e tem um plano maravilhoso para sua vida”. Pois bem, é verdade também o contrário: “O demônio te odeia e tem um plano horrível para sua vida”.

São Paulo também era consciente dessa luta, por isso, ele fala abertamente desse combate espiritual como podemos ver na carta aos Efésios.

“Vesti a armadura de Deus, a fim de que possais resistir firmemente no dia mau e, havendo batalhado até o final, permanecereis inabaláveis, sem retroceder.” (Efésios 6, 13)

Padre Rodrigo destaca duas frases deste texto. Na primeira, “havendo batalhado até o final”, ele recorda que para chegarmos ao Reino dos Céus, temos que estar atentos pois a vida é assim, existem armadilhas e provas, e viver uma vida cristã bem sucedida, significa aprender a enfrentar essas provas e vencê-las.

A segunda frase, “no dia mau”, nos faz perceber que a batalha não ocorre todos os dias. Há dias de paz e há dias de batalha. O importante é estarmos preparados e sabermos combater, quando chega o “dia mau”, ou seja, o dia da tentação.

Como a tentação se apresenta?

A tentação vem sempre disfarçada de bem, se apresenta como algo justo. O demônio joga conosco, tenta nos enganar, como numa pescaria, em que ele usa uma isca que parece algo natural, mas está cheia de anzóis.
No evangelho de hoje, por exemplo, vemos que o demônio até usa a bíblia para tentar a Jesus. O demônio conhece muito bem as escrituras e usa-as como argumento para seduzir e confundir.

Por que Deus permite a Tentação?

Porque vencendo a tentação nos fortalecemos, amadurecemos e mostramos uma opção profunda e verdadeira por Deus.

O apóstolo Tiago dizia:

“Feliz a pessoa que persevera na provação, porquanto, após ter sido aprovada, receberá o prêmio da coroa da vida, que Deus prometeu aos que o amam.”

(Tiago 1, 12)

Deus quer nos dar a vida eterna, mas não como uma obrigação, temos que escolher a vida, temos que optar por Deus e isso só é possível se tivermos a possibilidade de optar pelo contrário. Por isso, a tentação e o tentador são necessários para que nossa opção seja verdadeiramente livre.

Mas sendo isso verdade, também é que, na tentação, nunca estamos sozinhos. Na primeira carta aos Coríntios, S. Paulo nos ensina:

“Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além do que podeis resistir.” (1 Coríntios 10, 13)

Como reconhecer a tentação?

Deus mesmo nos ensinou a reconhecer a tentação. Ele veio, quis ser tentado e vencer a tentação precisamente para que aprendamos dele a arte de reconhecer e vencer a tentação.

Mas existem alguns sinais pelos quais podemos identificar a tentação:

  • A tentação sempre busca um benefício imediato
  • A tentação responde a um desejo pessoal
  • A tentação atua sempre na escuridão
  • A tentação gera confusão e inquietação

Quais são os tipos de tentações?

Padre Rodrigo nos ensina que nós temos uma vantagem: o demônio pode ser muito inteligente e ter muita experiência, mas ele não é original. O demônio não tem inventado nenhuma nova tentação nos últimos 5 mil anos.

Talvez um dos textos bíblicos mais claros, seja o que o apóstolo João nos diz na sua primeira carta:

“Tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não vem do Pai, mas sim do mundo.”

(1 João 2, 16)

Vejamos como as tentações que Jesus sofreu no deserto são as mesmas descritas por S. João:

“Se tu és o Filho de Deus, ordena que esta pedra se transforme em pão”: É o que João chama “Concupiscência da carne”. A tentação da carne é a tentação de “sentir-se bem”, de “sentir gostoso”. “Se sinto vontade, prazer, eu faço”.

“Tudo isso te darei se, prostrado, me adorares”. É o que João chama de “concupiscência dos olhos”. É a tentação de querer possuir coisas, ambicionar bens, todos os bens do mundo. Possuir nos dá uma sensação de controle, de poder, de status. João chama de “concupiscência dos olhos” porque nessa tentação caímos pelos olhos, pela comparação com os outros, pela inveja, pela ambição.

