Nessa quinta-feira, o convidado do podcast Café com Fé o empresário Jaime Lorandi, que vem falar conosco sobre como construir um paraíso de solidariedade, ou seja, como fazer da nossa sociedade aquela civilização do amor da qual falava João Paulo II.

Jaime, que é Vice-Presidente da CIERGS e da ADCE RS, foi professor de Empreendedorismo Cristão na Universidade de Caxias do Sul, é também autor do livro Paraíso Solidário, lançando pela Quatrilho Editorial, e ainda consegue se dedicar ao mestrado em Teologia na PUC do Rio Grande do Sul. 

O empresário agradece a Deus por ter tido a inspiração para escrever o livro Paraíso Solidário. Nele, Jaime fala sobre como ser feliz nessa vida, «construindo algo que faz parte dos nossos sonhos, mas dando um caminho. Esse caminho é um caminho de valores».

Lorandi comenta que o fracasso também faz parte da vida do empresário e o que se deve fazer é nunca culpar os outros, pois os sucessos de cada um são formados pela somatória dos sucessos e também dos fracassos. «Se temos uma vida de sucesso é porque o número de vitórias foi muito maior que o número de derrotas», comenta.

O entrevistado conta que começou com sua esposa, criando uma pequena empresa de plásticos no porão da casa de seus pais e hoje conta com 120 funcionários em uma indústria que trabalha 24h por dia. Contudo, Jaime também conta que, hoje, os fundadores fazem parte de um conselho de administração, pois «não podemos ser escravos da cria».

Com muita simpatia, Jaime relata sua experiência pessoal de ter a esposa como sócia. Ele brinca que acorda pela manhã com a sócia ao lado e passa todo o decorrer do dia com ela, e agradece a Deus por serem um casal muito feliz, reconhecendo que o matrimônio consolidou muito o sucesso empresarial. Porém, também ensina que o importante é ter o discernimento de saber a que hora eles estão se relacionando como sócios e a que hora estão conversando como marido e mulher ou como pais.

Jaime reforça que um ponto muito importante em sua vida foi que, como católicos, eles sempre colocaram nas mãos de Deus toda as iniciativas. A fé ajudou a despertar a consciência da missão de pais e de esposos. Essa vida de fé levou o casal a dar cursos de noivos em sua paróquia. No início, eles pensaram que seria só uma vez, mas já se somam 25 anos falando de seu amor aos noivos de sua cidade. 

«Quando ficamos responsáveis por ensinar os outros, acabamos sendo os melhores alunos» – ilustra o professor na UCS da disciplina de Empreendedorismo Cristão, que é a matéria que traz a prática os valores cristãos no mundo empresarial. Daí surgiu a ideia de escrever o livro Paraíso Solidário que trata da construção da «Civilização do Amor», termo muito usado pelo Papa João Paulo II.

Jaime se debruçou a estudar a figura do personagem do Evangelho, Zaqueu. Para que suas percepções não ficassem somente na esfera da opinião, mas realmente pudesse ser um estudo científico, sentiu a inspiração de fazer o mestrado na PUCRS. Agora que já está na fase de elaboração de sua dissertação, realça que a figura de Zaqueu pode ser uma inspiração para os dias de hoje, «uma maneira de ajudar os pobres e salvar os ricos». Aquele homem, salvo por Cristo, pode ser um exemplo para pessoas ricas, porque ele era rico e era uma autoridade pública, um cobrador de impostos. 

Na área empresarial, Jaime comenta que existe um conceito de que o empresário é aquele que, com seu trabalho, visa somente o lucro. Ele fala de conceito, porque muitas pessoas praticam isso em seu cotidiano. Existem muitos estudos que indicam que o objetivo de empresa é justamente maximizar o lucro de seus acionistas. Por outro lado, nós também temos os empresários humanistas que não fazem da sua vida um ganho de dinheiro, mas a realização de um sonho para o bem da sociedade. «Têm muitos empresários que também são assim». «Eles não visam especificamente o lucro, mas precisam, porque o lucro é o primeiro indicador da atividade econômica». 

«Quando o empresário faz do lucro um meio para promover um ideal humano ele está sendo um capitalista humanista», sublinha o entrevistado.

A meritocracia, no entendimento de Jaime, tem um lado positivo, em que a pessoa dá o melhor que pode. Mas, pode ser uma armadilha, em que a pessoa dá tudo o que pode para ganhar mais. A pessoa perde a noção de que tem uma vida social e passa a viver do trabalho. É muito importante para um líder empresarial, ter um equilíbrio.

«O trabalho é a expressão da dignidade humana, quando a pessoa está sendo útil à humanidade através do seu trabalho. A meritocracia anima as pessoas a fazerem isso, mas ela também pode escravizar, então tem que haver um equilíbrio».  

«Empresário não é profissão, é vocação», afirma. «O empreendedorismo envolve uma série de conhecimentos pessoais e parte é da própria natureza da pessoa, e parte se adquire aprendendo na vida». O primeiro passo para a pessoa empreender é ter o sonho de ser dono do próprio negócio. O segundo ponto a ser analisado é o que eu vou fazer que o mercado aceita. É preciso ter capacidade de administração financeira também, e ter capacidade competitiva. «Queira ou não queira, qualquer espécie de negócio tem concorrentes e a concorrência é saudável, porque exige que empreendedor faça produtos e serviços melhores, mais bonitos e mais baratos».

Paraíso Solidário

«A distribuição solidária da riqueza, a justiça econômica não é a igualdade econômica», diz Jaime. «A igualdade econômica não é justa porque temos necessidades diferentes». Um trabalhador solteiro, tem uma determinada necessidade, um trabalhador casado tem outras necessidades. Um salário justo não é aquele salário que vai satisfazer tudo o que pessoa quer. Além disso, tem que se levar em consideração a capacidade produtiva do próprio país.

A solideriedade tem varios compostos. Primeiro é um ato de amor. A caridade, ou solidariedade, é dar ao outro aquilo que é meu e que ele precisa, e faço isso por liberdade e não por imposição. A caridade é um ato livre de um coração que ama. Já a justiça, é dar ao outro aquilo que é dele.

«Nenhuma pessoa pode dizer que é solidária por cumprir a lei». No nosso dia a dia temos que ser justos e solidários. «A justiça é um ato de lei, mas a solidariedade tem que ser um ato pessoal, que amo outra pessoa, que ajudo-a com minhas coisas e faço isso com liberdade».

Valores

«Estamos muito falhos na constituição de cidadãos com valores… Nós só conseguimos construir um paraíso solidário, um mundo mais justo e mais fraterno se nós formos éticos. Ninguém pode ensinar ética falando bonito mas não fazendo aquilo que ensina».

Jaime acredita que uma das coisas importantes que está faltando hoje é a educação sobre valores. «Esses valores não devem ser ensinados só nas famílias, mas deve ser nas escolas, nas empresas, na sociedade em geral». «Para mim, o melhor conjunto ético que nós possuímos é todos os valores ensinados por Jesus Cristo, onde a mais brilhante regra ética é: amai ao próximo como a ti mesmo».

«Aí sim vamos formar bons líderes empresariais, bons líderes políticos, bons líderes sociais, religiosos, mas também teremos bons liderados. Não adianta só formar o líder, tem que formar o liderado também. Para mim, a educação sobre a ética é uma das maiores carências que temos hoje na sociedade brasileira, para construir um paraíso» 

  • O podcast Café com Fé é transmitido ao vivo, toda quinta-feira, através do Canal do YouTube do Instituto Católico de Liderança, pelo Instagram @liderescatolicosbr e pode também ser ouvido no aplicativo Seedtime.