O escritor russo Fyodor Dostoyevsky certa vez lançou uma frase que tem um misto de afirmação e profecia. Ele escreveu em sua obra O Idiota que “A Beleza salvará o mundo”.

Dostoyevsky não está, de forma alguma, errado e essa frase resume toda uma teologia sobre a origem do que é Belo e nos faz recordar algo que o mundo vem perdendo desde o advento da Modernidade.

O que pode haver de mais belo senão o próprio Cristo? Poderíamos nos perguntar. De certa maneira, Cristo é o paradigma da Beleza, como diz o salmista, “o mais belo dos filhos dos homens” (Sl 45, 3). Beleza esta que, aliás, se revela de maneira mais forte em seu rosto sofrido na cruz, pois ali Ele mostra o amor infinito de Deus. A Beleza, que é Cristo, salva o mundo.

Portanto, pretender relativizar a beleza, como quiseram os artistas modernos, é algo que não tem base na realidade. A beleza é um valor, por assim dizer, que tem sim uma referência real e absoluta, Cristo.

São João Paulo II, em sua Carta aos Artistas de 1999, já nos alertava que “Em certo sentido, a beleza é a expressão visível do bem, do mesmo modo que o bem é a condição metafísica da beleza” (Carta aos Artistas, 3). Portanto, não há como se chamar de belo aquilo que não é belo e que não reflete em si o bem.

Uma manifestação da Beleza

A beleza se manifesta de muitas maneiras, especialmente na arte, e uma dessas manifestações se dá na música. O escritor J. R. R. Tolkien, em sua obra O Silmarillion, fazendo uma alegoria de como Deus havia criado o mundo, não poupa palavras em imaginar que Ele assim o fez através de uma canção.

“Eru”, o deus da obra de Tolkien – que era católico fiel – inicia uma música em que cada um de seus auxiliares começa a executar juntamente com ele, de maneira que o mundo imaginário do escritor inglês vai sendo criado à medida que as notas vão sendo executadas. Até mesmo a figura do mal na obra de Tolkien, ao tentar deformar a criação, o faz criando dissonâncias naquela melodia original.

Que belo pensamento, imaginar que Nosso Deus, ao criar o mundo, não simplesmente disse o “Faça-se”, mas enquanto o Espírito pairava sobre as águas, cantou aquele primeiro “faça-se”, criando a luz e, depois, tudo o mais que foi criado (Gn 1, 1-2). É belo pensar que Deus ainda canta sua criação até hoje, neste exato momento.

E há um momento em que o canto deixa de ser solo e passa a ser em um conjunto trinitário, quando Ele diza si mesmo, Santíssima Trindade: façamos o homem à nossa imagem e semelhança (Gn 1, 26). Que sinfonia mais bela! Nem Bach ou Mozart, em seus dias mais inspirados, seriam capazes de criar tal partitura.

A Música Sacra como expressão da Beleza

Agora, vamos voltar nossa atenção à música que, inspirada por Deus, nos eleva a Ele mesmo. Que tamanho tesouro tem a Igreja com sua música inspirada ao longo dos séculos!

Desde o canto gregoriano, passando pela polifonia clássica e chegando à música sacra, quantas melodias marcaram nossa vida desde a infância? Quantas canções permanecem através dos tempos, sendo ainda inspiração para a meditação e para o diálogo mais profundo com Deus?

O próprio Papa São João Paulo II recorda isso em um parágrafo que precisamos reproduzí-lo na íntegra: “A Igreja tem igualmente necessidade dos músicos. Quantas composições sacras foram elaboradas, ao longo dos séculos, por pessoas profundamente imbuídas pelo sentido do mistério! Crentes sem número alimentaram a sua fé com as melodias nascidas do coração de outros crentes, que se tornaram parte da Liturgia ou pelo menos uma ajuda muito válida para a sua decorosa realização. No cântico, a fé é sentida como uma exuberância de alegria, de amor, de segura esperança da intervenção salvífica de Deus” (Carta aos Artistas, 12).

Por fim, recordamos ainda as palavras daquele pontífice ao terminar sua carta:

A beleza é chave do mistério e apelo ao transcendente. É convite a saborear a vida e a sonhar o futuro. Por isso, a beleza das coisas criadas não pode saciar, e suscita aquela arcana saudade de Deus que um enamorado do belo, como S. Agostinho, soube interpretar com expressões incomparáveis: «Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei!»

Aproveitamos para sugerir que você medite na beleza da música sacra em nosso aplicativo de meditação Seedtime, nele você encontra muitas belas canções para lhe ajudar a dialogar com Deus, como, por exemplo, as canções da Fundación Canto Católico: https://seedtime.app/serie/canto-catolico