“Se tu és o Filho de Deus, joga-te daqui para baixo. Pois está escrito: ‘Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, e com as mãos eles te sustentarão, para que jamais tropeces em pedra alguma”’. O que João chama de “soberba da vida”. É a tentação da vaidade, que é filha da soberba. É a tentação de “ser”, isto ou aquilo diante dos olhos do mundo. Que todos vejam quem sou eu.

Quais são os passos da tentação?

A tentação tem quatro passos. No primeiro passo, o demônio identifica um desejo que já existe no coração humano. Muitas vezes pensamos que as tentações vêm de fora, mas elas nascem dentro de nós e na maioria das vezes são desejos naturais e bons. O problema é o pecado original, que mora dentro de nós e que causou um desequilíbrio interior desses desejos.

O segundo passo é quando o demônio tenta fazer-nos duvidar de Deus e de suas promessas. Como aconteceu na tentação de Eva no paraíso. O demônio sempre mente. Ele sempre tenta fazer com que nós desconfiemos de Deus.

O terceiro passo é a deliberação e decisão. Esse é o passo chave. O demônio não pode fazer nada contra nós, não pode nos tocar sequer, porque Deus não lhe permite. Ele só pode tentar. Mas nós podemos escutar seus argumentos e optar pelo pecado deliberadamente.

O quarto e definitivo passo é colocar o pecado em prática. É o momento em que executamos o pecado.

De todos esses passos o mais importante é a decisão. Se falta a decisão, não há pecado, pode ser imperfeição, mas já não é pecado. Se faltar a execução o pecado pode ser atenuado, mas já existe pecado.

Como vencer a tentação?

Jesus, no Evangelho de hoje, nos dá também 4 conselhos. O primeiro conselho é preparar-se com a oração. Jesus se prepara para a tentação com 40 dias de jejum e oração. Jesus sabe que todos seremos tentados, portanto, todos precisamos estar preparados para o combate.

“Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito, com certeza, está preparado, mas a carne é fraca”.

(Mateus 26, 41)

O segundo conselho de Jesus é ler e estudar constantemente a Bíblia. Vemos, no Evangelho de hoje, que a cada tentação do demônio Jesus responde sempre com um texto bíblico. A Palavra de Deus é o alimento de Jesus, por isso, é tão importante para todo cristão vir à missa, escutar as leituras e a homilia, conhecer Jesus através das Escrituras.

O terceiro conselho de Nosso Senhor é não dialogar com a tentação. Vemos que Jesus, no texto do Evangelho de hoje, corta de imediato o diálogo com a tentação. Ele não faz como Eva, no Paraíso, que dialoga com o demônio.

Não dialogue com a tentação – recorda o Padre. Fuja dela. Saiba dizer “não” com prontidão e decisão.

O quarto conselho de Jesus é para que estejamos sempre vigilantes. O demônio não descansará até conseguir seu objetivo. Por isso, também nós não podemos descansar. Já citamos também aquele conselho de Cristo. Vigiai e orai. Oração, mas também sempre vigilantes e nunca descansar.

É preciso acrescentar aqui que para estar sempre preparados, temos que fazer sacrifício. Por isso, Jesus se afastou não apenas para orar, também para jejuar. O sacrifício mantém a alma vigilante, preserva a capacidade de responder com energia e rapidez à tentação.

Por isso, a Igreja sempre aconselhou para a Quaresma a prática da oração, mas junto com o jejum e a esmola. Contra o desejo de prazer, o jejum. Contra o desejo de possuir, a esmola. Contra a soberba, a oração.

Por fim, Pe. Rodrigo encerrou sua homilia com a frase de S. Paulo:

“Vigiai, permanecei firmes na fé, portai-vos corajosamente, sede fortes!”

(1 Coríntios 16, 13)
  • Pe Rodrigo Hurtado LC transmite a celebração da Santa Missa aos Domingos, às 18h, em seu canal do Youtube. Assista no link abaixo, deixe seu comentário e compartilhe com as pessoas a quem você ama.