Em sua homilia deste 6° domingo do tempo comum, o Pe. Rodrigo medita sobre o Evangelho que está em Mateus, capítulo 5, versículos de 17 a 37 e nos ajuda a identificar as mentiras que nos são apresentadas pela cultura moderna e também como podemos vencer essas armadilhas para poder chegar à perfeição que Jesus nos pede.

O Evangelho desse foi um dos discursos mais polêmicos de Jesus. Diante dos fariseus e mestres da lei, Ele parece corrigir a Lei de Moisés, que era a coisa mais sagrada que os judeus tinham. E Jesus faz isso por dois motivos:

1. O sistema de valores do mundo corrói a verdade

A cultura do mundo, o sistema de valores do mundo, nossas próprias tendências vão desgastando nossa força de vontade e terminam por nos convencer que “não é para tanto”, “não temos que ser fanáticos”, “Deus é bom e Ele deve estar muito contente com os dízimos e sacrifícios que oferecemos.”

“Não há nada mais enganoso e irremediável do que o coração humano, e sua doença é incurável.”

(Jeremias 17, 9)

A doença da que fala a Bíblia é o pecado original. Esse texto de Jeremias é totalmente contra-cultural. O mundo hoje diz: “Confia no teu coração”; “Segue teu coração”; “A resposta está dentro de ti” ou “Escute sua voz interior.” Bom, a verdade é que a gente precisa discernir.

2. Para entrar no céu temos que ser perfeitos

Jesus sabe que nosso destino é o céu. Jesus quer que todos nós cheguemos ao céu, mas o céu é o lugar onde habita Deus, e Deus é perfeito. Ninguém que não seja perfeito pode entrar no reino dos céus.

Se Deus deixasse entrar no céu pessoas imperfeitas, com rancores no coração, com ressentimentos, com invejas, com orgulho, rapidamente no céu começaria a ter conflitos, dificuldades e brigas. O céu se tornaria a terra. Não dá.

Para entrar no céu, temos que ser perfeitos. A medida que Deus usará para medir nossa perfeição, não é a medida do vizinho, da opinião pública, do que pensa a maioria…

Como a cultura moderna nos induz ao autoengano

Gostaria de dar alguns exemplos de mentiras da cultura moderna. Nós, do mesmo jeito que os fariseus da época de Jesus, temos perdido a percepção da vontade de Deus. Temos domesticado os mandamentos e a exigência de ser cristão.

1. Quando pensa que tudo o que possui, você ganhou e merece

Admiramos a pessoa que conseguiu sair da pobreza e se tornar milionário. É o grande ídolo da cultura contemporânea. Admiramos, porque achamos que tudo é mérito dela. Nós mesmos, o que conseguimos com nosso trabalho, achamos que é devido a nosso trabalho, esforço e mérito. 

A realidade é que essa pessoa não fez tudo aquilo por ele mesmo. Deus lhe deu a inteligência, a capacidade, a personalidade, a perseverança. Deus lhe deu as ideias de negócio e Deus lhe deu os relacionamentos e as oportunidades.

“Meus amados irmãos, não vos permitais ser enganados. Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai […] De acordo com a sua vontade”

(Tiago 1, 16) 

2. Quando acha que ser uma pessoa religiosa basta

Isto é muito comum!! É para nós que assistimos à missa todo domingo ou todo dia, participamos em grupos de oração, assistimos vídeos no youtube sobre temas religiosos ou pregações, fazemos novenas ou escutamos meditações.

Nada disso realmente agrada a Deus se não levamos à prática, se não colocamos à obra, se o contato com a Palavra de Deus não muda nossa vida. Jesus diria “a palavra não chegou a dar fruto”. Somos árvores secas, não importa quanta santidade você acha que tenha.

3. Quando acha que é maduro, mas não controla suas palavras

“Se alguém se considera religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo. Sua espiritualidade não tem valor real algum!”

(Tiago 1, 26)

O que dizemos é o teste de nossa maturidade. Do mesmo jeito como os doutores pedem que você abra a boca para examinar sua língua e, através dela, determinam a sua saúde… assim também, por nossa língua, Deus pode saber nossa saúde espiritual e nossa maturidade.

4. Quando assume que seu ponto de vista é o ponto de vista de Deus

Quando pensa que sua opinião é simplesmente a vontade de Deus e todo o resto do mundo está errado, você está se enganando. Quando acha que sua perspectiva, sua opinião política, sua opinião teológica e seu discernimento é simplesmente o pensamento de Deus, você está profundamente enganado.

“Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, e os vossos caminhos não são os meus caminhos!” diz o Senhor. Assim como os céus são mais altos do que a terra, também os meus caminhos são mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos.”

(Isaías 55, 8)

5. Quando você acha que pode julgar os outros

Em muitas ocasiões Jesus disse que não devemos julgar os outros. Que julgar é um pecado, porque ninguém tem o ponto de vista pleno para julgar os outros, só Deus.

Não temos todos os elementos para poder julgar as outras pessoas. Isso só Deus pode fazer com justiça. Quando alguém nos decepciona, o rotulamos e o colocamos em nossa lista negra. Isso é julgar!

6. Quando pensa que as más amizades não vão lhe influenciar

Isto vale para os adolescentes, mas também para os adultos. O ambiente em que nos movemos influencia muito nossa vida.

“Não vos enganeis! “As más companhias corrompem os bons costumes”.

(1 Coríntios 15, 33)

7. Quando pensa que pode pecar sem consequências

Nós temos a ilusão de pensar que se ninguém soube de nosso pecado, nunca terá consequências. Mas Deus diz, isso é um grande engano. Nós sempre, sempre colhemos aquilo que semeamos.

É uma lei espiritual. O que fazemos a outros ou contra Deus, sempre volta para nós. Você engana outras pessoas? Será um dia enganado. Você critica outras pessoas? Será criticado por elas. Você rejeita ou humilha outras pessoas, será rejeitado e humilhado por outras pessoas.

Conclusão

Peça a Deus sempre a sua luz e sua clareza. O santo Jó rezava desta maneira: “Ensina-me a compreender o que não posso ver.” (Jó 34, 32) Essa é uma bela oração que deveríamos rezar todos os dias.

Peça ajuda a um diretor espiritual, a um irmão, a um conselheiro, a seu grupo de oração. Deus colocou essas pessoas na sua vida para acompanhá-lo e ajudá-lo. Não somos bons como juízes de nós mesmos. Por isso, é bom ter alguém em quem confiar e pedir luz e orientação. Que seja alguém de Deus.

Peça ajuda a Jesus para mudar. Se não estamos no caminho certo, peçamos a Jesus que nos ajude a voltar ao caminho de Deus. Não queremos nos perder, queremos chegar ao céu, não importa o que isso custar.